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Ministro das Relações Exteriores do Irã pede demissão

26/02/2019 09h32

Teerã, 26 Fev 2019 (AFP) - O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, que foi um dos artífices do acordo nuclear de 2015, anunciou sua demissão, que deve ser confirmada pelo presidente Hassan Rohani.

"Peço perdão por não conseguir mais ser capaz de prosseguir em meu cargo e por todas as minhas falhas no exercício das minhas funções", escreveu Zarif em sua conta no Instagram.

Rohani deve aceitar ou rejeitar a demissão.

No Twitter, Mahmoud Vaézi, chefe de gabinete de Rohani, desmentiu durante a noite que o presidente teria aceitado o pedido de demissão.

Zarif não apresentou nenhuma explicação para a renúncia, mas de acordo com o jornal iraniano Entekhab estaria relacionada com a visita surpresa na segunda-feira ao Irã do presidente sírio Bashar al-Assad.

Assad se reuniu com o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, e Rohani. Zarif não estava presente em nenhum dos encontros, de acordo com a agência Isna, e não aparece nas fotos da reunião entre Khamenei e Assad.

Após o anúncio da renúncia, o Entekhab tentou entrar em contato com Zarif e recebeu a mensagem: "Após as fotografias das reuniões de hoje, Javad Zarif não tem nenhuma credibilidade no mundo como ministro das Relações Exteriores!".

Zarif apresentou o pedido de demissão diversas vezes, mas o fato de ter divulgado publicamente desta vez "significa que deseja que o presidente a aceite", indicou a agência Isna, que cita o presidente da Comissão Parlamentar de Segurança Nacional e Assuntos Exteriores, Hesmatollah Falahatpicheh.

Zarif, 59 anos, dirigiu a diplomacia iraniana durante o primeiro mandato de Rohani (2013-2017) e foi confirmado no cargo após a reeleição do presidente, considerado um moderado no Irã.

"Estou muito agradecido ao povo iraniano e a seus respeitados dirigentes pela magnanimidade que demonstraram durante 67 meses", escreveu no Instagram.

- "Obsessão doentia" -Zarif foi o negociador chefe do Irã no acordo alcançado em Viena em julho de 2015 entre a República Islâmica e o Grupo 5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia e Alemanha) para encerrar 12 anos de crise sobre o programa nuclear iraniano.

Inimigo dos ultraconservadores iranianos, Zarif viu a intensificação das críticas nos últimos meses, após a decisão do presidente americano Donald Trump de retirar unilateralmente seu país do acordo em maio de 2018.

O secretário de Estado americano Mike Pompeo "tomou nota" da demissão do chanceler iraniano.

Zarif e Rohani são "a mesma face de uma máfia religiosa corrompida", tuitou Pompeo, antes de assegurar que a política americana para o Irã seguirá de modo igual.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, celebrou a notícia.

"Zarif vai embora, já era hora. Enquanto eu continuar aqui, o Irã não terá bombas nucleares", escreveu no Twitter.

Zarif, um diplomata formado nos Estados Unidos - tem um doutorado em Direito da Universidade de Denver - representa no exterior a imagem da política de distensão promovida por Rohani, mas muito criticada pelos ultraconservadores.

Fluente em inglês, participa com frequência em fóruns internacionais.

No dia 17 de fevereiro, na conferência de Munique (Alemanha) sobre questões de segurança, Zarif chamou a política americana para o Irã de "obsessão doentia" que provoca sofrimento no Oriente Médio há décadas.

O ministro também é um defensor do acordo de 2015, inclusive após a saída dos Estados Unidos, e enfrentou diversas vezes os adversários ultraconservadores iranianos, que consideram que o pacto faz muitas concessões, sem sem receber nada substancial em troca.

No início de dezembro, vários deputados ultraconservadores que apresentaram um processo de destituição contra Zarif desistiram do projeto.