Aumenta a violência contra as jornalistas na América
Washington, 8 Mar 2019 (AFP) - Leslie Ann Pamela Montenegro, baleada em Acapulco em 2018, foi uma das sete jornalistas assassinadas na América Latina nos últimos seis anos, informou nesta sexta-feira um relatório sobre a liberdade de expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA).
A morte da blogueira satírica, assim como a de Regina Martínez, em Veracruz, e de outras colegas no México e na Colômbia entre 2012 e 2018, foram reveladas no relatório "Mulheres Jornalistas e Liberdade de Expressão".
Mas "os assassinatos são apenas a parte visível do iceberg", diz o relatório, destacando o aumento dos atos de violência contra comunicadoras devido ao seu gênero, incluindo mortes, abuso sexual e assédio pela internet.
Em sociedades onde o exercício do jornalismo já é um desafio, o machismo e os estereótipos de gênero arraigados agravam a situação de risco das mulheres que trabalham para informar, aponta o texto.
"As mulheres jornalistas na região estão expostas a riscos adicionais apenas pelo fato de serem mulheres", disse à AFP Edison Lanza, relator especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, encarregada do estudo.
"Somam-se ao gênero, em muitos casos, a estigmatização e desqualificação por motivos de raça, origem étnica, religião, idade, classe social e orientação sexual", acrescentou, enfatizando a dupla discriminação que indígenas e afrodescendentes sofrem em muitos casos.
- Piadas, beijos e internet -A violência sexual contra jornalistas mulheres ocorre dentro e fora das redações e vai de piadas e comentários sobre as roupas e o corpo a contatos físicos e insinuações por parte de colegas de trabalho e de fontes, relatou Lanza.
O relator destacou como uma novidade a ascensão da violência nas redes sociais e aplicativos e citou um estudo feito entre 2017 e 2018 pela International Women's Media Foundation, no qual 63% das entrevistadas disseram ter sido ameaçadas ou abusadas no ambiente digital.
Além disso, 58% disseram ter sofrido ameaças ou abusos pessoalmente, e 26% ter sido vítimas de ataques físicos.
A repórter paraguaia Clara Martínez sabe bem: em agosto de 2017, torcedores do clube de futebol Cerro Porteño a beijaram à força durante a cobertura de um clássico.
Situações similares ocorridas na cobertura de espetáculos esportivos no Brasil e no México também são denunciadas no relatório.
- Desafios mesmo no topo -Apesar de avanços recentes, a igualdade entre homens e mulheres está longe de ser uma realidade nesta carreira, já que "persiste a percepção de que o jornalismo não é uma profissão 'apropriada' para as mulheres".
O percentual de apresentadoras ou repórteres de TV está crescendo na região, mas as oportunidades de crescimento profissional das mulheres continuam limitadas, diz o relatório.
As mulheres são sobrerrepresentadas na cobertura de temas tradicionalmente associados ao "feminino" e sub-representadas em editorias consideradas mais importantes, como política e economia.
Além disso, "as jornalistas encontram muitas vezes os chamados 'tetos de vidro' para chegar a cargos de direção", explica Lanza.
Além de poucas na região terem acesso a cargos de gestão na imprensa, quando os alcançam, enfrentam uma desigualdade salarial maior, diz o relatório, que se refere a casos em que homens ganham o dobro que as mulheres pelo mesmo trabalho.
- Transformar a realidade -Entre 2012 e 2015, 38% dos jornalistas assassinados na América Latina e no Caribe foram mulheres.
O relatório notou que a violência e a discriminação contra jornalistas mulheres é um problema no México e na Colômbia, enquanto no Brasil e nos Estados Unidos destacam-se o abuso sexual e o assédio online.
O estudo indica que as jornalistas "enfrentam desproteção e obstáculos no acesso à Justiça diferenciados de seus colegas homens".
Lanza disse que procuradores veem esses temas como algo secundário ou não têm ferramentas para investigar.
O relatório não apenas visibiliza a realidade, mas faz recomendações para os Estados, os veículos de comunicação, as universidades, os sindicatos e a sociedade civil para transformá-la.
"É um fenômeno que efetivamente pode ser enfrentado e no qual os Estados têm obrigações específicas, como as estabelecidas pela Convenção de Belém do Pará para erradicar a violência contra a mulher, ratificada praticamente por toda a região", garantiu Lanza.
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