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Ex-diretor da Odebrecht diz que também subornou governadores no Peru

25/04/2019 17h47

Curitiba, 25 Abr 2019 (AFP) - O ex-diretor da Odebrecht no Peru, Jorge Barata, afirmou nesta quinta-feira em depoimento a promotores peruanos que a Odebrecht subornou governadores do país, além de presidentes, para obter contratos de obras públicas.

Barata "repassou em forma de suborno 3% do valor de referência da obra" (uma estrada) para o então governador de Cusco (2011-2013), Jorge Acurio, disse o promotor Germán Juárez, no terceiro dia de depoimentos do principal nome da empresa brasileira no Peru na sede da Procuradoria-Geral em Curitiba.

"Tem sido a mais curta das diligências, ele tem fornecido dados", resumiu Juárez.

Nos dias anteriores, Barata confirmou que a empreiteira deu dinheiro em 2006 para a campanha eleitoral do ex-presidente Alan García, que cometeu suicídio na semana passada quando ia ser preso, e que também repassou mais de 4 milhões de dólares para seu então secretário na Presidência, Luis Nava.

A Procuradoria peruana suspeita que o destinatário final deste valor era Alan García, versão negada sempre pelo ex-presidente.

Os novos depoimentos de Barata também atingem o ex-presidente peruano Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu para os Estados Unidos, onde enfrenta um pedido de extradição para o Peru.

- 'Via da morte' -O suborno pago ao governador de Cusco chegou a 3 milhões de dólares pelo contrato de 100 milhões de dólares pela construção da chamada "Vía de Evitamiento", segundo revelou a Odebrecht em 2018 à justiça do Peru.

Do valor total, Acurio, que está detido por este caso, recebeu 1,5 milhão de dólares. O resto foi dividido entre outros funcionários do governo regional, segundo a imprensa peruana.

A "Vía de Evitamiento", construída em 2012, é uma rota periférica de 10 km de extensão na cidade andina de Cusco, a antiga capital do império inca e principal ponto de turismo do país. Esta estrada é popularmente chamada de "estrada da morte" por conta do seu mau estado de conservação.

Acurio era membro do partido Nacionalista do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016), investigado por lavagem de dinheiro por receber três milhões de dólares da Odebrecht para sua campanha, segundo Barata.

Humala, que ficou em prisão preventiva com a esposa Nadine por este caso, nega ter recebido esse dinheiro, que segundo Barata saía de uma área da Odebrecht dedicada a subornos.

Barata também confirmou a existência de um cartel de empresas peruanas, chamado "clube da construção", que dividia as licitações das obras pagando subornos.

Os depoimentos de Barata fazem parte de um acordo de cooperação com a procuradoria peruana, pelo qual Lima não irá processá-lo no país em troca da delação dos funcionários peruanos corruptos.

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