Topo

Forças curdas defendem cidade estratégica na Síria ante os turcos

15/10/2019 09h17

Tal Tamr, Síria, 15 Out 2019 (AFP) - As forças curdas resistem ferozmente na principal cidade fronteiriça de Ras al-Ain, no sétimo dia de uma ofensiva lançada por Ancara no nordeste da Síria, causando o deslocamento em massa de populações.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a operação, que tem como alvo uma milícia curda considerada por ele como "terrorista", continuará até que seus "objetivos sejam alcançados", apesar dos apelos de muitos países, incluindo dos Estados Unidos, para encerrá-la.

As forças turcas lançaram uma ofensiva no norte da Síria em 9 de outubro contra as Unidades de Proteção do Povo (YPG) e, desde então, assumiram o controle de uma faixa de fronteira de quase 120 km.

A cidade fronteiriça de Tal Abyad já caiu em mãos dos turcos e seus aliados sírios, enquanto a de Ras al-Ain - mais a leste - resiste.

Para defender essa cidade, as Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelas YPG, utilizam uma densa rede de túneis e trincheiras.

"Elas lançaram à noite um vasto contra-ataque contra as forças turcas e seus aliados sírios perto de Ras al-Ain", disse o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que possui uma vasta rede de fontes no país.

Um correspondente da AFP na região confirmou os confrontos nos arredores da cidade.

Ao mesmo tempo, as forças do regime de Bashar al-Assad deslocaram-se para o sul de Ras al-Ain, nos arredores da cidade de Tal Tamr, sob um acordo assinado no domingo com os curdos para conter a ofensiva turca.

Mais a oeste, o Exército sírio assumiu o controle de toda a cidade síria Manbij e seus arredores, segundo afirmou o ministério da Defesa russo.

Neste contexto, o enviado especial russo para a Síria, Alexandre Lavrentiev, declarou que Moscou não permitirá confrontos entre os Exércitos turco e sírio. "Acredito que não seja do interesse de ninguém, além de ser inaceitável. Por isso, não permitiremos que aconteça", declarou, citado pela agência TASS.

- "Cenário de pesadelo" -A Turquia quer criar uma "zona de segurança" de 32 quilômetros ao longo de sua fronteira para manter as forças curdas afastadas e repatriar parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios em seu território.

Em sete dias, a ofensiva turca matou 70 civis e 135 combatentes das FDS, segundo o OSDH.

Os confrontos também mataram 120 combatentes pró-turcos, segundo a mesma fonte, e cinco soldados turcos, de acordo com Ancara. Além disso, 20 civis morreram em ataques com foguetes contra cidades turcas.

A ofensiva também causou um êxodo de 160.000 pessoas, segundo a ONU. A esse respeito, as autoridades curdas na Síria lamentaram nesta terça a interrupção das atividades de todas as ONGs internacionais e a retirada de seus funcionários do nordeste do país.

"A situação dos deslocados piorou nas áreas visadas pela agressão (turca), com a cessação total da ajuda humanitária, a cessação das atividades de todas as organizações internacionais e a retirada de seus funcionários", afirmou em comunicado a administração semi-autônoma curda.

Na segunda-feira, a organização internacional Mercy Corps anunciou "a suspensão de suas operações no nordeste da Síria e a evacuação de seu pessoal internacional". "É um cenário de pesadelo", disse o vice-diretor da organização para a Síria, Made Ferguson.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse que a ONU e seus parceiros estavam "extremamente preocupados" com a segurança de seus funcionários sírios.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) informou que continuará suas atividades, reconhecendo "interrupções" na entrega em determinadas áreas.

- Novas sanções -Os Estados Unidos, aliados até o presente momento das forças curdas na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), anunciou no domingo a retirada de mil soldados do nordeste da Síria, abrindo caminho para a operação turca.

Apesar disso, o presidente americano Donald Trump reiterou seu pedido pelo fim das hostilidades.

Na segunda-feira, seu vice-presidente Mike Pence anunciou que em breve visitará a Turquia, onde seu país impôs sanções a três ministros, congelando quaisquer ativos nos Estados Unidos.

"Para evitar novas sanções (...), a Turquia deve imediatamente encerrar sua ofensiva", alertou o chefe da diplomacia americana Mike Pompeo.

"Continuaremos nossa luta (...) até que nossos objetivos sejam alcançados", afirmou Erdogan. "Vamos tornar segura a região de Manbij até nossa fronteira com o Iraque", disse ele.

E seguindo os passos de outros países europeus, a Grã-Bretanha anunciou nesta terça-feira a suspensão de suas exportações de armas para a Turquia.

Paris e outras capitais europeias temem que membros do EI detidos pelos curdos fujam e que o grupo jihadista aproveite o caos para se recuperar.

Nesta terça, Erdogan garantiu no Wall Street Journal que "nenhum combatente do EI poderá sair do nordeste da Síria".

bur-jmm/bek/vl/mr