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Entre piratas, acidentes e bombas: petroleiros navegam por água turbulentas

14/06/2019 10h32

Nova York, 14 Jun 2019 (AFP) - Petroleiros, como os que foram atacados na quinta-feira (13) no Golfo de Omã, operam em águas turbulentas, enfrentando perigos como pirataria, choques e incidentes geopolíticos.

Cerca de 60 milhões de barris de petróleo viajam diariamente pelos mares ao redor do mundo, de acordo com a agência americana de informação sobre energia, a EIA (na sigla em inglês).

E um terço desse volume atravessa o Estreito de Ormuz, passagem fundamental para o tráfego global de petróleo que liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã e onde ocorreram os ataques de quinta-feira.

A maior parte das exportações de petróleo de Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque passa por essa rota. É também a principal rota para o gás natural exportado pelo Catar.

Outros corredores estratégicos incluem o Estreito de Malaca, entre Singapura e Indonésia; o Canal de Suez, no Egito; e o Estreito de Bab el Mandeb, que liga o Mar Vermelho ao Golfo de Áden.

"Bloquear um corredor, mesmo temporariamente, pode levar a aumentos significativos nos custos totais e nos preços globais de energia", disse a EIA em um relatório em 2017.

Esses corredores também deixam os petroleiros "vulneráveis à pilhagem de piratas, ataques terroristas, problemas políticos (...) e acidentes marítimos que podem levar a desastrosos vazamentos de petróleo".

Alexander Booth, analista da Kpler, explica que os trabalhadores do setor estão acostumados com a ameaça dos piratas, especialmente em áreas como o Estreito de Malaca e o Golfo de Áden, perto da Somália.

"Historicamente, a maior ameaça militar, ou terrorista, é a pirataria", aponta Booth.

"Na costa da Somália, por exemplo, quando passam por certas áreas, frequentemente anunciam que têm guardas armados a bordo", ressalta o especialista.

Booth destaca, porém, que ataques como os de quinta-feira contra dois petroleiros são "muito raros".

Esses incidentes ocorreram semanas após o ataque a quatro embarcações, incluindo três petroleiros, ancorados no porto de Fujaira, nos Emirados Árabes Unidos.

E "depois de meses de crescente tensão sobre o programa nuclear iraniano, a guerra no Iêmen e a corrida armamentista na região", lembra Anthony Cordesman, analista de segurança do Center for Strategic and International Studies (CSIS), um "think tank" com sede em Washington.

Como nesta ocasião, os incidentes de maio aumentaram as tensões entre Estados Unidos e Irã.

De acordo com Cordesman, existe "a ameaça de uma guerra híbrida", na qual o Irã poderia, por exemplo, conduzir "ataques esporádicos de baixa envergadura" contra navios no Golfo, sem necessariamente causar reação importante dos Estados Unidos, ou de seus parceiros árabes.

Essa estratégia poderia causar picos dos preços do petróleo e "equivaleria a uma guerra de atrito", escreveu Cordesman no site do CSIS.

Além disso, navios fretados por Teerã frequentemente desligam seus sinais de satélite para evadir das sanções americanas ao petróleo iraniano, disse Matt Smith, da ClipperData.

Sem esses sinais, que servem para indicar a posição de um navio para outras embarcações próximas, há um "risco crescente de colisões", afirmou Smith.

Em janeiro de 2018, o navio iraniano Sanchi, com 136.000 toneladas de petróleo leve, pegou fogo, após colidir com outro navio na costa da China.

As companhias de navegação levam isso em conta e, consequentemente, podem modificar a rota, de acordo com Booth.

"Uma carga pode dar voltas no Atlântico antes de finalmente chegar ao seu destino", acrescentou.

No total, cerca de 94 mil cargueiros estão navegando pelo mundo, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.

Se navios de transporte de matérias-primas, tais como carvão e grãos representam, por tonelada, a maior parte da mercadoria marítima mundial, com 42,5%, os que transportam petróleo bruto, ou refinado, respondem por 30% do total. Outros 5,6% são de navios com gás natural liquefeito e produtos químicos.

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