Morales quase certo da vitória na Bolívia; Mesa pede mobilização constante
La Paz, 23 Out 2019 (AFP) - Evo Morales declarou nesta quarta-feira (23) estar quase certo de vencer no primeiro turno a reeleição na Bolívia, embora a missão da OEA tenha afirmado que a "melhor opção" seria convocar um segundo turno, em um contexto de greve geral e convocações do opositor Carlos Mesa à "mobilização permanente".
"Eu estou quase certíssimo de que com os votos de áreas rurais vamos vencer no primeiro turno" do candidato opositor Carlos Mesa, disse o presidente esquerdista, enquanto a apuração oficial do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) aponta para o segundo turno.
Três dias após a votação, o TSE não terminou a apuração. Segundo sua última atualização das 08H25 locais (09h25 de Brasília), Morales acumula 46,03% contra 37,35% de Mesa. Ainda faltam ser contabilizados cerca de 3% dos votos válidos.
Para evitar o segundo turno, Morales precisa de no mínimo de 40% dos votos e uma vantagem de 10 pontos em relação ao segundo colocado.
Uma greve geral indefinida começou nesta quarta-feira. Grupos leais e opositores ao presidente entraram em confronto na cidade de Santa Cruz.
Morales denunciou que "está em processo um golpe de estado", em aparente referência aos protestos e à greve indefinida. "Quero que o povo boliviano saiba que até agora suportamos humildemente para evitar a violência e não entramos em confronto", disse.
Suas declarações foram acompanhadas por seu aliado venezuelano Nicolás Maduro, que afirmou: "É um golpe de Estado anunciado, cantado e, posso dizer, derrotado. O povo boliviano derrotará a violência".
Mesa, por sua vez, pediu "a mobilização permanente" de forma "democrática e pacífica" em defesa do voto, até que o tribunal eleitoral "reconheça que o segundo turno deve ser realizado".
"Não vamos permitir que nos roubem uma eleição pela segunda vez", acrescentou, referindo-se ao resultado de um referendo que não foi reconhecido por Morales para se candidatar a um quarto mandato.
- Feridos a pedradas - Uma onda de violência estourou no domingo em diversas regiões após a votação e teve como alvo as sedes dos tribunais eleitorais. O protesto da noite de terça-feira em La Paz reuniu milhares de pessoas que gritavam "Fraude, fraude, fraude!".
A greve indefinida convocado por um coletivo de organizações civis dos nove departamentos do país começou a tomar corpo em Santa Cruz (900 km a leste de La Paz), onde manifestantes queimaram na noite de terça-feira parte da sede do tribunal eleitoral, que dava a vitória na região a Morales.
Um adulto e um jovem ficaram feridos por pedradas na cabeça em choques entre apoiadores e opositores de Morales.
A greve também começava a se organizar na rica região mineradora de Potosí e em outras zonas.
"Seremos os jovens que faremos respeitar a democracia e os que tiraremos Evo Morales do palácio (de governo)", disse César Ramos, presidente do comitê civil juvenil de Tarija (sul).
- Segundo turno, "melhor opção" -A Missão de Observação Eleitoral da OEA (MOE) na Bolívia considera como "melhor opção" a convocação de um segundo turno para resolver as disputadas eleições entre Morales e Mesa
"Devido ao contexto e as problemáticas evidenciadas nesse processo eleitoral, continuaria sendo uma melhor opção convocar um segundo turno", disse o diretor de Observação Eleitoral da OEA, Gerardo Icaza, ao revelar o relatório preliminar da MOE na Bolívia em uma reunião de emergência do organismo continental em Washington, que também insta a concluir "com celeridade" o escrutínio.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pediu à Bolívia para garantir a segurança, a integridade e as liberdades cidadãs, ao expressar sua "preocupação diante de graves atos de violência".
No domingo à noite, baseando-se em uma contagem eletrônico rápido de votos organizado pelo TSE, Mesa celebrou sua passagem para o segundo turno.
Após esses dados parciais o TSE deteve durante 20 horas a contagem, provocando receio e rechaço na oposição. Também desatou reclamações para respeitar a transparência da votação tanto da MOE como dos Estados Unidos, da União Europeia, da Argentina, do Brasil, da Colômbia e Peru.
Em audiência na comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes, Michael Kozak, subsecretário interino de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, indicou que Washington pediu à Bolívia que "respeite os votos emitidos pelo povo".
"Se não fizerem isso, nós deixamos claro que vão haver sérias consequências em suas relações com a região", acrescentou.
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