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Boris Johnson, o político que se valeu do Brexit para virar premiê

23/07/2019 11h41

Londres, 23 Jul 2019 (AFP) - O ex-ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, cuja defesa do Brexit no referendo de 2016 lhe rendeu acusações de oportunismo, chega a Downing Street precisamente prometendo tirar o Reino Unido da União Europeia sem demora.

Conhecido por seu cabelo loiro rebelde e suas declarações incendiárias, Johnson, 55 anos, é um dos políticos mais populares do país, e também um dos mais polêmicos, que atrai críticas por sua retórica populista, sua pouca atenção aos detalhes e suas muitas contradições.

Dessa forma, no referendo de 2016, o grande admirador de Winston Churchill - sobre quem escreveu uma biografia - emergiu como um dos principais defensores do Brexit e contribuiu em muito para sua vitória -, mas apenas após realizar um exercício discutível.

Colunista do jornal conservador The Daily Telegraph, ele havia preparado um artigo anunciando que apoiava a permanência no bloco e outro afirmando o contrário, o que alimentou a impressão de que sua decisão ocultava um cálculo meramente político.

"Não acho que ele tenha uma opinião muito clara sobre o Brexit, mas ele tem uma opinião muito clara sobre si mesmo. A única coisa em que Boris Johnson acredita é em Boris Johnson", disse à AFP o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, que conhece a família Johnson desde que Boris era um rapaz.

"Quando ele chegar (ao poder), vai querer ficar. Acho que Brexit será algo secundário à sua estratégia de permanecer como primeiro-ministro", acrescentou.

Em suas primeiras palavras depois de ser eleito líder do Partido Conservador - que o tornará primeiro-ministro depois que a rainha encomendar para que forme um governo na quarta-feira -, Johnson prometeu "concluir o Brexit em 31 de outubro", após dois adiamentos solicitados por sua antecessora, Theresa May

- O prefeito dos Jogos Olímpicos -Nascido em Nova York em 1964, Alexander Boris de Pfeffel Johnson, conhecido popularmente como "BoJo", queria desde cedo ser "rei do mundo", contou sua irmã Rachel.

Após se formar na Universidade de Oxford, em 1987, começou uma carreira de jornalista no The Times, de onde foi demitido no ano seguinte por ter inventado umas declarações.

Em seguida foi correspondente no Daily Telegraph em Bruxelas entre 1989 e 1994, favorecendo histórias que ridicularizavam as normas europeias. Algumas delas se tornaram mantras para os opositores do bloco europeu, como uma que garantia que a UE pretendia regular o tamanho das bananas ou encurtar os preservativos masculinos.

"Não inventava as histórias mas sempre exagerava", recorda Christian Spillmann, que foi correspondente da AFP em Bruxelas durante "os anos Boris".

Em Bruxelas, terminou o casamento com Allegra Mostyn-Owen, que conheceu em Oxford, e se aproximou de uma amiga de infância, Marina Wheeler, que virou sua esposa e mãe de seus quatro filhos.

O casal se separou em 2018 e Johnson se relaciona desde então com uma mulher de 31 anos, que segundo o Daily Telegraph é responsável por sua imagem mais moderna e alguns quilos menos.

Foi eleito deputado pela primeira vez em 2001, mas ganhou projeção a partir de 2008 ao assumir a prefeitura de Londres, um cargo com mais exposição pública do que responsabilidades, durante a realização dos Jogos Olímpicos de 2012 na capital britânica.

Na mente de todos ficou marcada uma imagem do prefeito Johnson, pendurado preso numa tirolesa agitando uma bandeira enquanto aguardava o resgate durante os Jogos de Londres, uma situação ridícula que graças a seu carisma conseguiu everter a seu favor.

Nomeado ministro das Relações Exteriores por May em julho de 2016, entregou o cargo dois anos depois por não concordar com uma estratégia para negociar o Brexit, que agora, se chegar ao poder, espera revolucionar.

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