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Extrema direita austríaca ajusta suas contas após as eleições

01/10/2019 08h59

Viena, 1 Out 2019 (AFP) - As hostilidades se mostraram claras na extrema direita austríaca, que experimentou uma série de escândalos antes de uma derrota humilhante no domingo nas eleições legislativas e agora suas divisões estão expostas.

Sob pressão de seus ex-aliados, Heinz-Christian Strache, ex-líder do FPÖ e personagem principal dos casos que minaram a campanha, anunciou nesta terça-feira sua retirada da política.

Ele também suspendeu sua participação no partido.

Esse recuo foi o mínimo exigido pelos líderes do FPÖ, que realizaram uma reunião de crise para delinear uma estratégia após seu revés eleitoral.

Com 16,2% dos votos nas eleições legislativas, o FPÖ perde quase dez pontos em comparação com as eleições de 2017 que impulsionaram a extrema direita ao poder na coalizão com a direita de Sebastian Kurz.

"Foi uma campanha incrivelmente difícil, tivemos que carregar uma cruz", disse Norbert Hofer, o novo líder do FPÖ, após os resultados.

Ele substituiu Strache em maio, quando o escândalo "Ibizagate" estourou.

Filmado por uma câmera escondida propondo contratos públicos em 2017 para uma jovem mulher que se apresentava como sobrinha de um oligarca russo, Heinz-Christian Strache renunciou a todos os cargos, incluindo o do vice-chanceler de Sebastian Kurz.

Todo o governo o acompanhou em sua queda. Strache agora está sendo criticado por ter pago despesas pessoais com fundos do partido. Essas novas revelações e o anúncio de uma investigação judicial, alguns dias antes das eleições, selaram seu tdestino.

Strache nega qualquer irregularidade. Depois de 14 anos à frente do partido, o político islamofóbico decidiu por essa retirada estratégica. Ele não parou de interferir na campanha eleitoral, postando mensagens em sua página no Facebook, "o maior portal populista do país", de acordo com o semanário Falter, uma vez que é seguido por mais de 800.000 pessoas.

Nesta terça, garantiu que quer "evitar a todo custo rachaduras e divisões" em sua família política, mas alguns apostam que sua intenção é lançar uma formação concorrente.

Isso foi feito por seu antecessor Jörg Haider, pioneiro do populismo, que criou seu próprio partido em 2005 após ser expulso do FPÖ.

Fundado por ex-nazistas nos anos cinquenta, o FPÖ foi responsável pela queda das quatro coalizões governamentais em que participou desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Após os resultados eleitorais, o partido anunciou que vai optar por ser oposição, enquanto durante toda a campanha privilegiou a renovação de uma aliança com Sebastian Kurz.

Com 37,5% dos votos, o líder dos conservadores será forçado a recorrer aos social-democratas (21,2%) ou aos ambientalistas (13,8%) para formar uma coalizão.

"Se quiser sobreviver, o FPÖ precisa se reinventar", acredita Andreas Mölzer, um dos mais antigos membros da formação, citado pela imprensa austríaca.

"Ele deve ir à reconquista de sua credibilidade perdida e, para isso, deve permanecer algum tempo em oposição".

O FPÖ mantém uma forte base eleitoral e continua sendo um dos partidos de extrema direita melhor implantado na Europa.

Os líderes dos cinco partidos políticos que serão representados no novo Parlamento serão recebidos a partir de quarta-feira pelo chefe de Estado para o início das negociações.

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