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Cardeal Pell, número três do Vaticano, declarado culpado de pedofilia na Austrália

26/02/2019 07h25

Melbourne, 26 Fev 2019 (AFP) - O cardeal George Pell, número três do Vaticano, foi declarado culpado de crimes sexuais contra menores na Austrália, tornando-se o mais alto dignatário da Igreja católica condenado em um caso de pedofilia.

Pell, de 77 anos, foi declarado culpado em um julgamento em dezembro por agressão sexual e outras quatro acusações de atentado ao pudor contra dois coroinhas de 12 e 13 anos na sacristia da Catedral de São Patrício em Melbourne nos anos 1990.

Mas o tribunal proibiu até esta terça-feira que os meios de comunicação informassem sobre o caso.

O dirigente havia negado as acusações inicialmente e o júri não havia chegado a um veredicto no primeiro julgamento sobre o caso, em setembro, mas o cardeal foi declarado culpado em um novo julgamento, em 11 de dezembro.

A corte de Melbourne adotou então uma "ordem de supressão", que proibia aos veículos fazer qualquer menção ao caso, sob pena de ações legais.

Este silêncio forçado foi imposto com o objetivo de proteger o júri de um segundo julgamento em que o cardeal Pell devia responder a outros supostos crimes.

Mas a acusação decidiu abrir mão deste, o que levou à suspensão, nesta terça-feira, da proibição a que a imprensa reportasse o caso, autorizando aos veículos a anunciar o veredicto de culpa.

"O cardeal George Pell sempre manteve sua inocência e continua fazendo", afirma um comunicado publicado nesta terça-feira por seus advogados, que anunciaram ter apresentado um recurso de apelação.

O texto também destaca que várias acusações contra Pell foram retiradas ou não foram aceitas.

Um dos coroinhas vítimas de Pell morreu em 2014. O outro informou em um comunicado publicado por seu advogado que o processo legal é estressante e "ainda não terminou".

"Como muitos sobreviventes, experimentei vergonha, solidão, depressão e dificuldades. Como muitos sobreviventes, demorei anos para compreender o impacto que deve na minha vida", disse a vítima, que não foi identificada publicamente.

Na entrada do tribunal, defensores de outras vítimas de abusos receberam Pell aos gritos de "monstro" e "apodreça no inferno", quando o cardeal deixou a corte ao final da audiência.

Na quarta-feira está prevista outra audiência, antes do anúncio da sentença.

A condenação representa um novo golpe para a Igreja, apenas dois dias depois do encerramento de uma reunião histórica que abordou a questão da pedofilia, evento durante o qual o papa Francisco prometeu adotar medidas para que os crimes de abuso sexual não se repitam.

George Pell deixou suas funções no Vaticano para se defender, mas no papel continua aparecendo no comando da secretaria de Economia da Santa Sé, ou seja, como o número três do Vaticano.

O caso de Pell provocou uma grande comoção na Austrália, onde ele lidera as vozes conservadoras em questões como o casamento gay e a mudança climática.

Pell negou durante décadas ter cometido ou ocultado abusos sexuais, mas admitiu que problemas na maneira de lidar com a questão dos padres pedófilo no estado de Victoria.