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Governo e oposição da Nicarágua retomam diálogo

28/02/2019 20h38

Manágua, 28 Fev 2019 (AFP) - O governo de Daniel Ortega e a oposição da Nicarágua retomaram nesta quinta-feira (28) as negociações com vistas a pôr um fim à grave crise que sacode o país, um dia depois da adoção de um "mapa do caminho" para as discussões.

Na quarta, governo e oposição conseguiram entrar em acordo em nove de 12 propostas a ser discutidas no diálogo.

Hoje, as partes avançaram "na consolidação" dos procedimentos das negociações, num encontro que contou com a presença do cardeal Leopoldo Brenes e o núncio apostólico Waldemar Stanislaw Sommertag.

Ainda não foi divulgado o conteúdo das conversações que a delegação do governo, liderada pelo chanceler, Denis Moncada, e a Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia (ACJD), presidida pelo ex-diplomata Carlos Tünnermann, estabelecem sem a presença da imprensa na sede do Instituto Centro-Americano de Administração de Empresas (INCAE), a 15km ao sul de Manágua.

A presença de observadores internacionais "segue sendo uma exigência" da aliança, declarou antes do início do encontro, deixando no ar que existem posições contrárias sobre esse ponto.

"Todas as negociações aprovadas passaram por processos totalmente privados", argumentou Ortega em 21 de fevereiro quando anunciou a disposição de voltar à mesa de negociação com o bloco opositor, integrado por empresários, estudantes e organizações civis.

Diante da quantidade de críticas pelo segredo em torno das reuniões, os participantes se comprometeram a "fazer público todos os pontos de negociação logo que estejam aprovados".

- Diálogo complicado -Ortega anunciou na semana passada a vontade de retomar o diálogo para restaurar "a paz e a segurança" na Nicarágua e "abrir uma nova via" de entendimento, após dez meses de crise política que deteriorou a economia.

Antes da instalação da mesa, o governo libertou cem dos mais de 700 opositores presos por participar dos protestos que estouraram em abril contra o governo de Ortega.

O secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, celebrou o gesto e afirmou que "o caminho da libertação dos presos políticos retira os obstáculos e nos leva a soluções institucionais e democráticas".

Contudo, entre os ex-detidos não estava nenhum conhecido dirigente opositor.

A Unidade Nacional Azul e Branco, que agrupa os movimentos da oposição, exigiu nesta quinta através de um comunicado a libertação de todos os "presos políticos, a anulação dos processos e retorno com garantia de todos os exilados".

A Aliança destacou também que "continua apostando por uma saída pela via pacífica", através da antecipação das eleições de 2021 e iniciar um processo de democratização.

Ortega, contudo, descartou a possibilidade de realizar o pleito antes da época estabelecida. Durante uma visita da Organização de Estados Americanos (OEA) a Manágua neste mês, o mandatário se comprometeu a reformar a lei eleitoral para as presidenciais de 2021.

O governo pretende que o diálogo contribua para "consolidar a paz e melhorar as condições" do país, que no ano passado registrou uma recessão de 4% após uma década de sólido crescimento econômico.

Governo e oposição voltaram a se encontrar nove meses depois de uma negociação fracassada mediada pelo episcopado, durante a violenta repressão dos protestos antigovernamentais, nos quais morreram pelo menos 325 pessoas, 700 foram detidas e milhares se exilaram em países vizinhos.

Ortega, de 73 anos, alegou naquela rodada de diálogo que os opositores e a Igreja pretendiam tirá-lo do governo ao propor uma agenda de reformas, que incluía antecipação das eleições.

"Ortega está encarando uma possibilidade concreta de total isolamento internacional", comentou a ex-guerrilheira e dissidente sandinista Dora María Téllez.

"Existem sanções severas por parte dos Estados Unidos, ameaças de sanções iminentes da União Europeia, tem a carta democrática da OEA para pressioná-lo e não consegue dinheiro. Está asfixiado", advertiu.