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Nicarágua: oposição diz que governo proíbe comissão da OEA de entrar no país

15/09/2019 12h13

Manágua, 15 Set 2019 (AFP) - A oposição nicaraguense denunciou no sábado (14) que o governo de Daniel Ortega proibiu a entrada no país de uma comissão de alto nível da Organização dos Estados Americanos (OEA).

"A secretaria de suporte técnico da Comissão para Assuntos da Nicarágua da OEA ligou para informar que não há acesso para que a comissão entre no país", disse à AFP Nahiroby Olivas, líder do movimento estudantil 19 de Abril, que se reuniria com a comissão.

Segundo carta da Direção de Migração, vazada para a imprensa e ainda não confirmada por fontes oficiais, a comissão não poderá entrar no país.

"A Direção Geral de Migração" da Nicarágua "torna do conhecimento de todos que, a partir desta data, não está autorizado o ingresso na Nicarágua, nem poderão embarcar em companhias aéreas com destino à Nicarágua" sete representantes da comissão da OEA, aponta o texto que teria sido divulgado pelo governo, e a cuja versão se teve acesso.

Ainda conforme esta carta, entre os representantes impedidos de entrar no país, encontram-se Carlos Trujillo, delegado americano na OEA, e Gonzalo Javier Koncke Pizzorno, chefe de gabinete do secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

A carta de Migração também menciona Leopoldo Francisco Sahores, subsecretário de Assuntos das Américas do Ministério argentino das Relações Exteriores, e Elisa Ruiz Díaz, representante do Paraguai na OEA, entre outros.

"O que sabemos é que a comunicação do governo é verdadeira. Proibiram a entrada da comissão", que chegaria entre sábado (14) e segunda-feira (16), disse à AFP Max Jérez, um dos dirigentes da opositora Aliança Cívica pela Justiça e pela Democracia (ACJD).

"Não permitir a entrada da missão dos Estados-membros da OEA é consistente com a política de Estado policial" e com a rejeição "a toda forma de construção de pontes com a comunidade internacional e com a oposição" para resolver o conflito, condenou a ACJD, em um comunicado.

- Argentina critica decisãoEm nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, a Argentina condenou a decisão da Nicarágua e pediu ao governo que permita a visita.

A proibição de ingresso "foi instrumentalizada por uma comunicação da Direção Geral de Migração, em que se indicava o voo de chegada dos membros da comissão, o que constitui um ato de inusitada gravidade por se tratar de informação reservada", afirma o comunicado.

"O governo argentino faz um apelo ao governo nicaraguense para que reveja sua posição e permita o ingresso da Comissão da OEA", completou a nota publicada neste domingo.

O governo nicaraguense rejeitou a composição da comissão da OEA, alegando se tratar de uma ingerência nos assuntos internos do país. Representantes de Argentina, Canadá, Estados Unidos, Jamaica e Paraguai integram a comissão.

O grupo faria na próxima semana uma visita a Manágua, com base em um mandato da OEA.

A comissão foi aprovada em agosto pelo Conselho Permanente da organização "para fazer gestões diplomáticas no mais alto nível, a fim de procurar uma solução pacífica e eficaz para a crise política e social" na Nicarágua.

O país se encontra mergulhado em uma grave crise, após os protestos em massa contra o governo que explodiram em abril de 2018 contra uma reforma na Previdência Social. Os manifestos levaram ao pedido de renúncia do presidente.

A repressão dos protestos deixou pelo menos 325 mortos, centenas de detidos e 62.500 exilados, segundo grupos humanitários.

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