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Barbarin ou a queda de um sacerdote muito conservador

07/03/2019 17h47

Lyon, 7 Mar 2019 (AFP) - O cardeal e arcebispo francês Philippe Barbarin, condenado nesta quinta-feira (7) por ter encoberto o abuso sexual cometido por um sacerdote de sua diocese, é um prelado da "geração de João Paulo II", conhecido por suas posições rigorosas, especialmente no que diz respeito ao casamento homossexual.

"Nunca tentei esconder e muito menos encobrir estes fatos horríveis", afirmou durante seu julgamento em Lyon, leste da França, Barbarin, que se tornou um símbolo da crise de pedofilia dentro da Igreja católica francesa.

Mas o tribunal correcional não acreditou nele e considerou que o cardeal preferiu "impedir que a justiça descobrisse um grande número de casos de vítimas de abusos sexuais" para "evitar o escândalo", e por isso o condenou a seis meses de prisão com suspensão da pena.

Barbarin, apelidado "Monsenhor 100.000 volts" por seu dinamismo, anunciou que apresentará sua renúncia ao papa Francisco nos próximos dias, algo inédito para um responsável católico de sua gama em um caso deste tipo.

Em novembro passado, o cardeal tinha dito em uma entrevista que sua posição sobre este tema havia "mudado muito". Mas talvez tenha mudado tarde demais.

"Quando ouvia falar dessas coisas há 15 anos, pensava: 'é terrível, é indigno, é uma traição destes padres a sua vocação ter feito coisas como essas", contou, admitindo que então "não havia pensado diretamente nas crianças".

Mas ao anunciar, nesta quinta-feira, sua intenção de renunciar ao cargo, declarou "toda a sua compaixão em relação às vítimas e suas famílias".

Philippe Barbarin cresceu no Marrocos, em uma família de 11 filhos. Aberto ao diálogo inter-religioso, mantém, por outro lado, uma posição rígida sobre temas sociais, como o casamento homossexual, ao qual se opõe veementemente.

"Depois vão querer que haja casais de três ou quatro pessoas... Ou um dia, quem sabe, o incesto deixará de ser proibido", disse em 2012.

- Cristãos do Oriente -Este intelectual, poliglota, presente nas redes sociais, está também na primeira linha das manifestações contra o aborto, que é legal na França.

"Não é problema meu se não há mais muitos cristãos na França. Meu problema é que nós, os cristãos, não somos suficientemente cristãos", declarou ao chegar à diocese de Lyon.

"É um bispo da geração de João Paulo II", segundo Jean Comby e Bernard Berthod, autores do livro "História da Igreja em Lyon".

Mestre em filosofia e teologia, depois de ter estudado na Sorbonne e no Instituto Católico de Paris, discípulo do teólogo Hans Urs von Balthazar e do cardeal Henri de Lubac, foi ordenado sacerdote em 1977 na diocese de Créteil (região parisiense), onde permaneceu durante quase 17 anos - o momento mais feliz de sua vida sacerdotal, contou em 2012 à revista Paris Match, antes de partir para Madagascar.

De regresso do Oceano Índico, se tornou bispo de Moulins (Allier) antes de ser nomeado arcebispo de Lyon em 2002 e cardeal em 2003. Neste cargo, participou de dois conclaves, em 2005 e 2013, para eleger os Papas Bento XVI e Francisco.

Barbarin esteve muito envolvido com os cristãos do Oriente que sofrem perseguição, particularmente na Síria e no Iraque, para onde viajou várias vezes.