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'Geração do clima' prepara ocupação de mina de carvão na Alemanha

19/06/2019 18h28

Berlim, 19 Jun 2019 (AFP) - Milhares de ativistas europeus se reúnem a partir desta quarta-feira (19) na região alemã do Ruhr para uma ação de alcance sem precedentes contra o carvão, que inclui a ocupação de uma enorme mina e a presença de jovens do movimento "Fridays for Future".

O objetivo central é a enorme mina de lignito a céu aberto em Garzweiler, perto de Colônia. O lignito é um carvão marrom barato e altamente poluente utilizado em grande escala pelo conglomerado industrial alemão RWE.

Desde a segunda-feira são montadas barracas e redes em Viersen, perto do local da mina, para acomodar e alimentar com pratos veganos cerca de 6.000 pessoas que vêm de Madri, Paris ou Varsóvia de ônibus ou em viagens compartilhadas.

Na sexta, os ativistas estarão prontos para a ação principal: entrar na mina, esquivar-se dos milhares de policiais já mobilizados e ocupar o local para interromper o abastecimento por ferrovia das caldeiras próximas.

"O lignito é o mais sujo dos combustíveis fósseis, devemos parar de queimá-lo, bloquear com nossos próprios corpos os poços e suas diabólicas máquinas mineiras", disse à AFP Tadzio Müller, um dos líderes do movimento "Ende Gelaende", que organiza esta ação.

- Frustração crescente -Em 2018, aliado a outras organizações, este grupo de especialistas na "luta contra os atores do aquecimento global" conseguiu deter a expansão de outra mina do RWE que ameaçava a floresta de Hambach, ocupada por ativistas.

O movimento jovem "Fridays for Future" (Sextas pelo Futuro) espera cerca de 20.000 estudantes para uma "manifestação europeia" prevista para sexta-feira na cidade próxima de Aachen.

Está previsto um "apoio" para os ocupantes da mina, passo que foi adotado por voto na internet pela maioria dos membros do "Fridays for Future".

Na opinião dos organizadores, a aproximação entre "Ende Gelände" e "Fridays for Future" deve permitir a estes novos defensores do clima acelerar suas ações, depois de meses de mobilizações em cidades europeias.

"Ainda nos veem de forma paternal; não nos sentimos levados a sério, as pessoas estão impacientes" e se sentem tentadas "pela ação", disse Helena Marschall, copresidente do "Fridays for Future" em Frankfurt.

"Se não há uma reação das políticas (...), então a frustração se ampliará", acrescentou.

Nas fileiras do "Ende Gelaende", composta por jovens na casa dos 30 anos habituados com o ativismo, dizem que "estendem a mão aos jovens", mas sem chamá-los a uma ação potencialmente perigosa.

A ideia não é que um menor de idade "termine sob custódia" policial, disse Marschall. "Há muitas maneiras de participar, como cozinhar ou ajudar no acampamento, e isso é igualmente importante", acrescentou.

- Polícia impotente -A polícia alemã tenta há semanas convencer os jovens a não se unirem aos ativistas mais velhos e mais radicais.

Inclusive enviou mensagens de advertência às escolas de ensino médio da região, de acordo com relatos da imprensa. Mas ante a magnitude da mobilização, a polícia reconhece sua impotência.

"Faremos tudo que for possível para evitar a entrada na mina, mas há alguns pontos que não poderemos cobrir", disse à imprensa o chefe da polícia em Aachen, Dirk Weinspach.

Segundo Müller, que faz campanhas pelo clima há 12 anos, este tema nunca havia se tornado "a prioridade política e social" revelada pela recente eleição europeia sem a maciça mobilização de "jovens e estudantes".

Mas na sua opinião apenas a ação direta "pode empurrar a classe política a tomar decisões", uma classe que "constantemente diz que faz o que pode, mas não faz nada".

O governo alemão - que não atingirá seus objetivos climáticos para 2020 - anunciou no início do ano um programa para abandonar o carvão até 2038.

Mas para os ambientalistas, este programa chega tarde demais, e por enquanto não há um calendário preciso para o fechamento das usinas elétricas e minas envolvidas.