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Extremista autor da matança na Nova Zelândia comparece ante tribunal

16/03/2019 09h41

Christchurch, Nova Zelândia, 16 Mar 2019 (AFP) - O extremista de extrema direita, autor do banho de sangue ocorrido na sexta-feira em duas mesquitas na Nova Zelândia - que matou 49 fiéis - foi apresentado neste sábado ante um tribunal na cidade de Christchurch, onde foi acusado de homicídio.

O australiano Brenton Tarrant, de 28 anos, algemado, escutou impassível a leitura das acusações contra ele.

O militante de extrema-direita, ex-preparador físico, de vez em quando olhava para os integrantes da imprensa presentes no tribunal durante a breve audiência realizada a portas fechadas por razões de segurança.

Tarrant não pediu fiança e permanecerá na prisão até a próxima audiência, marcada para 5 de abril.

Outras duas pessoas estão sob custódia, embora seus vínculos com o massacre sejam desconhecidos.

Uma terceira pessoa que havia sido detida mais cedo foi apontada como alguém comum com arma de fogo que tentou ajudar.

Do lado de fora do tribunal, foi possível ver agentes de elite fortemente armados em todos os pontos de acesso.

No lado de fora, os filhos de um afegão de 71 anos, Daoud Nabi, que morreu no tiroteio, exigiram justiça.

"É repugnante, é uma sensação de repugnância", declarou um dos filhos de Nabi.

Enquanto isso, 42 pessoas - incluindo uma criança de apenas 4 anos de idade - ainda eram tratadas em vários hospitais como resultado dos ferimentos sofridos durante os ataques de Tarrant.

A ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse neste sábado que as vítimas incluem cidadãos da Turquia, Bangladesh, Indonésia e Malásia.

Segundo o canal de televisão Al Arabiya, há pelo menos um cidadão saudita entre as vítimas, enquanto as autoridades paquistanesas alegam que cinco de seus cidadãos estão desaparecidos.

- Controle de armas -Usando um véu escuro, a primeira-ministra se reuniu neste sábado com sobreviventes e parentes das vítimas em uma escola que se tornou um centro de informação para os afetados pelo massacre.

Sahra Ahmed, uma neozelandesa de origem somali, disse ter ficado emocionada com o gesto de Ardern.

"Significa muito para nós. Foi um sinal, como se ela tivesse me dito: 'Eu estou do seu lado'", declarou Ahmed à AFP.

Ardern prometeu neste sábado que o país vai endurecer a legislação sobre o acesso às armas.

De acordo com Ardern, o australiano Brenton Tarrant tirou uma licença em novembro de 2017 que permitiu a ele comprar legalmente as armas que usou na matança nas duas mesquitas.

"O simples fato de que este indivíduo obteve uma licença e adquiriu armas com esse poder, faz com que as pessoas busquem claramente uma mudança, e eu estou comprometida com isso", afirmou em entrevista coletiva.

"Eu posso dizer uma coisa agora: nossas leis sobre armas vão mudar", enfatizou.

- Massacre em vídeo -O suspeito documentou sua radicalização e os dois anos de preparativos para o ataque em um longo e rebuscado 'manifesto', repleto de ideias conspiratórias.

A chocante filmagem que ele fez ao vivo mostra um atirador implacável indo de sala em sala, matando uma vítima de cada vez, atirando à curta distância enquanto as vítimas tentavam rastejar para longe na principal mesquita de Christchurch.

A Polícia neozelandesa descreveu a filmagem feita pelo assassino - cuja autenticidade foi verificada pela AFP, mas não compartilhado - como "extremamente angustiante" e alertou usuários da internet de que podem ser condenados a até dez anos de prisão por compartilhar este conteúdo.

O ataque chocou os neozelandeses, acostumados com índices de violência de 50 homicídios ao ano em todo o país, de 4,8 milhões de habitantes, orgulhoso de viver em um lugar seguro e receptivo.

O ataque também chocou a população muçulmana local, formada em grande parte por refugiados.

Christchurch, uma cidade relativamente pequena na ilha sul neozelandesa, ocupou as manchetes dos jornais em 2011, quando foi atingida por um terremoto mortal, que deixou mais de 180 mortos.

Ataques a tiros são muito raros na Nova Zelândia, que tornou mais duras suas leis para armas para restringir o acesso a rifles semiautomáticos em 1992, dois anos depois de um homem com problemas mentais matar 13 pessoas a tiros na cidade de Aramoana, na Ilha Sul.