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Entenda qual podem ser os rumos da crise venezolana

06/02/2019 19h49

Caracas, 6 Fev 2019 (AFP) - Diálogo? Invasão militar? Após a avalanche de acontecimentos do último mês, muitos se perguntam se a crise venezuelana se aproxima de um desfecho e como isso acontecerá.

O reconhecimento de cerca de 40 países a Juan Guaidó como presidente interino, seu amplo apoio popular e o embargo petroleiro dos Estados Unidos apertaram o cerco sobre o presidente Nicolás Maduro, mas apenas isso não é garante sua queda.

Maduro mantém o apoio da cúpula militar e de aliados como Rússia e China - com importantes investimentos no país com a maior reserva de petróleo do mundo -, assim como controle institucional.

Especialistas apontam quatro rumos possíveis para a situação, todos eles preocupantes diante da forte deterioração econômica.

- Negociação - É o que Maduro propõe, mas Guaidó adverte que qualquer diálogo deve levar à saída do governante socialista, a quem o Parlamento da maioria da oposição declarou "usurpador" por considerar sua reeleição fraudulenta. Com esse argumento, Guaidó se autoproclamou presidente em 23 de janeiro.

Oito países europeus e cinco latino-americanos tentarão uma solução pacífica nesta quinta-feira em Montevidéu.

Negociar "parece bastante improvável, a não ser que o Exército afaste Maduro" e "ponha outro interlocutor", opina Anna Ayuso, especialista em América Latina do centro de estudo de assuntos internacionais CIDOB de Barcelona.

Diante de um pedido de Maduro, o papa Francisco se mostrou disposto a fazer a mediação caso as partes solicitem.

O presidente "poderá aceitar uma negociação em troca da suspensão dos embargos, não sofrer pressão internacional", especula o cientista político Ernesto Pascual, da Universidade Aberta da Catalunha.

A Venezuela contabiliza quatro tentativas fracassadas de diálogo desde que Maduro chegou ao poder em 2013.

- Invasão - Primeiro país a reconhecer Guaidó, os Estados Unidos não descartam uma ação militar, embora até agora tenham optado pelo "colapso econômico para desestabilizar" Maduro, segundo o analista Luis Vicente León.

Os especialistas consideram que o detonador poderá ser uma ação armada contra a ajuda norte-americana em alimentos e medicamentos que Guaidó planeja fazer entrar pelos territórios da Colômbia e do Brasil.

Maduro considera essa "ajuda humanitária" como o início de uma intervenção militar.

"Não acho que interesse aos Estados Unidos se meter em um conflito, nem à Colômbia nem ao Brasil", opina Ayuso.

Uma invasão tampouco contaria com um consenso internacional, após as dificuldades para impor democracias liberais pela via militar no Iraque e no Afeganistão, observou Pascual.

León acredita que Maduro tentaria evitar o uso da força para impedir a entrada de ajuda.

Ele adverte, ainda, que uma intervenção pode desatar uma violência por parte de grupos civis armados pró-governo como aconteceu na Líbia e na Síria.

Pode ser que "esses grupos se pulverizem, mas o risco existe", acrescenta. O chavismo representa um terço do universo eleitoral.

- Implosão - Para os analistas, o elemento determinante continua sendo o Exército. Embora tenham aparecido rachas na Força Armada venezuelana, o alto comando continua leal a Maduro.

Para um "colapso interno é preciso que os militares e os chavistas desertem. Seria o final da revolução", observa León.

Pascual argumenta que, embora os militares "não declarem suas intenções até o último momento", é "improvável" que abandonem Maduro "pelos interesses que a cúpula tem dentro do negócio petroleiro e de mineração".

Para quebrar esse apoio, Guaidó, chefe do Parlamento, promove uma lei de anistia aos militares que deixem de apoiar a "ditadura", exceto em caso de crimes contra a humanidade. No entanto, quase um mês depois de lançar a proposta não houve qualquer deserção.

León acredita que "uma implosão ocorre quando os atores percebem que lhes entregarão algo que garanta sua proteção, patrimônio e liberdade", o que segundo ele está apenas começando, pois a oferta ainda é vaga.

"O setor militar precisa de uma negociação cara a cara com nome e sobrenome, uma garantia internacional e provavelmente que se constitucionalize o perdão", explica.

- Entrincheiramento - Maduro poderá se entrincheirar e formar fileiras "ao estilo cubano", aponta Ayuso, com "consequências muito penosas" para uma população devastada pela escassez e por uma hiperinflação que o FMI projeta em 10.000.000% para este ano.

O país, que obtém 96% de suas receitas do petróleo, deve buscar mercados para os aproximadamente 500.000 barris diários que vem exportando para os Estados Unidos. Esta é metade da sua produção e 75% de seu fluxo de caixa.

"É um cenário terrível porque não resolve o problema e piora o país", ressalta León.

Além disso, se abriria uma fase de "maior repressão" contra os opositores, "caminhando para um governo militar puro e duro", adverte Ayuso.

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