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Líder oposicionista venezuelano Guaidó terá encontro com Bolsonaro

27/02/2019 23h45

Bogotá, 28 Fev 2019 (AFP) - O líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela, deixa a Colômbia nesta quarta-feira (27) em busca de um apoio mais consistente do Brasil, antes de seu anunciado retorno a Caracas, onde pode enfrentar a justiça chavista, pois há uma proibição de viagem emitida contra ele.

O presidente Jair Bolsonaro "receberá Guaidó em uma visita pessoal" que começará às 14h00 no Palácio do Planalto, informou o porta-voz da Presidência, Otavio Rêgo Barros. O presidente é um severo crítico de Maduro.

Guaidó, que burlou uma ordem de proibição de saída da Venezuela, será recebido pelo chanceler Ernesto Araújo, com quem se encontrou na segunda-feira em uma reunião do Grupo de Lima.

Nessa cúpula, os integrantes do bloco -formado por países latino-americanos e o Canadá- se comprometeram a estreitar o cerco econômico e diplomático a Nicolás Maduro, mas sem recorrer à força, uma possibilidade apresentada pelos Estados Unidos, convidado para o encontro.

"O Brasil foi um dos países que ao lado do Peru foram mais categóricos em relação (à oposição) à lógica militarista que se pretendia impor na segunda passada", disse à AFP Ronald Rodríguez, do Observatório da Venezuela da Universidade de Rosário.

Por isso que essa viagem a Brasília adquire mais peso, pois poderia "se alinhar melhor com o Brasil" às vésperas de seu regresso à Venezuela.

Guaidó será recebido na quinta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, um severo crítico do regime chavista da Venezuela.

Os países que não reconhecem o presidente Nicolás Maduro alegam que sua releição foi fraudulenta. Diante dese cenário, Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, se autoproclamou em 23 de janeiro como governante interino.

Os Estados Unidos submeterão a votação no Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira um projeto de resolução que exige eleições presidenciais na Venezuela e entrada "sem exigências" da ajuda humanitária com alimentos e remédios.

Contudo, o chanceler chavista Jorge Arreaza pediu nesta quarta-feira uma reunião entre Maduro e Trump, mas o vice-presidente americano, Mike Pence, rechaçou essa possibilidade.

"A única coisa para ser discutida com Maduro neste momento é a hora e a data de sua saída", escreveu no Twitter Pence, acrescentando a hashtag em espanhol #VenezuelaLibre".

Durante a semana, Guaidó reiterou que para derrotar Maduro todas as opções deveriam estar sobre a mesa, uma posição que deixou em claro Pence durante a reunião do Grupo de Lima.

"Creio que Guaidó esperava que se desse um espaço para deixar implícito a Nicolás Maduro que a possibilidade era real", acrescentou Rodríguez.

- Voltar a Caracas - Guaidó tem insistido em regressar esta semana a Caracas para exercer suas "funções", apesar da possibilidade de ser preso. Na segunda-feira, a Colômbia denunciou "sérias e críveis ameaças" contra Guaidó e responsabilizou o governo "usurpador" por isso.

Maduro disse que Guaidó deverá responder diante da justiça por burlar a lei.

"Um preso não ajuda ninguém, tão pouco um presidente exilado. Estamos numa zona inédita (...) E minha função e meu dever é estar em Caracas apesar dos riscos, apesar de todas as implicações", disse o opositor.

Seus simpatizantes anunciaram que se mobilizarão para recebê-lo na próxima sexta na capital venezolana. A cidade também será palco de manifestações de grupos leais ao chavismo.

Contudo, Guaidó não definiu a data de retorno e nem se voltará diretamente do Brasil.

Segundo Rodríguez, Guaidó não tem como não retornar ao país para liderar a oposição.

"A realidade é que muitos começam a sentir que o momento apropriado está passando, e sabem se isso acontecer, não será fácil se livrar de Nicolás Maduro", acrescentou Rodríguez.

- Fronteiras restringidas -Apesar de não existir um alto risco de prisão para Guaidó, o líder opositor aposta que Maduro se abstenha desta iniciativa num momento em que o país está sob a atenção do mundo, avaliou o analista.

A Venezuela está mergulhada em uma severa escassez de alimentos e remédios, que gerou o êxodo de 2,7 milhões de pessoas para países da região desde o agravamento da crise em 2015.

Para Maduro, esta crise é consequência do bloqueio financeiro aplicado por Washington. Também garante que o envio da ajuda humanitária patrocinada por Donald Trump esconde um plano de intervenção militar na Venezuela.

A tentativa de entrega no fim de semana de alimentos e remédios através das fronteiras com o Brasil e Colômbia, fechadas do lado venezuelano, terminou em confrontos que deixaram quatro mortos.

A Colômbia reabriu seu lado da fronteira nesta quarta-feira, mas com restrições, devido aos confrontos entre venezuelanos que tentam entrar no país e a Guarda Nacional Bolivariana de Maduro.

As autoridades migratórias indicam que 326 membros das forças armadas de Venezuela que desertaram e foram para a Colômbia.

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