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Ex-chefe de campanha de Trump condenado a quase sete anos após nova sentença

Ex-diretor de campanha de Trump, Paul Manafort - MANDEL NGAN/AFP
Ex-diretor de campanha de Trump, Paul Manafort Imagem: MANDEL NGAN/AFP

13/03/2019 18h13

Paul Manafort, ex-chefe de campanha do presidente americano Donald Trump, terá que passar quase sete anos na prisão após somar uma nova condenação por conspiração a outra já proferida por fraude fiscal e bancária.

"O acusado não é inimigo público número um", mas "também não é uma vítima", declarou a juíza federal Amy Berman Jackson ao anunciar a sentença de 43 meses de prisão para Manafort, que já tinha sido condenado na semana passada a 47 meses de reclusão.

A magistrada acrescentou que o réu demonstrou pouco arrependimento e mentiu reiteradamente. Ela já tinha enviado Manafort à prisão no ano passado, depois de ser acusado de manipular testemunhas, uma das acusações de conspiração da qual se declarou culpado.

Manafort, que fará 70 anos em 1º de abril, teve reconhecidos os nove meses que já ficou preso, razão pela qual a pena que vai cumprir no total será de 81 meses, pouco menos de sete anos.

O caso Manafort é o principal resultado da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016.

Ele é um entre os vários assessores e pessoas vinculadas ao presidente americano, acusados por Mueller, embora até agora nenhum deles tenha sido acusado de conivência direta com Moscou para que Trump fosse eleito para a Casa Branca.

A juíza Jackson destacou na corte que o caso não tem nada a ver com as eleições de 2016, mas estava vinculado às atividades de consultoria política e lobby que Manafort realizou durante uma década para políticos ucranianos pró-russos.

O tema de se houve conluio entre os membros da campanha de Trump e a Rússia "não esteve presente neste caso, ponto", disse a juíza, que ridicularizou os argumentos da defesa de que a acusação contra Manafort surgiu só a partir da investigação conduzida por Mueller. "O Departamento de Justiça já estava investigando este anúncio", assegurou.

"Lamento"

Antes de sua sentença, Manafort, que entrou no tribunal em cadeira de rodas, expressou arrependimento e pediu à juíza que não adicionasse mais tempo de prisão aos 47 meses aos quais havia sido sentenciado na semana passada pelo caso de fraude fiscal e bancária.

"Lamento o que fiz e todas as atividades que me trouxeram hoje aqui", disse o ex-chefe de campanha de Trump. "Aceito a responsabilidade" pelo ocorrido, assegurou. "Estou arrependido destes erros".

Em agosto, um júri declarou Manafort culpado de cinco acusações por apresentar declarações de impostos falsas, fraude bancária e não informar sobre uma conta bancária no exterior.

Sua condenação representou a queda de um homem que também trabalhou na corrida para a Casa Branca de outros três presidentes republicanos: Gerald Ford, Ronald Reagan, George H.W. Bush, e na fracassada campanha de Bob Dole.

As acusações contra Manafort, que dirigiu por dois meses a campanha de Trump em 2016, não abordam essa faceta.

Os promotores alegaram que ele usou contas bancárias "offshore" para esconder mais de 55 milhões de dólares que embolsou por seu trabalho para políticos apoiados pela Rússia.

O ex-chefe de campanha usou este dinheiro para manter um alto padrão de vida, que incluía compra de casas e automóveis de luxo, tapetes antigos e roupas caras, como uma jaqueta de couro de píton de 18.500 dólares.

O juiz do distrito T.S. Ellis condenou na semana passada Manafort a 47 meses de prisão por por fraude fiscal e bancária, uma pena muito inferior às pautas de sentença federais de 19 a 24 anos, o que rendeu ao magistrado fortes críticas por ter sido considerado indulgente.

Nova acusação em Nova York

Trump costuma tachar a investigação de Mueller de "caça às bruxas política" e deixou entrever a possibilidade de conceder indultos a alguns dos acusados pelo procurador especial, um ex-diretor do FBI.

"Me sinto muito mal por Paul Manafort. Em termos humanos, é muito triste", disse Trump nesta quarta-feira a jornalistas na Casa Branca. O presidente não descartou um indulto para quem dirigiu sua equipe de campanha, dizendo simplesmente: "Nem mesmo pensei nisso".

O consultor político também foi acusado de 16 crimes de fraude em Nova York por falsificar documentos para obter empréstimos hipotecários milionários, anunciou nesta quarta o procurador de Manhattan, Cyrus Vance. "Ninguém está acima da lei em Nova York", disse Vance em um comunicado.

Embora Trump possa lhe conceder anistia por crimes federais, se Manafort for considerado culpado das 16 acusações feitas contra ele na Suprema Corte de Justiça de Nova York, não poderá se livrar da cadeia, pois o presidente não em autoridade sobre crimes estaduais.

Estes crimes podem lhe render até 25 anos de prisão.

A promotoria de Nova York começou a investigar Manafort há dois anos, examinando empréstimos hipotecários que ele recebeu de dois bancos.