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Novo dia de manifestações dos 'coletes amarelos' na França

02/02/2019 20h11

Paris, 2 Fev 2019 (AFP) - Os "coletes amarelos" voltaram às ruas neste sábado (2) para o décimo segundo dia de manifestações em toda a França, com destaque para uma marcha em Paris contra a violência policial, que terminou com novos incidentes.

Uma "grande marcha dos feridos" acontecia na capital francesa, dois meses e meio após o início desse movimento sem precedentes contra a política social e fiscal do governo de Emmanuel Macron.

Os manifestantes protestavam também contra o uso pela polícia de balas de borracha (LBD, na sigla em francês), que causaram vários ferimentos graves.

Pouco antes do meio-dia, 13.800 "coletes amarelos" estavam reunidos no leste de Paris, de acordo com um balanço realizado pelo escritório Occurence para um grupo de meios de comunicação. Segundo a prefeitura parisiense, o número de manifestantes seria de 10.500.

No sábado anterior, as autoridades contaram 4.000 pessoas na manifestação.

No total, 58.600 pessoas manifestaram-se em todo o país, segundo o ministério do Interior, menos que as 69.000 do sábado anterior.

Estas cifras são questionadas pelos "coletes amarelos", que acusam o governo de manipulação.

Quando os manifestantes chegaram ao destino da manifestação, em Paris, na Praça da República, foram registrados alguns incidentes com a Polícia, constatou a AFP.

Segundo um grupo autodenominado "Desarmémosles", 20 pessoas sofreram ferimentos nos olhos desde 17 de novembro pelo uso das LBD. Os "coletes amarelos" também protestavam contra o uso de bombas de efeito moral.

"É intolerante, inaceitável. São feridas que mutilam, que destroem vidas, apesar de sermos pacifistas" explicou Antonio, um dos organizadores da marcha de Paris, que se apresentou também como vítima de uma bomba de efeito moral.

As armas com projéteis de borracha já foram usadas mais de 9.000 vezes desde que começaram os protestos e seu uso em manifestantes deixou vários feridos graves, inclusive Jérôme Rodrigues, membro de destaque dos "coletes amarelos".

Rodrigues era um dos manifestantes que liderava a marcha neste sábado, e foi ovacionado ao ser reconhecido na multidão.

O Conselho de Estado, a máxima jurisdição administrativa francesa, decidiu na sexta-feira que o uso de armas que lançam projéteis de borracha em manifestantes é legal.

- 'Abusos' -Em resposta, foi organizada uma convocação pelas redes sociais para que o novo protesto dos "coletes amarelos", um movimento heterogêneo contra a política econômica e social do governo de Emmanuel Macron, se baseasse desta vez na "violência policial".

"Para acabar com a força desmedida imposta pelo governo para fazer o protesto se calar", pediu-se aos manifestantes que fossem às marchas com "tapa-olho, vendas, pintando de vermelho os coletes amarelos como se fosse sangue", segundo mensagens postadas no Facebook.

Diante da controvérsia, o ministro do Interior admitiu na sexta-feira que esta arma, denominada intermediária, podia ferir e prometeu punir os "abusos", mas defendeu seu uso "para enfrentar arruaceiros".

"Se não houvesse lojas saqueadas, barricadas, carros incendiados, edifícios públicos destruídos [...], se a lei fosse respeitada, simplesmente não haveria feridos", avaliou o ministro do Interior, Christophe Castaner, prometendo um dispositivo policial poderoso para o sábado.

A Inspeção Geral da Polícia Nacional (IGPN) abriu 116 investigações, segundo uma fonte policial, dez das quais sobre ferimentos graves nos olhos. No total, as autoridades registraram mais de 1.900 feridos entre manifestantes e mais de 1.200 entre as forças de segurança.

Em Bordeaux (sudoeste), cidade onde o movimento de protesto é muito forte, foram registrados incidentes. Em Nantes (oeste), dois policiais ficaram feridos em incidentes registrados durante o protesto.

Neste sábado, os "coletes amarelos" convocaram a manifestar maciçamente em Valence (sudeste) onde foram adotadas medidas excepcionais de segurança e onde foi fechada a maioria dos estabelecimentos comerciais.

O presidente Emmanuel Macron esteve nesta localidade na semana passada para o "grande debate nacional", uma consulta feita pelo governo com a esperança de acalmar a crise, mas que muitos manifestantes consideram pensada para enterrar suas reivindicações.

Também foram registrados incidentes em Morlaix (oeste) e em Nancy e Estrasburgo (leste).