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Forças russas começam a patrulhar fronteira sírio-turca

23/10/2019 16h43

Qamishli, Síria, 23 Out 2019 (AFP) - As forças russas na Síria realizaram nesta quarta-feira (23) suas primeiras patrulhas perto da fronteira turca para garantir a retirada dos combatentes curdos, como previsto no acordo pactuado entre Moscou e Ancara para expulsá-los da região.

O presidente americano, Donald Trump, considerou um "grande êxito" o fato de ter criado uma "zona de segurança" entre a Síria e Turquia, e declarou na Casa Branca: "ordenei ao secretário do Tesouro suspender todas as sanções impostas em 14 de outubro em resposta à ofensiva original da Turquia".

Durante uma reunião na terça-feira em Sochi, na Rússia, o presidente Valdimir Putin e seu contraparte turco, Recep Tayyip Erdogan, concluíram um acordo visando a retirada total das forças curdas da região e o controle comum de parte da fronteira sírio-turca.

Este pacto representa o fracasso das Forças Democráticas Sírias (FDS), cuja coluna vertebral é a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), que tinham ajudado à coalizão internacional liderada por Washington a lutar contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).

O ministério da Defesa russo informou nesta quarta-feira que sua polícia militar tinha realizado sua primeira patrulha no norte da Síria, embora não tenha dado maiores detalhes.

Segundo o acordo russo-turco, qualificado de "histórico" por Erdogan, as forças das YPG têm que se retirar com todo o seu armamento no prazo de "150 horas a partir das 12H00 (06H00 de Brasília) de 23 de outubro" além de 30 km da fronteira entre a Turquia e a Síria.

- "Matar e expulsar os curdos" - Nesta quarta-feira, ocorreram cenas de revolta e desespero em Qamichli, cidade fronteiriça no extremo norte da Síria, considerada a capital 'de fato' dos curdo-sírios. Esta localidade foi excluída da "zona de segurança" do acordo de Sochi.

Centenas de moradores se reuniram pela manhã para gritar palavras de ordem contra o poder turco, constataram jornalistas da AFP.

"Este acordo está a serviço dos poderes estrangeiros e não do povo", lamentava Talat Yundes, uma autoridade da administração curda.

Para ele, "o objetivo da Turquia é matar, expulsar os curdos e tê-los sob sua ocupação".

A Turquia, que lançou em 9 de outubro uma ofensiva nesta região, após receber o aval (de fato) de Trump, anunciou em 17 de outubro uma trégua de cinco dias que terminou na noite de terça-feira.

Conforme a demanda de Ancara para prolongar o cessar-fogo, as FDS anunciaram a retirada de "todos (os seus) combatentes e forças de segurança" de uma zona de 120 km de extensão entre as cidades de Tal Abyad e Ras Al Ain.

- Sanções suspensas -O presidente turco advertiu nesta quarta-feira que tomaria "todas as medidas necessárias" se o acordo de retirada das YPG, consideradas "terroristas" por Ancara, não fosse respeitado.

A Turquia interrompeu sua ofensiva após um acordo com os Estados Unidos, que previa a retirada das YPG a mais de 30 km de distância da fronteira turca, em uma faixa de 120 km. Mas Ancara quer se assegurar de que as forças curdas abandonem toda a zona fronteiriça, que se estende ao longo de mais de 400 km.

Neste sentido, Erdogan alcançou na terça-feira com Putin outro acordo, segundo o qual Moscou tem que facilitar a retirada das YPG de outras áreas da fronteira turca, entre o Eufrates e o Iraque.

Diante disso, o presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira a suspensão das sanções impostas em meados de outubro à Turquia a partir da ofensiva de Ancara contra os curdos.

Ao mesmo tempo, as forças sírias se dirigiam também nesta quarta-feira para a zona fronteiriça, a pedido dos curdos.

O presidente sírio, Bashar Al Assad, assegurou na terça-feira estar "disposto a apoiar qualquer (...) resistência à agressão turca".

Ancara informou nesta quarta-feira que contava com Moscou para implantar o acordo de Sochi, pois não tem "total confiança" no regime de Damasco. O texto prevê que russos e sírios trabalhem juntos "para facilitar a saída" de todos os combatentes das YPG e seu armamento.

A Turquia, que apoia os grupos rebeldes contrários a Bashar Al Assad, teme que o regime sírio permita às forças curdas permanecem em algumas regiões.