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EUA faz acusações contra Irã por incidentes no Golfo, mas reduz o tom

21/05/2019 18h07

Washington, 21 Mai 2019 (AFP) - O governo dos Estados Unidos afirmou nesta terça-feira (21) que é "bastante provável" que o Irã esteja por trás de vários incidentes de sabotagem contra quatro navios petroleiros no Golfo Pérsico, mas destacou que sua dura resposta permitiu deter as ameaças de Teerã.

Altos funcionários da Casa Branca pareciam estar reduzindo o tom da retórica após semanas de duras advertências contra o Irã, antes de comparecer nesta terça perante o Congresso, onde os opositores democratas acusam o governo de os Estados Unidos a um conflito baseado em exageros.

"Trata-se de dissuadir, não de entrar em guerra. Não estamos tentando entrar em guerra", disse o secretário interino da Defesa, Patrick Shanahan, a jornalistas, após uma sessão a portas fechadas com o secretário de Estado, Mike Pompeo.

Mais cedo, Pompeo disse que seu país não chegou a uma "conclusão definitiva" que possa ser difundida sobre as sabotagens misteriosas de navios petroleiros na costa dos Emirados Árabes Unidos e o ataque com um drone contra um oleoduto na Arábia Saudita.

"Mas considerados todos os conflitos que vimos na última década e o alcance dos ataques, parece bastante provável que o Irã esteja por trás" deles, disse Pompeo em entrevista por rádio ao apresentador conservador Hugh Hewitt, antes de uma audiência a portas fechadas no Congresso.

Para Pompeo, "o mais importante" é que os Estados Unidos vão continuar tomando ações para proteger seus interesses e que sejam dissuasivas para frear o "mau comportamento do Irã na região".

A Arábia Saudita, um aliado próximo dos Estados Unidos, acusou o Irã de ter ordenado um ataque com um drone contra um oleoduto, reivindicado na semana passada pelos rebeldes huthis no Iêmen, apoiados por Teerã.

- Pausa nas ameaças -O assessor de segurança da Casa Branca, John Bolton, advertiu no começo do mês para uma resposta "implacável" se o Irã atacar interesses americanos, ao anunciar o envio para a região de um porta-aviões, ao qual se somou uma frota de bombardeiros.

O chefe do Pentágono, Patrick Shanahan, defendeu que as ações dos Estados Unidos permitiram "pôr em pausa" as ameaças do Irã.

"Eu diria que estamos em um período onde o risco continua sendo alto e nosso trabalho é nos assegurarmos de que não há um erro de cálculo dos iranianos", disse o secretário da Defesa, que também foi convocado para uma audiência a portas fechadas no Congresso sobre a escalada das tensões com Teerã.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohamad Javad Zarif, advertiu que com sua atividade militar, "os Estados Unidos estão jogando um jogo muito, mas muito perigoso", advertindo para "consequências dolorosas" de uma "escalada" contra o Irã.

"O fato de ter todos estes recursos militares em um pequeno espaço navegável [o Golfo] é em si mesmo um fator para que ocorram acidentes, sobretudo para as pessoas que buscam o acidente", acrescentou Zarif em entrevista à CNN, em uma aparente alusão a seus adversários regionais, como a Arábia Saudita.

- Libertação de prisioneiros? -Estas tensões entre vizinhos ocorrem no âmbito de uma escalada no confronto verbal entre Washington e Teerã, quando se completa um ano da decisão dos Estados Unidos de se retirar do acordo nuclear com o Irã, uma estratégia acompanhada de sanções draconianas contra a República Islâmica.

O governo de Trump adotou uma estratégia de "pressão máxima" para debilitar a influência regional do regime teocrático, inclusive iniciativas para cortar todas as vendas de petróleo iraniano.

Os democratas se dizem determinados a fazer com que a Casa Branca preste contas de suas decisões, depois de que falsas informações de Inteligência levaram à invasão do Iraque em 2003.

Ao entrar na audiência, o congressista Elliot Engel, democrata que preside o comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, disse que o governo deve "informar o Congresso por que parece que estamos rumo a uma guerra".

O senador democrata Tim Kaines disse que uma nova guerra no Oriente Médio seria uma "loucura absoluta", e embora tenha criticado o Irã, disse que suas ações representavam as respostas já previstas às medidas de Trump.

"Acho que o caminho até o nível de tensão atual começou quando o presidente Trump abandonou unilateralmente o acordo diplomático", disse Kaine na segunda-feira.

Trump reacendeu a polêmica no domingo com um tuíte: "Se o Irã quer brigar, este será o fim oficial do Irã".

Mas o presidente americano, que fez ameaças similares contra a Coreia do Norte antes de se reunir com o líder norte-coreano, Kim Jong Un, diminuiu no dia seguinte das ameaças iranianas e pediu diálogo.

Poucos esperam que os líderes iranianos se reúnam com Trump: a doutrina antiamericana é o ponto central da Revolução Islâmica desde 1979. Mas o chanceler iraniano propôs uma troca de prisioneiros, um passo que alguns especialistas veem como uma opção para retomar os diálogos de baixo escalão e reduzir as tensões.

Na entrevista, Pompeo disse que se tratava de "apenas uma insinuação" de que o Irã tenha a intenção de libertar cidadãos americanos detidos no país.

"Se fossem libertar estes americanos que estão detidos injustamente, seria algo bom", afirmou.