Reino Unido em um beco sem saída a 37 dias do divórcio
Bruxelas, 20 Fev 2019 (AFP) - A primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, mantiveram nesta quarta-feira (20) uma reunião com "avanços" em Bruxelas, mas sem abrir o caminho para um Brexit com acordo a 37 dias do divórcio.
"As negociações foram construtivas", disseram em declaração conjunta, nas quais pedem que suas equipes "continuem avaliando as opções [para conseguir um Brexit negociado] com um espírito positivo" e anunciaram que vão voltar a conversar antes do fim do mês.
No entanto, a agência de avaliação financeira Fitch Ratings advertiu que está considerando rebaixar a nota do Reino Unido pelas consequências negativas que um divórcio sem acordo poderá trazer para o crescimento.
Este anúncio provocou a queda da libra tanto em relação ao dólar como ao euro. A divisa britânica passou para 86,95 pences o euro, dos 86,86 de antes do anúncio.
À medida que o dia 29 de março se aproxima, o cenário de um divórcio pactuado segue por um beco sem saída após o veto do Parlamento britânico ao acordo atual por conta do mecanismo para evitar uma fronteira à ilha da Irlanda, que Bruxelas se nega a mudar.
May, em sua segunda visita à capital belga em duas semanas, reiterou a "necessidade de ver mudanças legalmente vinculantes em uma salvaguarda que garanta que não será indefinida", explicou.
Este mecanismo incluído no acordo de divórcio para evitar uma fronteira para bens entre a Irlanda e a província britânica da Irlanda do Norte foi o alvo do veto do Parlamento britânico em janeiro ao pacto concluído entre Londres e Bruxelas em novembro.
Os deputados querem evitar que essa salvaguarda, que também objetiva proteger o Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa de 1998, faça que o Reino Unido fique preso ao território aduaneiro com a UE que lhe impeça negociar acordos comerciais com terceiros.
Embora essas salvaguardas só sejam utilizadas como último recurso, em caso de não se conseguir uma solução melhor na negociação sobre a futura relação entre ambos, os parlamentares britânicos pediram à primeira-ministra que consiga "acertos alternativos" com a UE.
- Barnier, Barclay, Cox -Juncker e May se comprometeram nesta quarta-feira a ver "quais garantias" podem ser oferecidas para assegurar que a salvaguarda seja somente temporária e quais "acertos alternativos" poderiam substituí-la no futuro, segundo a declaração conjunta.
Ambos os líderes confiam a tarefa ao negociador europeu Michel Barnier e ao ministro britânico Stephen Barclay, que também devem estudar possíveis mudanças na declaração política, que acompanha o acordo de divórcio para alcançar uma relação futura "o mais breve possível".
May havia dado como prazo o dia 26 para encontrar uma saída. O mesmo pode acontecer com o procurador-geral britânico, Geoffrey Cox, cujos relatórios sobre o acordo de divórcio contribuíram para o veto do Parlamento.
Cox acompanhará novamente, na quinta-feira, Barclay em sua visita a Bruxelas para continuar as negociações. Na capital belga, também estará o líder da oposição britânica, o trabalhista Jeremy Corbyn.
O tempo, contudo, urge, e como Theresa May descartou até o momento prorrogar a data de saída do bloco, uma fonte europeia assegurou nesta quarta-feira que a cúpula da UE de 21 e 22 de março será um "momento importante", a uma semana do divórcio.
"Gostamos do drama", ressaltou essa fonte à AFP, informando que não haverá um "acordo de última hora", e, sim, que este deveria ter sido alcançado "antes", acrescentando o "papel chave de Cox" às vésperas de o Parlamento britânico ratificar o acordo.
- 'Muito sangue frio' -Publicamente, as posições continuam inalteradas. O chanceler britânico, Jeremy Hunt, reiterou nesta quarta-feira na Alemanha que modificar a salvaguarda mediante uma "mudança simples, mas importante" é "o único caminho para sair dessa situação".
Os europeus, contudo, se negam a reabrir o acordo de divórcio, não a declaração política, como lembrou Barnier a Barclay na segunda-feira. A UE rechaça ainda limitar no tempo a salvaguarda ou prever uma retirada unilateral da mesma.
O temido Brexit sem acordo o tornaria mais difícil. "Será preciso muito sangue frio durante um mês. O primeiro a se mover, perde", disse um diplomata europeu.
Outra fonte diplomática europeia defende um acordo entre partidos no Reino Unido para aprovar um acordo ou que "alguma parte" dos trabalhistas de Jeremy Corbyn , que viaja a Bruxelas na quinta-feira, apoie o governo.
Temendo uma avalanche iminente de deserções devido a Brexit, três deputadas do Partido Conservador de May deixaram a formação nesta quarta-feira para se juntar ao grupo independente recém-formado de oito trabalhistas também desertados.
Enquanto isso, o Reino Unido e seus 27 parceiros aceleram seus preparativos para reduzir os danos a suas economias e preparam seus países caso eles fracassem em sua tentativa de canalizar com acordo o primeiro divórcio na história do projeto europeu.
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