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Talibãs qualificam de 'muito bem-sucedidas' conversas com políticos afegãos em Moscou

06/02/2019 19h56

Moscou, 6 Fev 2019 (AFP) - Os talibãs elogiaram nesta quarta-feira (6) as conversas sem precedentes em Moscou com políticos afegãos, que qualificaram de "muito bem-sucedidas", apesar dos desacordos sobre os direitos das mulheres e seus pedidos de uma Constituição islâmica neste país devastado pela guerra.

Esta reunião extraordinária de dois dias em Moscou foi a mais significativa dos talibãs com os políticos afegãos em anos, e terminou com o acordo entre ambas as partes para realizar mais conversas no futuro garantir uma "paz duradoura e digna" para o povo do Afeganistão.

Nesta rodada de conversas não convidaram nenhum funcionário do governo. Participaram líderes afegãos de peso, incluindo o ex-presidente Hamid Karzai, e outros inimigos jurados dos talibãs.

"Foram muito bem-sucedidas. Concordamos em muitos pontos e tenho a esperança de que no futuro possamos avançar mais, e possamos alcançar a paz completa no Afeganistão", destacou o chefe da delegação dos talibãs, Sher Mohammad Abbas Stanikzai, aos jornalistas.

As negociações foram traçadas como objetivo avançar para alcançar a paz, mas sem levar em conta as autoridades de Cabul.

Oitenta membros dos partidos políticos e da sociedade civil afegã, liderados pela figura de Karzai, se reuniram com uma dezena de representantes talibãs para falar das condições prévias a um acordo de paz após 17 anos de conflito.

- À margem do governo? -O governo afegão não foi convidado apesar dos repetidos chamados do presidente Ashraf Ghani para negociar.

Os rebeldes rechaçam categoricamente falar com o governo afegão, o qual qualificam de "marionete" dos Estados Unidos. O governo afegão tampouco foi convidado para as negociações do fim de janeiro entre talibãs e Estados Unidos em Doha que deram lugar, segundo ambas as partes, a "avanços".

Em Moscou, um responsável talibã de alto escalão, Abdul Salam Hanefi, adjunto ao chefe do escritório político dos talibãs no Catar, provocou assombro nesta quarta ao afirmar que os talibãs alcançaram um acordo com os Estados Unidos sobre a retirada de metade das forças americanas para o fim de abril, e que este processo já começou.

"Os americanos concordaram em retirar metade de suas forças imediatamente. A retirada começará em 1º de fevereiro e continuará até o final de abril", disse a jornalistas.

Os Estados Unidos, que têm 14.000 soldados no Afeganistão, desmentiram um acordo nesse sentido.

"Não foi fixado nenhum calendário para a retirada das tropas", declarou à AFP um porta-voz da embaixada americana em Cabul.

"Os Estados Unidos não buscam estabelecer uma presença militar permanente no Afeganistão. Se todas as partes fizerem o que é necessário para evitar que o Afeganistão seja usado como uma plataforma de terrorismo, estamos dispostos, se as condições permitirem, a estudar modificações sobre a presença das forças", acrescentou.

Na terça-feira, pela primeira vez, representantes talibãs de alto escalão apareceram diante da imprensa em Moscou.

Em um longo discurso, Sher Mohammad Abbas Stanikzai explicou o poder que os talibãs esperam exercer uma vez que o acordo de paz seja assinado.

Segundo ele, os insurgentes "não querem um monopólio do poder, mas um sistema islâmico inclusivo", embora tenha pedido uma "Constituição islâmica" para o Afeganistão para substituir a atual, que considera "vaga e contraditória".

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