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Dois jornalistas da AFP são brutalmente detidos na RCA

16/06/2019 09h45

Libreville, 16 Jun 2019 (AFP) - Dois jornalistas franceses que trabalham para a Agência France-Presse (AFP) na República Centro-Africana foram brutalmente detidos e seus equipamentos confiscados ou destruídos no sábado (15) durante a dispersão de uma manifestação da oposição em Bangui.

Os dois correspondentes, Charles Bouessel (28 anos) e Florent Vergnes (30 anos), relataram que foram mantidos em detenção por mais de seis horas e interrogados três vezes depois de terem sido presos e espancados por membros do Escritório Centro-Africano para a Repressão do Banditismo (OCRB).

Acreditados para trabalhar neste país, os dois jornalistas foram presos no sábado por volta das 15h00. Primeiro foram mantidos pelo OCRB e depois transferidos para as instalações da Direção dos Serviços da Polícia Judiciária (DSPJ) em Bangui, de acordo com fontes diplomáticas, o ministro da Justiça centro-africano e os dois jornalistas da AFP.

"A manifestação estava indo bem. A polícia nos deixou filmar e viu que estávamos fora do protesto", testemunhou Charles Bouessel, confirmando a versão do outro jornalista da AFP, Florent Vergnes.

"Então, os manifestantes foram rapidamente dispersos. Caminhonetes do OCRB chegaram. Ouvimos tiros".

"Eu e Florent tentamos partir (...) Agentes do OCRB nos viram e pareceram furiosos por termos filmado a cena. Então vieram para cima da gente", acrescentou. "Um deles pegou minha câmera e a jogou no chão. Coloquei minhas mãos para cima, mas recebi um primeiro tapa na cabeça. Minha mochila (com documentos, passaporte, credenciamento de imprensa...) foi arrancada e jogada no chão. Pedi para pegá-la, mas só recebi golpes".

"Fomos levados para a recepção do OCRB, onde me disseram para esvaziar meus bolsos para notificar o que tinha comigo. Expliquei a eles que não tinha mais nada, que os policiais tiraram tudo de mim".

"Fomos liberados às 20h48. Fiquei sem documentos, sem dinheiro ou telefone. A polícia propôs devolver nossas coisas, mas pediu 10 mil francos (15 euros) 'para a gasolina'", relatou Charles Bouessel.

Por sua parte, Florent Vergnes afirmou ter "sido cingido pela garganta" e ter "tomado tapas, golpes nas costas". "Eles pegaram minha mochila, minha câmera e meu telefone" durante a prisão.

"Meu nariz ficou sangrando, minhas costas e o maxilar doem", acrescentou Vergnes, que relatou ter ido a um médico em Bangui esta manhã.

"Apresenta um grande hematoma temporal direito, um hematoma no ombro direito, um hematoma na base do nariz e dor na articulação temporomandibular esquerda e um distúrbio articulatório dental", de acordo com termos do atestado médico.

Florent Vergnes salientou que, no momento de sua prisão, havia declarado ser devidamente credenciado: "Eu disse a eles que era jornalista e que estava credenciado, eles me disseram 'telefone a seu ministro'".

Segundo o ministro da Justiça do país, Flavien Mbata, os dois jornalistas "foram presos pela polícia porque estavam presentes no local de uma manifestação proibida pela polícia".

"Pedimos que fossem libertados ontem, o que foi feito. Amanhã (segunda-feira), quando teremos todos os elementos e as atas, vamos decidir sobre o processo", acrescentou o ministro.

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