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'Marcha do milhão' no Sudão mantém pressão sobre militares

25/04/2019 18h25

Cartum, 25 Abr 2019 (AFP) - Cartum, a capital do Sudão, reuniu nesta quinta-feira uma multidão de manifestantes para a "marcha do milhão" convocada por líderes do protesto civil, apesar das discussões com os militares sobre a passagem de poder para uma autoridade civil.

Um Conselho militar de transição ocupa o poder no Sudão desde a derrocada, por parte do Exército, do presidente Omar Al-Bashir em 11 de abril, em meio à pressão popular.

"Queremos que o Conselho militar vá embora, queremos um governo civil", explicou Adam Ahmed, estudante de Medicina que, como muitos sudaneses, foi nesta quinta à sede do Exército, onde há um protesto constante desde 6 de abril.

"Olho por olho, dente por dente, não aceitaremos as compensações" propostas pelos militares até agora, gritavam os manifestantes. Eles pedem que autoridades do regime de Omar Al-Bashir durante seus 30 anos no poder sejam condenadas.

Na véspera, três generais dos dez membros do Conselho militar renunciaram.

Pela primeira vez, vestindo a toga, juízes marcharam a partir da Corte Constitucional para pedir a independência do sistema judicial e rejeitar "qualquer intervenção política", afirmou um deles à imprensa.

Mas quando chegaram ao quartel-general do Exército, alguns manifestantes os receberam com ira, acusando-os de já terem adotado decisões favoráveis ao regime de Al-Bashir.

Grupos de mulheres, particularmente ativas desde o começo da mobilização em 19 de dezembro, balançavam bandeiras sudanesas e cantavam.

Também houve protestos em outros cinco estados do país, um deles na região de Darfur (oeste), em conflito, em resposta à convocação para a "marcha do milhão" lançada pela Aliança pela Liberdade e pela Mudança (ALC), que reúne os principais grupos do movimento de protesto.

Diante da pressão crescente, militares anunciaram na noite de quarta-feira um acordo com a ALC "sobre a maioria das exigências apresentadas" pela coalizão, sem dar maiores detalhes.

Um dos líderes da oposição presentes na reunião, Ahmed Al-Rabia, acrescentou que as partes também concordaram em formar um Conselho Conjunto, sem dar detalhes.

Logo em seguida, o Conselho Militar anunciou a demissão de três de seus membros, os generais Omar Zain Al-Abdin, Jalaludin Al-Sheikh e Al-Tayieb Babikir.

A revolta, que começou em 19 de dezembro após a decisão do governo de Al-Bashir de triplicar o preço do pão, rapidamente se tornou um protesto sem precedentes contra o presidente hoje derrubado e preso, e mais amplamente contra todo o sistema político.

O movimento recebeu nesta semana o apoio dos Estados Unidos, que alegaram sustentar a "legítima demanda" dos sudaneses por um governo dirigido por civis.

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