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Francisco viaja ao Panamá em plena onda migratória na América Latina

23/01/2019 17h19

Panamá, 23 Jan 2019 (AFP) - O papa Francisco chegará ao Panamá nesta quarta-feira (23) para se encontrar com os jovens católicos, em meio à maior onda migratória na América Latina forçada pela violência e pelas crises políticas e econômicas.

O pontífice abrirá um parênteses na chuva de escândalos de abusos sexuais que sacodem a Igreja Católica para liderar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Antes de embarcar no avião, o pontífice argentino de 82 anos se reuniu com oito jovens refugiados.

"É o medo que nos enlouquece", comentou Francisco, respondendo a um jornalista que qualificou de "loucura" a promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de construir um muro na fronteira com o México.

Milhares de peregrinos, cobertos por bandeiras de seus respectivos países, invadiram a Cidade do Panamá. "Queríamos (...) que existissem mais fronteiras de amor, paz, amizade. O papa Francisco" quer "que, ao invés de criar muros, abramos caminhos", declarou à AFP Carlos Gil, um jovem salvadorenho que aguarda o papa.

"O Santo Padre sempre está apoiando os países em crise (...) Não estamos sozinhos", expressou a nicaraguense Wendy Florez.

A viagem de Francisco, que chegará no Aeroporto Internacional de Tocumen nesta quarta-feira às 16h30 locais (19h30 de Brasília), coincide com a maior onda migratória já registrada na América Latina.

Hondurenhos, guatemaltecos, salvadorenhos, nicaraguenses e venezuelanos atravessam fronteiras diariamente em busca de oportunidades.

Da América Central, enormes caravanas que fogem da violência de gangues e dos conflitos políticos se dirigem aos Estados Unidos.

E os venezuelanos escapam de uma destrutiva crise econômica, com hiperinflação e escassez de alimentos e remédios. A ONU teme que, no final do ano, haja 5,3 milhões de "refugiados" deste país.

No Panamá, o frei venezuelano Edwin Fernández espera que a mensagem do papa ajude "na situação terrível pela qual estamos passando".

Francisco, que anunciou que em novembro irá ao Japão, permanecerá cinco dias no Panamá.

- 'Um bálsamo' -O arcebispo do Panamá, José Domingo Ulloa, também chamou a atenção sobre a "resposta nula" dos governos diante dos problemas sociais que envolvem os jovens: "Lançam-nos a colocar suas esperanças em outros países, expondo-os ao narcotráfico, ao tráfico de pessoas, ao crime e tanto outros males".

Por isso, "ansiamos" que esta visita "seja um bálsamo para a difícil situação com a qual convivem" muitos jovens, expressou Ulloa diante da multidão no Campo Santa María la Antigua do passeio marítimo da Cidade do Panamá.

A mensagem de alívio não será exclusivamente para os jovens, mas também para a própria Igreja.

Francisco retorna à América Latina um ano depois de sua visita ao Chile, marcada por protestos e escândalos de abusos sexuais de padres a menores de idade e seu acobertamento pela cúpula eclesiástica.

O tema "gera muita atenção na Igreja", afirmou o diretor de imprensa do Vaticano, Alessandro Gisotti, apesar de ter assegurado que o papa "não programou um encontro com vítimas" de abusos no istmo.

Milhares lhe receberão em um percurso de 29 quilômetros em um automóvel entre o aeroporto e a nunciatura apostólica, onde ficará hospedado. Embarcará no papamóvel em um conhecido hospital.

Durante a sua estadia, Francisco visitará um centro de detenção juvenil e tem previsto um encontro com pessoas com aids em um centro de assistência.

Além disso, prevê se reunir com outros 70 bispos da América Central.

"O papa quer levar consolo e esperança onde houver dor e sofrimento", assinalou Gisotti.

- Contra a xenofobia -Ao menos sete presidentes irão no domingo à última missa do papa na JMJ: Jimmy Morales (Guatemala), Juan Orlando Hernández (Honduras), Salvador Sánchez Cerén (El Salvador), Carlos Alvarado (Costa Rica), Iván Duque (Colômbia) e Marcelo Rebelo de Sousa (Portugal), além do anfitrião Juan Carlos Varela.

E sobressaem as ausências dos presidentes de Nicarágua, Daniel Ortega, e Venezuela, Nicolás Maduro, com os quais a Igreja Católica mantém relações tensas.

A missa final ocorrerá nos arredores da capital panamenha, onde foi erguido um grande palanque para que, ao longo de quase três quilômetros, os presentes possam acompanhar a intervenção do pontífice.

Um enorme mural contra a xenofobia e o racismo, em forma de vitral, irá decorar o altar.

A grande festa da juventude católica latino-americana custará 54 milhões de dólares, em parte dado por patrocinadores e doadores. O governo assegura, por sua vez, que terá um impacto direto de 388 milhões de dólares sobre a economia.