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Informe revela abusos na agência da ONU para refugiados palestinos

29/07/2019 15h57

Ramallah, Territórios palestinos, 29 Jul 2019 (AFP) - Um relatório interno da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) revela má gestão e abusos de autoridade que teriam sido cometidos no mais alto nível hierárquico, em plena crise financeira do organismo.

Entre as acusações, estão as de "comportamentos de caráter sexual inapropriados, nepotismo, represálias, discriminação e outros abusos de autoridade, [cometidos] com fins pessoais, para conter diferenças legítimas de opinião", aponta o informe, ao qual a AFP teve acesso.

O documento descreve acusações "confiáveis e corroboradas" de graves abusos éticos, envolvendo membros da cúpula da instituição, como seu chefe, o comissário-geral Pierre Krahenbuhl.

Investigadores da ONU estão examinando essas denúncias de irregularidades apontadas no informe do Departamento Ético da UNRWA.

A agência disse cooperar plenamente com a investigação e que não poderia comentar as acusações enquanto o processo estiver em curso.

O relatório foi enviado para o secretário-geral das Nações Unidas em dezembro. Investigadores da ONU seguiram para os escritórios da UNRWA em Jerusalém e em Amã para reunir informações, segundo fontes próximas ao caso.

Um alto funcionário citado no informe abandonou a organização, devido a "comportamentos inapropriados" relacionados com as investigações, enquanto outro se demitiu por razões "pessoais", relatou a organização.

Interrogada pela AFP, a UNRWA declarou em um comunicado que esta é, provavelmente, "uma das agências da ONU mais supervisionadas, devido à natureza do conflito entre israelenses e palestinos, assim como ao entorno complexo e muito politizado em que trabalha".

"Nos últimos 18 meses, a UNRWA enfrentou intensas pressões financeiras e políticas, mas o conjunto de seu pessoal manteve o rumo, ajudando 5,4 milhões de refugiados palestinos, enquanto atravessava uma crise econômica sem precedentes em 70 anos de existência", declarou a agência.

Em uma nota enviada à AFP, Pierre Krahenbuhl declarou que "se a investigação - uma vez concluída - apresentar conclusões que precisem de medidas corretivas, ou outras medidas de gestão, não hesitaremos em aplicá-las".

Fundada em 1949, a UNRWA administra escolas e oferece assistência médica a milhões de refugiados palestinos na Jordânia, no Líbano, na Síria e nos Territórios Palestinos. Emprega cerca de 30.000 pessoas - palestinos em sua maioria.

Mais de 700.000 palestinos foram expulsos, ou tiveram de fugir de suas terras entre abril e agosto de 1948, quando se criou o Estado de Israel, segundo a ONU.

O informe interno da UNRWA denuncia abusos de poder por parte de um pequeno grupo de altos funcionários, em sua maioria expatriados, que burlaram os mecanismos de controle da ONU.

Krähenbühl teria mantido uma relação amorosa com sua principal assessora, nomeada em 2015, após um procedimento de recrutamento "muito rápido", segundo o informe. Esta assessora teria acompanhado o comissário-geral em classe executiva em seus voos ao exterior.

Em 2018, os Estados Unidos deram por encerrada sua ajuda financeira anual de 300 milhões de dólares à UNRWA. Israel e Estados Unidos se opõem à possibilidade de que os palestinos possam transmitir o estatuto de refugiados a seus filhos, reduzindo, desta maneira, o número de pessoas que recebem ajuda da UNRWA. Para os palestinos, é uma violação de seus direitos.

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