Topo

Presidente italiano dá até terça para formação de maioria no governo

22/08/2019 17h39

Roma, 22 Ago 2019 (AFP) - O presidente italiano, Sergio Mattarella, deu aos partidos até terça-feira para pactuar uma nova maioria parlamentar que permita formar um governo, após o fim da coalizão do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) com a Liga, de extrema direita.

"Essa crise deve ser resolvida em pouco tempo", alertou o presidente italiano, que concedeu um prazo de quatro dias, até terça-feira, para essas negociações.

"Na terça-feira vou realizar novas consultas e tomar as decisões necessárias", disse, acrescentando que só dará autorização a um Executivo "capaz de ganhar a confiança" do Parlamento.

Em menos de quatro dias, o M5E, maior força no Parlamento com 32% dos votos nas legislativas de 2018 e que segundo as pesquisas foi severamente desgastado em 14 meses, deve chegar um acordo sobre a possibilidade para a formação de um governo progressista, de tendência reformista.

"Há algumas horas começamos uma série de conversas para tentar formar uma sólida maioria", anunciou Luigi Di Maio, líder do partido, ao fim de uma reunião com o presidente italiano, Sergio Mattarella, árbitro da crise, segundo as normas da Constituição.

- Dez pontos -Di Maio enumerou os dez pontos de um eventual programa de governo e lembrou que a legenda é a maior força política, apesar da implosão do consenso em 14 meses no poder. Entre esses tópicos apresentados estão a defesa do meio ambiente e uma série de reformas na justiça, no trabalho e no Parlamento.

O movimento, nascido da insatisfação com a "velha política" e com uma bandeira anticorrupção, conta com várias correntes de tendências diferentes, de esquerda e de direita, incluindo uma forte contrária à União Europeia.

Contudo, formar uma coalizão tão heterogênea e duradoura será uma tarefa dura e cheia de dificuldades, tanto quanto fazê-la durar quase quatro anos.

O Partido Democrático (esquerda), com aproximadamente 20% das intenções de voto, propôs uma aliança com o M5E, após a ruptura com Salvini em 8 de agosto.

O líder do PD, Nicola Zingaretti, clamou por um "governo para a mudança", "forte" e "sólido", com um novo programa, embora tenha esclarecido que, se não for possível formá-lo, teria que optar pelas urnas.

"Contamos com as bases para poder trabalhar com o M5E", reconheceu Zingaretti ao fim do encontro.

O político alertou que entre as condições estabelecidas para uma aliança com o grupo antissistema estão a confirmação da "vocação europeia" da Itália e uma mudança na dura política anti-imigração.

- Direita quer eleições -A possibilidade de um governo baseado numa aliança entre o PD e o M5E, apoiado por outras pequenas forças de esquerda e independentes, tem sido condenada pelas forças de direita e centro-direita.

Salvini reiterou perante o presidente seu pedido de eleições imediatas e ao mesmo tempo, ofereceu uma nova aliança ao M5E, uma proposta que surpreendeu e ao mesmo tempo foi considerada inacreditável.

"O verdadeiro caminho não pode ser o dos jogos de poder, a manobra do palácio. São as eleições", disse, após acusar as forças políticas de montar uma frente "anti-Salvini e anti-Liga".

A líder do grupo pró-fascista Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, pediu ao presidente eleições legislativas imediatas como "a única saída possível e respeitosa".

Meloni deseja uma aliança com Salvini e o partido Força Itália, de centro-direita e ao qual pertence o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que segundo as pesquisas alcançaria 50% dos votos em caso de eleições.

"A saída mais inteligente são as eleições antecipadas", afirmou Berlusconi após o encontro com o presidente.

O ex-primeiro-ministro, que perdeu muito apoio e poderia praticamente desaparecer politicamente, classificou como "perigosa" a possibilidade de governo de esquerda, com cobrança de impostos sobre propriedades e lucro.

A possibilidade de eleições antecipadas em outubro preocupa a terceira maior economia da zona do euro, fortemente endividada e que deve preparar o seu orçamento delicado para 2020, além de tomar medidas imperativas para evitar um aumento automático do imposto sobre produtos no ano que vem.

O primeiro objetivo é frear o avanço da extrema-direita de Salvini, evitar sua chegada ao poder e o fortalecimento de seus aliados na Europa, como a francesa Marine Le Pen.

O PD também anunciou que não aceita como candidato a chefe de governo Giuseppe Conte, que saiu ileso da crise.

Para ficar à frente de um governo mais à esquerda e pró-europeu, há vários candidatos, como o juiz anticorrupção Raffaele Cantone e a magistrada da Corte Constitucional, Marta Cartabia, que seria a primeira mulher na história da Itália a ocupar o cargo de primeiro-ministra.

kv/mb/tt/lca/ll