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Combates ficam estagnados na Líbia, mas situação humanitária piora

23/04/2019 18h03

Trípoli, 23 Abr 2019 (AFP) - Os combates parecem estagnados na Líbia, três semanas após o início da ofensiva do marechal Khalifa Haftar contra a capital Trípoli, sede do governo reconhecido pela comunidade internacional, mas a situação humanitária tem "piorado" e "preocupa" a ONU.

De acordo com uma avaliação recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), 264 pessoas, incluindo civis, morreram e 1.266 ficaram feridas desde o início dos combates, em 4 de abril. Pelo menos 35 mil civis fugiram dos combates, segundo a vice-enviada da ONU para a Líbia, Maria do Valle Ribeiro, e "os deslocamentos aumentam a cada dia".

Por falta de números precisos, os balanços "são apenas estimativas", disse ela durante uma videoconferência na segunda-feira com a sede da organização em Nova York.

Khalifa Haftar, homem forte do leste da Líbia, lançou em 4 de abril uma ofensiva contra o governo de união nacional (GNA) liderado por Fayez al-Sarraj, único governo reconhecido pela comunidade internacional.

Depois de um rápido avanço até os acessos de Trípoli, as tropas do Exército Nacional Líbio (ENL) de Haftar pararam ao sul da capital, frente à resistência das forças leais ao GNA, que recebeu reforços do oeste do país.

As forças pró-governo anunciaram no sábado um contra-ataque que permitiu afastar em alguns quilômetros a frente de combate mais próxima de Trípoli, localizada na cidade de Ain Zara, a cerca de dez quilômetros do centro da cidade.

Mas nos últimos dias os combates diminuíram de intensidade, cada lado parecendo se preparar para uma possível futura fase militar. Disparos ocasionais de foguetes pontuam o dia.

"A maioria das frentes está calma", disse à AFP, Mustafa al-Mejii, porta-voz da operação do GNA. "Ordens foram dadas apenas às forças no perímetro (do antigo) aeroporto de Trípoli para consolidar suas posições", informou.

O ENL anunciou em sua página oficial no Facebook que recebeu reforços "significativos", particularmente de certas localidades do oeste.

Os confrontos têm "preocupado" a ONU, explicou a emissária, porque "a situação humanitária está piorando". Os confrontos têm "um impacto nos serviços sociais, incluindo saúde, mas também potencialmente na água, saneamento, eletricidade", disse ela.

Se dezenas de milhares de pessoas fugiram, "estamos preocupados com as pessoas que ainda estão nas zonas de combate, que queriam ter abandonado a área, mas não conseguiram, assim como os feridos, uma vez que os serviços de emergência não podem atendê-los", acrescentou.

"Um dos maiores problemas é o acesso" às áreas em questão, ela insistiu, chamando ambas as partes a "respeitarem o direito internacional humanitário".

Enquanto as grandes potências permanecem divididas no Conselho de Segurança sobre uma resolução pedindo um cessar-fogo, Maria do Valle Ribeiro disse que "qualquer país com influência deve usar essa influência para assegurar que os civis sejam protegidos".

Vários dirigentes africanos pediram, nesta terça, em uma reunião no Cairo comandada pelo chefe de Estado egípcio e presidente em exercício da União Africana (UA), Abdel Fatah al Sisi o fim "imediato e incondicional" dos combates na Líbia.

Junto com Al Sisi, os presidentes de Ruanda Paul Kagame e da África do Sul Cyril Ramaphosa, membros da "troica" sobre a Líbia, assim como o presidente do Congo, Denis Sassou-Nguesso, chefe da comissão sobre a Líbia na UA, fizeram um apelo "a todas as partes à moderação" para permitir "a chegada da ajuda humanitária".

A situação na Líbia, país mergulhado desde 2011 na instabilidade política, será discutida nesta terça-feira numa cúpula africanas no Cairo liderada pelo presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi.

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