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Justiça da Austrália condena cardeal Pell a seis anos de prisão por pedofilia

13/03/2019 06h09

Melbourne, 13 Mar 2019 (AFP) - O cardeal australiano George Pell, ex-número três do Vaticano e o mais alto representante da Igreja católica a ser condenado por pedofilia, recebeu uma pena de seis anos de prisão por abusos contra crianças.

A Corte de Melbourne (sul da Austrália) havia declarado o religioso, de 77 anos, culpado em 27 de fevereiro por agressão sexual e outras quatro acusações de atentado ao pudor contra dois coroinhas - de 12 e 13 anos - na sacristia da Catedral de São Patrício em Melbourne e, 1996 e 1997.

Ao definir a sentença, o juiz Peter Kidd declarou que levou em conta os delitos "horríveis" e a avançada idade do clérigo, que enfrentava uma pena máxima de até 50 anos pelo crime.

Pell, que insiste em sua inocência, manteve o silêncio enquanto o juiz descrevia os ataques contra os menores e avaliava que "poderá não viver o suficiente para ser libertado".

A declaração de Kidd foi transmitida ao vivo pela televisão australiana, o que demonstra a grande repercussão do caso.

O cardeal foi obrigado a assinar o registro de agressores sexuais e deverá cumprir no mínimo três anos e oito meses de prisão da sentença de seis anos.

De acordo com Kidd, Pell sofre de problemas cardíacos mas poderia ser beneficiado por uma transferência para liberdade monitorada no fim de 2022.

Pell se aproximou das duas crianças quando elas eram bolsistas do tradicional colégio St. Kevin e cometeu os crimes de abuso em dezembro 1996. Ainda segundo os dados levantados, um dos meninos voltou a sofrer a agressão sexual dois meses depois.

"Há um nível adicional de degradação e humilhação que cada uma de suas vítimas deve ter sentido ao saber que o abuso que sofreram foi visto pelo outro", disse o magistrado, acrescentando que o condenado era o cardeal, e não a Igreja Católica.

Um dos coroinhas vítimas de Pell morreu em 2014 em decorrência de uma overdose.

"Não há descanso para mim", afirmou a vítima conhecida apenas como "J", em uma nota lida por sua advogada, Vivian Waller.

"Aprecio que o tribunal tenha reconhecido o dano que sofri quando era um menino", completou "J", mas destacou que "tudo fica confuso pelo recurso de apelação que se aproxima".

A família da vítima que faleceu em 2014 divulgou um comunicado curto no qual indica a "decepção" com o tempo de sentença de Pell.

O cardeal, que foi prefeito da secretaria de Assuntos Econômicos (o terceiro cargo em importância na estrutura administrativa da Igreja), ocupou o cargo de arcebispo de Melbourne entre 1996 e 2001 e depois se tornou arcebispo de Sidney até 2014, quando foi para o Vaticano, convidado pelo papa Francisco para responder pelas finanças entidade.

A apelação de Pell será objeto de audiências nos dias 5 e 6 de junho.

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