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Comboio com homens, mulheres e crianças deixa reduto do Estado Islâmico

20/02/2019 20h34

Cerca de Baguz, Syrie, 20 Fev 2019 (AFP) - Ao menos 10 caminhões transportando homens, mulheres e crianças deixaram nesta quarta-feira (20) o povoado de Baghuz, onde se encontra o último reduto do grupo Estado Islâmico (EI) no leste da Síria.

Em uma posição das Forças Democráticas Síria (FDS), aliança curdo-árabe que conduz a ofensiva "final" contra o EI na localidade, uma jornalista da AFP viu passar os caminhões deixando Baghuz com dezenas de homens, que escondiam seus rostos, além de mulheres em niqab e crianças.

"Temos unidades especiais para retirar os civis. E, após vários dias de tentativas, conseguimos evacuar um primeiro grupo hoje", explicou à AFP o porta-voz das FDS Moustafa Bali.

"O número deles ainda não é conhecido", disse, acrescentando que essas pessoas estão sendo transportadas para uma das zonas de recepção da FDS, onde são submetidas a revistas e interrogatórios.

"Não sabemos se há jihadistas entre eles", acrescentou.

Os jihadistas de linha dura, que seriam centenas, estão entrincheirados em um pequeno bolsão de Baghuz, na província de Deir Ezzor, perto da fronteira com o Iraque.

As FDS, apoiadas pela coalizão internacional liderada por Washington, querem acabar com eles, mas mulheres e crianças, principalmente famílias do EI, seguem a seu lado neste setor de meio quilômetro quadrado.

As FDS e a coalizão internacional anti-EI desaceleraram suas operações para deixar que as famílias saiam, e acusam os jihadistas de usar os civis da localidade como "escudos humanos".

"Acreditávamos que todos os civis tinham partido (...) mas não nos surpreendeu ver que havia pessoas escondidas", indicou na terça à AFP outro porta-voz das FDS, Adnane Afrine.

"Trata-se de familiares do EI, mas nós os consideramos civis", ressaltou.

Na terça-feira, depois de uma pausa de vários dias, dezenas de civis, e também combatentes do EI, especialmente estrangeiros, se entregaram às FDS.

- Negociações? -Desde o início de dezembro, cerca de 40 mil pessoas, principalmente famílias de jihadistas, fugiram de Baghuz, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

O diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, falou de "negociações" em andamento entre as forças e o EI para obter uma "rendição" dos jihadistas entrincheirados.

Ele se referiu a um "acordo com contornos ainda vagos".

Contudo, líderes das FDS negaram qualquer negociação.

Na cidade de Baghuz, os combatentes do EI controlam apenas algumas casas, onde estão escondidos em túneis, no meio de um mar de minas com as quais tentam impedir o avanço das FDS.

Os jihadistas têm apenas duas opções, "se render ou morrer em combate", garantiu Mustefa Bali.

Em 2014, o EI conquistou vastos territórios na Síria e no Iraque, proclamando um "califado" sobre uma extensa área.

Os jihadistas estabeleceram sua própria administração, executaram e torturaram aqueles que não respeitaram suas leis e fomentaram ataques no exterior.

Nas últimas semanas, as forças curdas prenderam centenas de estrangeiros. Equipes da AFP ouviram casos de franceses, alemães e russos fugindo da última fortaleza jihadista.

Esses ocidentais representam um verdadeiro desafio para os países ocidentais, que não gostariam de repatriá-los apesar dos apelos nesse sentido das forças da coalizão.

- Retirada de nacionalidade -Na terça, a família de um jovem britânica, Shamima Begum, se mostrou "muito decepcionada" pela decisão de Londres de retirar a nacionalidade britânica desta jovem que se uniu ao grupo jihadista EI na Síria e que deseja regressar ao Reino Unido.

"Estamos examinando todas as vias legais para questionar esta decisão", disse seu advogado no Twitter.

Begum, de 19 anos, natural d leste londrino, aderiu ao EI em 2015, com duas adolescentes que frequentavam a mesma escola que ela.

Nesta quarta-feira, Bangladesh (país de origem de seus pais) fechou a porta a Begum, alegando que não poderá pedir essa cidadania.

Atualmente ela está em um campo de refugiados do nordeste da Síria após ter fugido dos combates. Recentemente deu à luz seu terceiro filho, após perder dois por desnutrição e doenças.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse nesta quarta que a jovem Hoda Muthana, nascida no estado do Alabama e que se uniu ao EI em 2015, "não é uma cidadã americana e não será admitida nos Estados Unidos".

Em uma nota, o gabinete de Pompeo apontou que Muthana "não tem nenhum fundamento legal, nenhum passaporte válido dos Estados Unidos, nem direito a um passaporte ou visto para viajar aos Estados Unidos".

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu recentemente às potências europeias para que repatriem seus cidadãos na Síria. Mas Paris, Londres, Berlim e Bruxelas disseram que este tema não estava em suas agendas.

A batalha anti-EI representa hoje a principal frente da guerra na Síria, que já fez mais de 360.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados desde 2011.