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Falta de acesso à água potável mata 780.000 pessoas por ano

19/03/2019 09h24

Paris, 19 Mar 2019 (AFP) - A falta de acesso à água potável mata anualmente 780.000 pessoas no mundo, de acordo com um relatório da ONU, que aponta o desafio para os próximos anos de conjugar a diminuição deste recurso vital com a explosão da demanda.

A demanda mundial de água aumentará entre 20% e 30% até 2050 em comparação ao nível atual, devido ao crescimento demográfico, ao desenvolvimento econômico e à evolução dos modos de consumo, afirma o documento anual da ONU-Água e da Unesco.

Além disso, a mudança climática complicará o acesso à água potável em consequência das secas e inundações.

A cada ano, o acesso insuficiente a uma água potável de qualidade e a falta de saneamento eficaz das águas usadas provocam 780.000 mortes, consequência da disenteria e do cólera, mais do que vítimas de conflitos, terremotos e epidemias, segundo o relatório.

Em 2015, quase 844 milhões de pessoas não tinham acesso a um serviço de água potável de qualidade, e apenas 39% da população mundial contava com um sistema de saneamento seguro.

- Um direito vital -"O acesso à água é um direito humano vital. Porém, bilhões de pessoas continuam privadas", afirma em um comunicado a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Audrey Azoulay.

O objetivo definido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que prevê acesso universal e igualitário à água potável em 2030 a um preço acessível, pode não ser alcançado.

As fontes de contaminação são as matérias fecais, os pesticidas e os nitratos utilizados na agricultura, mas também os "contaminantes emergentes" como os resíduos de medicamentos.

Os autores do relatório destacam que as principais vítimas nesta situação, em geral, são os pobres em zonas urbanas e rurais e os deslocados.

"Nos países menos avançados, 62% dos cidadãos vivem em bairros periféricos pobres e geralmente não têm acesso aos serviços de água ou de saneamento", afirmou o redator-chefe do relatório, Richard Connor.

Estes moradores precisam comprar água de vendedores ambulantes, ou distribuidores com carros-pipa, pagando até dez vezes mais caro do que os cidadãos mais ricos, que têm acesso à água na torneira, destaca Connor.

A maioria das pessoas que sofrem este problema se encontra nas zonas rurais, de acordo com o relatório, que ressalta as dificuldades sofridas pelas mulheres, em função da carga "desproporcional" que representa buscar água.

Os refugiados também vivem uma situação difícil. Em 2017, 68,5 milhões de pessoas no mundo eram deslocados por conflitos e perseguições. Estas populações "enfrentam com frequência obstáculos para acessar os serviços fundamentais de fornecimento de água e saneamento". Para completar, os "deslocamentos em massa exercem pressão sobre os recursos e os serviços".

Para responder aos desafios, a ONU defende que os "ricos, que pagam muito pouco, comecem a pagar mais para que o acesso se torne universal".

Os países, assim como os atores privados, devem investir fortemente em infraestruturas. As necessidades são calculadas em 114 bilhões de dólares por ano, o triplo do destinado atualmente, sem levar em consideração os custos de funcionamento e de manutenção.

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