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Irã aumenta a pressão sobre o seu programa nuclear

17/06/2019 08h41

Teerã, 17 Jun 2019 (AFP) - O Irã anunciou nesta segunda-feira (17) que suas reservas de urânio enriquecido ultrapassarão a partir de 27 de junho o limite estabelecido no acordo internacional de 2015 sobre sua energia nuclear, aumentando a pressão após a retirada dos Estados Unidos do pacto.

Concluído em Viena pelo Irã, Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, o acordo visa limitar drasticamente o programa nuclear da República Islâmica em troca de um levantamento das sanções econômicas internacionais contra este país.

Mas, em maio de 2018, o presidente americano Donald Trump retirou seu país deste pacto e restabeleceu as sanções contra Teerã, que tem pressionado há meses aqueles que permaneceram no acordo a ajudar a atenuar os efeitos devastadores para a sua economia.

Até o momento, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificou que o Irã respeita os compromissos assumidos no âmbito do acordo.

Com este novo anúncio iraniano, a situação pode mudar a partir do final de junho, com a AIEA, uma agência da ONU, considerando Teerã em infração.

"Hoje começou uma contagem regressiva para superar os 300 quilos de reservas de urânio enriquecido e, em 10 dias, vamos superar este limite", declarou o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, Behruz Kamalvandi, em uma entrevista coletiva.

No início de maio, o Irã já havia anunciado a suspensão de alguns de seus compromissos no Plano de Ação Integral. Teerã decidiu não respeitar dois limites impostos, o de 300 kg para suas reservas de urânio enriquecido (UF6) e de 130 toneladas para suas reservas de água pesada.

- Tensões -No mesmo dia, o Irã impôs um ultimato de 60 dias aos Estados ainda dentro do acordo para que colaborassem de forma a evitar as sanções americanas.

Sem obter satisfação, ameaçou parar de cumprir dois outros compromissos, com o presidente Hassan Rohani indicando que o seu país deixaria de observar as restrições "relativas ao grau de enriquecimento de urânio" e que retomaria o projeto de construção de um reator de água pesada em Arak (centro).

O reator de Arak foi desativado conforme previsto no acordo de Viena, que também estabeleceu um limite para o número de centrífugas que enriquecem urânio e restringiu o direito do país de enriquecer urânio a não mais de 3,67%, muito abaixo do nível necessário para produzir armamento, de quase 90%.

O anúncio desta segunda-feira acontece em um contexto de grandes tensões entre o Irã e os Estados Unidos, que reforçaram sua presença militar no Oriente Médio para enfrentar uma suposta "ameaça iminente iraniana", e que acusam Teerã de ser responsável pelos ataques de quinta-feira passada contra dois petroleiros no Mar de Omã.

Kamalvandi disse que "nenhuma decisão" ainda foi tomada sobre o que os iranianos chamam de "segunda fase" de seu "plano de reduzir" os compromissos nucleares.

A decisão sobre a implementação desta segunda fase é da responsabilidade do Conselho Supremo de Segurança Nacional, presidido por Rohani.

Em relação ao enriquecimento de urânio, Kamalvandi disse, no entanto, que "consideramos vários cenários": "passar de 3,68% para qualquer outra porcentagem, dependendo das necessidades do país".

Sobre a questão do reator de Arak, as autoridades ainda estão debatendo se ele deve ser "remodelado ou revivido".

"Se levou tempo para completar a primeira etapa do plano" (relativo aos estoques de água pesada e urânio enriquecido), não será preciso "mais do que um dia ou dois" para implementar uma possível decisão de aumentar o grau em que o Irã enriquece o urânio, alertou.

O Irã reclama que não se beneficia dos desdobramentos econômicos que esperava do acordo de Viena. Seu produto interno bruto (PIB) deverá cair pelo menos 6% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Acreditando ser o único Estado parte deste pacto a cumprir seus compromissos, acusa a União Europeia de não querer ou ser capaz de fazer qualquer coisa para salvar o acordo.

Paris, Berlim e Londres lançaram no início do ano um mecanismo de escambo ("INSTEX") para ajudar o Irã a contornar as sanções dos Estados Unidos. Este mecanismo, porém, não deu origem a nenhuma transação.

Ao visitar Teerã em 10 de junho, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, pediu que o Irã continuasse a respeitar o acordo, sem esperar por "milagres" da parte do seu país.

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