Topo

Parlamento britânico vota para descartar um Brexit sem acordo

13/03/2019 12h45

Londres, 13 Mar 2019 (AFP) - Os deputados britânicos votam nesta quarta-feira a favor ou contra um divórcio da União Europeia sem acordo e com consequências econômicas e sociais dramáticas depois de infligir na véspera uma segunda derrota ao acordo do Brexit da primeira-ministra Theresa May.

"Posso ser que não tenha minha própria voz", afirmou May no parlamento, há dois dias visivelmente cansada e muito rouca. "Mas eu ouço a voz do país (...) as pessoas querem deixar a UE (...) e para cumprir isso é o que eu ainda estou trabalhando", acrescentou, depois que os deputados britânicos rejeitaram pela segunda vez o acordo Brexit que ela havia negociado com Bruxelas.

Depois de cinco horas de debates, os deputados, que em janeiro já haviam rejeitado o acordo Brexit alcançado pelo primeira-ministra britânica com a União Europeia (UE), voltaram a derrubar o texto com 391 votos contra 242.

Theresa May havia prometido em fevereiro que, se os deputados rejeitassem o acordo novamente, ela organizaria uma nova votação no dia seguinte para deixar claro se eles eram a favor ou contra um Brexit sem um acordo.

May tentou salvar o texto, um calhamaço de 585 páginas, fruto de um ano e meio de negociações árduas, literalmente até o último minuto.

Mas o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, disse após a votação que o destino do tratado negociado por May foi selado.

"Seu acordo, sua proposta, o que a primeira-ministra apresentou, está claramente morto", afirmou Corbyn.

Para o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a nova rejeição do acordo de divórcio negociado entre Londres e Bruxelas, aumentou "significativamente a probabilidade de um Brexit sem acordo" faltando apenas 17 dias para a data prevista para a ruptura.

A derrota representa um novo revés histórico ao tratado que devia pôr fim a 46 anos de integração britânica no bloco europeu, embora tenha sido menor que a derrota humilhante que May sofreu em janeiro, quando 432 deputados votaram contra e 202 a favor de seu projeto.

Um adiamento da separação também poderá resultar na organização de um segundo referendo, após o de junho de 2016, que terminou com 52% de votos a favor do Brexit e iniciou todo este processo.

A opção enfrenta o repúdio frontal do governo, mas tem cada vez mais adeptos entre os deputados britânicos que gostariam de anular o Brexit simplesmente.

- Menor crescimento -"Em longo prazo, poderemos acabar transformando um Brexit sem acordo em um sucesso, mas haverá uma reviravolta econômica significativa em curto prazo", declarou May na véspera.

Para o Banco da Inglaterra, este cenário, o mais temido pelos ambientes empresariais, mergulharia o país em uma grave crise econômica, com um aumento do desemprego e da inflação, queda da libra e do preço da habitação e quase 10% de redução do PIB.

O crescimento do Reino Unido pode chegar a apenas 1,2% em 2019, menos do que os 1,6% anunciados em outubro, segundo os últimos dados do instituto público OBR divulgados nesta quarta-feira pelo ministro da Fazenda britânico, Philip Hammond.

No entanto, as previsões de crescimento mantiveram-se em 1,4% para 2020 e aumentaram ligeiramente para 1,6% em 2021 e 2022, abrindo uma perspectiva ligeiramente melhor do que na estimativa anterior.

No entanto, o ministro também indicou que a economia do Reino Unido continua sob ameaça da "nuvem de incerteza" em função do Brexit.

- Por que prorrogar? -Para o negociador europeu, Michel Barnier, o Reino Unido deve decidir que tipo de relação futura pós-Brexit deseja com os 27 sócios europeus antes de solicitar uma eventual prorrogação da data de saída.

"Prolongar esta negociação para quê? A negociação do Artigo 50 (sobre um acordo de divórcio) terminou", disse Barnier no plenário da Eurocâmara em Estrasburgo (França).

Barnier afirmou que após as votações desta quinta, o governo de Theresa May deve informar a UE sobre "como deseja continuar".

"É responsabilidade do Reino Unido nos dizer o que deseja para nossa relação futura, qual é sua escolha, qual é a sua linha clara", afirmou o negociador europeu.

Por sua vez, a chanceler alemã, Angela Merkel, insistiu, durante uma coletiva de imprensa em Berlim, que a coisa mais conveniente continua sendo, "pelo interesse comum, alcançar uma saída (britânica) ordenada".

acc-tjc/zm/fp/cn