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Buteflika muda chefe de campanha após protestos na Argélia

02/03/2019 15h52

Argel, 2 Mar 2019 (AFP) - O presidente da Argélia, Abdelaziz Buteflika, que enfrenta protestos sem precedentes em 20 anos de governo, demitiu neste sábado (2) o seu diretor de campanha, em uma possível resposta às manifestações para que não se apresente a um quinto mandato, em 18 de abril.

O ex-primeiro-ministro Abdelmalek Sellal havia coordenado as três últimas campanhas de Buteflika (2004, 2009 e 2014), embora tenha sido subitamente substituído pelo atual ministro dos Transportes, Abdelghani Zaalane, anunciou a agência oficial APS, que citou apenas a "direção de campanha" do chefe de Estado.

Nenhuma fonte oficial ou ligada ao entorno de Buteflika deu uma explicação para a repentina mudança na condução da quinta campanha eleitoral do presidente, que gerou protestos maciços na capital, Argel, e em outras cidades do país.

A eventual quinta candidatura presidencial de Buteflika deve ser confirmada ante as autoridades eleitorais até meia-noite de domingo (3).

Nenhuma autoridade argelina reagiu oficialmente à impressionante mobilização da sexta-feira (1), quando cidadãos tomaram as ruas em todo o país para expressar sua rejeição a Buteflika, que completa 82 anos neste sábado.

O chefe de Estado está hospitalizado na Suíça há seis dias, oficialmente para "exames médicos de rotina" e o seu retorno ao país não foi anunciado, faltando menos de 48 horas para o término do prazo para apresentar candidaturas, no domingo à meia-noite.

Não há, porém, qualquer regra que diga que o candidato deve comparecer pessoalmente perante o Conselho Constitucional para entregar o seu dossiê.

- Manifestante morto -Ao anunciar em 10 de fevereiro a sua candidatura a um quinto mandato presidencial, Buteflika (que está no poder desde 1999) fez desatar uma onda de manifestações nas ruas sem precedentes nos últimos 20 anos no país.

O presidente, que não compareceu diante dos argelinos desde o derrame sofrido em 2013 e cujas aparições públicas são cada vez mais incomuns, sempre de cadeira de rodas, não fez nenhuma declaração desde o início dos protestos.

Nesse contexto, a repentina demissão de Sellal pode ser considerada uma tentativa de evitar que os protestos impeçam a sua nova candidatura.

Zaalane, de 54 anos, que fez carreira na administração de prefeituras, é até agora pouco conhecido pela maioria da população.

Ao longo da semana, o campo presidencial reafirmou que a contestação não vai impedir que as eleições sejam realizadas e que a candidatura do chefe de Estado seja apresenta.

As autoridades "esperam aguentar até domingo, na esperança de que uma vez que a candidatura de Buteflika seja apresentada e as eleições convocadas, a contestação perca força", disse à AFP um observador que pediu anonimato.

É difícil saber se a mobilização excepcional de sexta-feira vai mudar o cenário. "O regime não está acostumado a ceder às ruas", apontou o observador. "Se recuar sobre a candidatura, até onde terá que recuar depois?"

As manifestações aconteceram pacificamente, com exceção de alguns confrontos entre jovens e policiais na sexta-feira em Argel.

O ministro do Interior, Nuredin Bedui, visitou os policiais hospitalizados à noite. Segundo a polícia, 56 agentes e sete manifestantes ficaram feridos nos confrontos em Argel e 45 pessoas foram presas.

O ministro elogiou "o profissionalismo das forças de segurança" e "que todos os cidadãos [...] expressaram seu direito à liberdade de expressão e manifestação".

Um manifestante de 56 anos morreu no tumulto provocado após a intervenção da polícia contra manifestantes, anunciou sua família nas redes sociais, sem especificar as causas da morte.

- E a oposição? -Por enquanto, apenas dois candidatos pouco conhecidos apresentaram oficialmente suas candidaturas, de acordo com a agência de notícias oficial APS: Ali Zeghdud, presidente do minúsculo Reagrupamento Argelino (RA), e Abdelkrim Hamadi, um independente.

O pequeno Partido dos Trabalhadores (extrema esquerda) anunciou a sua decisão de não participar da disputa eleitoral, pela primeira vez desde 2004.

A oposição, silenciada e ausente do movimento de protesto, que nasceu nas redes sociais, tentou eleger em vão um candidato de consenso.

Aparecem como possíveis candidatos: o ex-primeiro-ministro de Buteflika Ali Benfilis, que anunciará no domingo se vai concorrer novamente ou não; o general da reserva Ali Ghediri (sem partido); Abderrazak Madkri, do partido islamita Movimento da Sociedade pela Paz (MSP).

Após a apresentação das candidaturas, o Conselho Constitucional tem 10 dias para validá-las ou rejeitá-las.