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Cardeal Barbarin visita o papa para apresentar sua demissão

18/03/2019 10h22

Cidade do Vaticano, 18 Mar 2019 (AFP) - O papa Francisco recebeu nesta segunda-feira (18) o cardeal Philippe Barbarin, o mais alto dignitário católico francês, que veio apresentar sua renúncia após sua condenação a seis meses de prisão com sursis por não denunciar os crimes sexuais de um padre.

A reunião privada foi realizada com discreção no Vaticano, confirmou a Santa Sé.

No final da manhã, o cardeal foi visto e fotografado por um vaticanista italiano andando nos jardins da Cidade do Vaticano.

O papa argentino defendeu por muito tempo o cardeal francês. Em 2016, considerou que uma demissão antes do julgamento seria "uma imprudência".

Francisco pode levar várias semanas para decidir se aceita ou não a renúncia.

Arcebispo de Lyon desde 2002, cardeal desde 2003, primaz da Gália (título honorário conferido ao arcebispo de Lyon desde o século XI), Philippe Barbarin é considerado o mais alto dignitário da Igreja da França. Se sua renúncia for aceita, ele se tornará "bispo emérito" de Lyon e permanecerá cardeal.

Barbarin, de 68 anos, uma idade precoce na Igreja para renunciar, foi condenado em 7 de março a seis meses de prisão com sursis por seu silêncio sobre os ataques pedófilos cometidos pelo padre Bernard Preynat nos anos 1980/1990 e sobre os quais ele havia sido informado por uma vítima em 2014.

O cardeal insistiu durante seu julgamento que "nunca procurou esconder, muito menos acobertar esses fatos horríveis". Mas o acórdão acusa-o de ter optado por não dizer nada às autoridades francesas "para preservar a instituição" da Igreja, impedindo assim "a descoberta de muitas vítimas de abuso sexual pela justiça".

Apesar de o bispo querer se demitir para apaziguar sua diocese, onde sua presença agora é difícil, ele já recorreu de sua condenação.

O papa, decidido a fazer com que os bispos encarem suas responsabilidades individuais e colegiais face aos escândalos, vai se posicionar antes da apelação?

"Nenhum abuso deve ser encoberto, como foi o caso no passado, e subvalorizado", declarou em fevereiro o pontífice, depois de uma reunião da cúpula da Igreja sobre a pedofilia.

Os advogados do cardeal Barbarin redigiram uma nota jurídica sobre sua condenação, expondo as perspectivas de um julgamento em apelação. Um documento traduzido para o espanhol para a atenção do papa argentino.

Em outubro, Francisco concordou relutantemente, e depois de três semanas de reflexão, a renúncia do cardeal americano Donald Wuerl, arcebispo de Washington suspeito por um júri popular de ter abafado um vasto escândalo de abuso sexual na Pensilvânia (nordeste Estados Unidos).

O prelado americano de 77 anos, que afirma ter agido "no interesse das vítimas" e foi elogiado pelo papa, não foi condenado como o cardeal francês.

O caso Barbarin ocorre em um momento delicado nas relações diplomáticas entre a França e a Santa Sé.

A Procuradoria de Paris acaba de pedir o levantamento da imunidade diplomática do núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) na França, o monsenhor Luigi Ventura, para ouvi-lo em uma investigação por "agressão sexual".

A Justiça francesa recebeu uma quarta queixa, que se soma àquelas apresentadas por três homens acusando o bispo de 74 anos de apalpar suas nádegas.

No início de março, a ministra francesa dos Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, disse que esperava que o Vaticano assumisse suas "responsabilidades".

Para complicar ainda mais, a França ainda não propôs uma substituição ao seu embaixador na Santa Sé, que se aposentou há oito meses e meio, mesmo que o ínterim seja assegurado por seu encarregado Yves Teyssier d'Orfeuil.

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