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Cenas de guerrilha urbana no centro de Barcelona

18/10/2019 20h20

Barcelona, 18 Out 2019 (AFP) - Turistas jantavam calmamente em um terraço do centro de Barcelona quando foram tomados pelo pânico. A poucos metros, um grupo de manifestantes radicais ateia fogo a latas de lixo em uma noite de caos na cidade.

Na quinta noite de protestos, a violência atingiu um nível inusitado: protegidos por barricadas, milhares de manifestantes encurralaram durante horas os policiais, que responderam com balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio e jatos d'água disparados de um blindado.

Quando os manifestantes foram dispersados, o caos se espalhou por todo o centro da cidade, com um cheiro de fumaça que dificultava a respiração. Sirenes da polícia e barulho de tiros ressoaram nas amplas ruas em meio ao corre-corre de agentes perseguindo manifestantes.

Um deles corre com um paralelepípedo na mão. Outro, com uma garrafa de cerveja. O terceiro leva uma tábua de madeira que acabará sendo atirada na direção dos caminhões da polícia.

"Nos defendemos deles, os problemas começam quando a polícia chega", grita a uma jornalista um jovem com o rosto coberto.

As manifestações, marcadas por incidentes violentos, se seguem à condenação de líderes separatistas catalães pela tentativa frustrada de secessão de 2017, que acendeu os setores mais radicais deste movimento majoritariamente pacífico.

"O povo catalão se cansou de dar a outra face e nossos filhos disseram chega", diz Miquel Toha, empresário de 52 anos, enquanto bebe uma cerveja em um terraço, observando estes protestos, protagonizados por militantes muito jovens, alguns menores de idade.

- Guerra de trincheiras -"Nos ensinaram que ser pacíficos não serve para nada", diz uma pichação na parede de um imóvel no centro de Barcelona, perto da praça Urquinaona, onde três enormes barricadas incendiárias iluminam milhares de manifestantes.

Entrincheirados atrás de quiosques, muros, marquises ou árvores, centenas de manifestantes atiram pedras e objetos de metal na direção de um cordão policial, impotente.

O rosto coberto e as roupas escuras é a estética dominante, às vezes arrematada por uma bandeira ou algum símbolo separatista. Muitos usam máscaras antigas, capacetes e óculos.

Junto a uma entrada do metrô, um jovem usa uma placa de metal como alavanca para arrancar paralelepípedos. Com um colega, ele carrega os blocos de pedra até um grupo, que os quebra jogando no chão para usá-los como projéteis.

A metros dali, perto de outra barricada em chamas, vários arrancam uma palmeira para levar até uma barricada em chamas, perto de uma esquina, onde a calçada já está sem paralelepípedos.

As ruas ao redor da praça estão bloqueadas por cercas de contêineres, impedindo a chegada do reforço policial.

Em meio aos disparos constantes, surge nos céus uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo. "Água, água! Quem tem água?", grita um homem ao lado de uma mulher que não para de tossir.

A guerra de trincheiras se estende durante horas até que a Polícia consegue dispersar as pessoas com furgões circulando a toda velocidade pela calçada e disparos contra a multidão, que foge em disparada.

"Atiram em nós pelas costas e depois nós somos os violentos", protesta um jovem com lenço preto e óculos que diz se chamar Joan.

A multidão dispersa e as escaramuças se sucedem em diferentes partes da cidade. A polícia recomenda em inglês pelo Twitter que se evite ir ao centro, mas alguns não se convencem.

Na praça Catalunha, coração desta cidade perto do início das populares Ramblas, duas amigas estrangeiras tiram uma selfie em frente a uma lata de lixo em chamas, que faz subir uma espessa nuvem de fumaça nos céus de Barcelona.

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