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Preocupada, comunidade judaica pede que se evite voto em extremistas na UE

24/05/2019 08h49

Bruxelas, 24 Mai 2019 (AFP) - Diante de um eventual auge das forças populistas e de extrema-direita nas eleições desta semana, a comunidade judaica da Europa expressa sua preocupação com o resultado das eleições, em um contexto de aumento do antissemitismo.

"Sabemos talvez melhor do que ninguém sobre o que se construiu na Europa depois do Holocausto, dos horrores da guerra", diz à AFP Ariella Woitchik, diretora do Congresso Judaico Europeu, pedindo votos em "um partido pró-europeu".

Mais de 9 de milhões viviam na Europa antes da Segunda Guerra Mundial e do extermínio dos judeus. Atualmente, a cifra caiu abaixo dos dois milhões e os líderes da comunidade judaica temem novas marchas.

"Não se deve dar a paz como fato consumado", insiste Woitchik em Bruxelas, onde a Polícia continua protegendo sinagogas e lojas cinco anos depois que quatro pessoas perderam a vida no Museu Judaico nas mãos de um extremista muçulmano francês.

A preocupação da comunidade não é exagerada. Segundo a Agência de Direitos Fundamentais da UE, um terço dos 16 mil judeus consultados na Europa dizem ter sido assediados em 2018 e 3% afirmam ter sofrido ataque físico.

A delegacia europeia da Justiça, a tcheca Vera Jourova, assegurou em janeiro que "quando os judeus abandonaram a Europa no passado, esse nunca foi um bom sinal do estado da Europa". Não são o único alvo.

Recentemente, a Comissão Europeia destacou que o "anticiganismo" está em aumento e advertiu para os "discursos extremos, incluso de políticos, e da propagação de discursos de ódio e de notícias falsas on-line" contra os ciganos.

- 'Sentimento de emergência' -Os judeus contemplam novamente deixar a Europa. "O número de judeus diminuiu nos últimos 20 anos, até 1,6 milhão", diz à AFP Pinchas Goldschmidt, grande rabino de Moscou e presidente dos rabinos da Europa.

Goldschmidt explica por uma "onda de atos terroristas em França, Bélgica, Dinamarca e em outras partes" e considera importante as eleições europeias "para transmitir aos judeus a mensagem de que continuam sendo bem-vindos na Europa".

Os partidos europeus modernos, inclusive os de extrema direita, raramente adotam abertamente um discurso antissemita, mas a recente campanha eleitoral teve um contexto preocupante para a comunidade.

Na Hungria, a comunidade judaica acusa o premiê, o populista Viktor Orban, incitar o antissemitismo com sua campanha contra o bilionário americano de origem húngara George Soros.

E na Polônia, seu mandatário, Mateusz Morawiecki, causou indignação esta semana ao declarar que se Varsóvia pagasse uma indenização pelos bens roubados dos judeus durante o Holocausto, seria uma "vitória póstuma" de Hitler.

Isto ocorreu depois que um candidato de extrema direita de Kielce interrompesse um debate televisionado para tentar colocar um quipá na cabeça de um candidato do partido governista, declarando que "se ajoelham perante os judeus".

Para o presidente dos rabinos da Europa, os excessos da campanha refletem uma tendência mais ampla de propagação do ódio que inclusive viu extremistas alemães marchar com símbolos neonazistas.

"Os políticos não têm medo de recorrer ao antissemitismo quando precisam", assegura. "A Segunda Guerra Mundial está se tornando uma lembrança do passado e o povo está esquecendo o que era viver sem a União Europeia".

Os líderes da comunidade judaica aceitam que muitos políticos, embora tarde, começaram a se dar conta da magnitude do problema, mas o tom do debate na Europa gerou neles nova preocupação.

Woitchik fala assim de um "sentimento de ansiedade na comunidade judaica". "Falamos, inclusive, de um sentimento de emergência porque se as coisas não melhorarem, as pessoas contemplam, inclusive, abandonar a Europa".

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