Topo

Chefe da junta militar do Sudão promete "eliminar na raiz" o antigo regime

13/04/2019 14h08

Cartum, 13 Abr 2019 (AFP) - O novo homem forte do Sudão prometeu neste sábado "eliminar na raiz" o regime de Omar al Bashir e anunciou uma série de medidas como concessões aos manifestantes, pressionado para fazer uma rápida transição a um governo civil.

Abdel Fatah al Burhan, nomeado na sexta-feira chefe do Conselho Militar responsável pela transição após a queda de Bashir, prometeu "eliminar" o regime na "raiz", em um discurso exibido pela televisão estatal.

Também anunciou o fim do toque de recolher, a libertação de todos os manifestantes detidos nas últimas semanas e se comprometeu a levar a julgamento as pessoas que mataram manifestantes nos protestos.

Dois dias depois da destituição pelo exército do presidente Omar al Bashir, suspeito de genocídio em Darfur e que governou o Sudão com mão de ferro durante três décadas, os acontecimentos avança em grande velocidade.

Na sexta-feira, a junta militar responsável pela transição substituiu o próprio comandante, uma decisão comemorada por milhares sudaneses que permanecem mobilizados diante do quartel-general do exército em Cartum.

Neste sábado, dentro do aparelho do Estado foi a vez do temido serviço de inteligência NISS: "O diretor do Conselho Militar de transição, Abdel Fatah al Burhan, aceitou a demissão de Salah Gosh", diretor do NISS, anunciou a junta em um comunicado.

Gosh, que havia retomado o comando do NISS em 2018, após uma década à frente dos serviços de inteligência até 2009, supervisionou nos últimos quatro meses a repressão das manifestações.

A repressão provocou a detenção de milhares de manifestantes, líderes da oposição e jornalistas.

Dezenas de pessoas morreram desde o início do movimento em dezembro.

Na sexta-feira, milhares de sudaneses celebraram a demissão de Awad Ibn Ouf, militar próximo a Al Bashir, que passou apenas 24 horas no comando da junta militar.

Ibn Ouf foi substituído por Abdel Fatah al Burhan, inspetor geral das Forças Armadas, respeitado dentro da instituição mas desconhecido da população.

Apesar dos anúncios, a multidão permanece mobilizada. Durante a manhã, os soldados retiraram as barricadas que haviam sido instaladas em várias ruas próximas do QG, onde os manifestantes debatem com os militares ou limpam o local, preparam comida ou bebem chá e café, após a sétima noite consecutiva no local.

Os manifestantes demonstraram satisfação com a evolução dos acontecimentos.

"Em dois dias derrubamos dois presidentes" e "conseguimos" eram algumas palavras gritadas pelos manifestantes, que exibem bandeiras sudanesas.

Na sexta-feira, os generais no poder tentaram acalmar a comunidade internacional e os manifestantes sobre suas intenções, prometendo devolver o país a um governo civil.

"O papel do Conselho Militar é proteger a segurança e a estabilidade do país", afirmou o tenente-general Omar Zinelabidin, membro da junta, a diplomatas árabes e africanos.

"Não é um golpe de Estado militar, e sim uma tomada de decisão a favor do povo", completou.

"Iniciaremos um diálogo com os partidos políticos para estudar como administrar o Sudão. Haverá um governo civil e não vamos intervir na composição", disse.

A junta militar afirmou que Al Bashir está detido, mas não será entregue ao exterior. O Tribunal Penal Internacional (TPI) tem um pedido de captura do ex-presidente por crimes de guerra e genocídio na região de Darfur.

Neste sábado, o NCP (Congresso Nacional), partido do ex-presidente, pediu a libertação de seus líderes, sem mencionar explicitamente o nome de Bashir.

- "Governo civil" -Os organizadores dos protestos pediram aos militares a transferência do poder para um governo civil de transição".

O embaixador do Sudão na ONU, Yasir Abdelsalam, tentou dissipar os temores no Conselho Segurança.

"A junta militar se contentará em ser a fiadora de um governo civil", disse.

Também afirmou que o período de transição pode "ser reduzido em função das evoluções".

Entre as medidas decretadas na quinta-feira pelos militares está o fechamento das fronteiras terrestres até nova ordem e o cessar-fogo em todo o país, especialmente em Darfur (oeste), onde um conflito deixou mais de 300.000 mortos desde 2003, segundo a ONU.

ab-jds/feb/gk/bc/pc/eg/al/fp