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Economia mundial vive hora da verdade diante de guerra comercial

06/08/2019 15h30

Paris, 6 Ago 2019 (AFP) - Há meses os economistas alertam para os riscos de uma escalada na guerra comercial para a economia mundial - que já dá sinais de desaceleração. As ameaças e represálias dos últimos dias entre os Estados Unidos e a China reforçaram essa preocupação.

O presidente americano, Donald Trump, ameaçou impor tarifas aduaneiras adicionais às importações chinesas, e Pequim respondeu deixando sua moeda cair frente ao dólar. A medida levou Washington a denunciar o que considera uma manipulação do iuane, deflagrando temores por uma guerra de divisas.

Este acirramento das tensões provocou uma tormenta nos mercados e ocorre em um momento no qual a economia global dá sinais de desaquecimento.

O crescimento chinês no segundo trimestre de 2019 teve seu pior desempenho em 27 anos e, na zona do euro, também teve sua expansão freada, especialmente pela Alemanha. Fora isso, há as incertezas ligadas ao Brexit.

Esta escalada nas tensões tomou os mercados "de surpresa, após a trégua acordada entre Donald Trump e seu homólogo chinês, Xi Jinping, durante a cúpula do G20 em Osaka (Japão) no fim de junho e da decisão de ambos de retomarem as negociações", avaliou o banco suíço Lombard Odier.

Contudo, "nem os anúncios de tarifas adicionais por parte de Trump na semana passada, nem a desvalorização do iuane são objetivamente um grande problema", de acordo com o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, em artigo publicado no jornal "The New York Times".

"Por que essas pequenas cifras têm tamanhas consequências? Principalmente, porque aprendemos coisas sobre os protagonistas deste conflito que tornam uma guerra comercial maior, mais longa, muito mais provável do que era há apenas alguns dias", afirmou.

"É uma nova escalada em uma relação bilateral deteriorada, que pode piorar ainda mais", teme a consultoria Capital Economics, sem descartar a concretização de cenários mais graves.

- 'Todos al refugio? Aún no...' -As instituições internacionais, como Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), temem há vários meses uma escalada que desemboque em uma guerra comercial aberta, o que levaria a uma redução do crescimento global.

No fim de julho, o FMI revisou para baixo suas projeções de crescimento global para 2019, a 3,2%.

"É absolutamente necessário reduzir as tensões comerciais e tecnológicas, cuja escalada poderia interromper significativamente as cadeias de fornecimento", disse o economista-chefe do Fundo, Gita Gopinath.

Duas semanas depois, aconteceu exatamente o contrário.

"As medidas de Trump acentuam o risco de degradação, ou ruptura, mas ainda não entramos no estágio 'corram todos para o abrigo'", disse à AFP Philippe Waechter, diretor de pesquisa da Ostrum Asset Management.

"A economia global desacelera, mas ainda não chegamos ao ponto de ruptura", acrescentou.

"Estamos em um ambiente muito perigoso para o comércio mundial", avaliou Rajiv Biswas, analista da IHS Markit, que teme as consequências de uma guerra cambial: "se as trocas comerciais caírem, os impostos e as desvalorizações enfraquecerão o consumo e, no final, os Estados Unidos poderiam ser afetados".

"Nossa percepção é que as medidas alfandegárias de Trump penalizam o consumidor americano, que vê os preços de importação subirem", disse Waechter. "A economia dos EUA está provavelmente em uma fase mais frágil do que imaginamos", acrescentou.

A economia dos EUA, que está passando por um período de crescimento de duração excepcional, apresenta sinais gradativos de desaceleração, com menor criação de empregos e queda de suas exportações.

Pela primeira vez em 11 anos, o Fed reduziu suas taxas de juros na última quarta-feira, como um "seguro" contra a incerteza em relação às tensões comerciais, crescimento mundial medíocre e inflação baixa. Se a guerra comercial piorar, os bancos centrais poderão ficar desarmados.

"Eles não têm muito espaço para manobra, e os governos não querem usar a arma do orçamento", alertou Waechter.

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