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Vida do fundador do WikiLeaks corre perigo, diz especialista da ONU

01/11/2019 16h30

Genebra, 1 Nov 2019 (AFP) - O tratamento dado a Julian Assange, atualmente preso no Reino Unido e ameaçado de extradição para os Estados Unidos por acusações de espionagem, está colocando sua vida em perigo - afirmou nesta sexta-feira (1º) o especialista independente da ONU para temas de tortura, Nils Melzer.

O relator disse estar preocupado "com a contínua deterioração da saúde de Julian Assange desde que ele foi preso e detido no início deste ano" e que "sua vida agora está em perigo".

"A menos que o Reino Unido mude urgentemente de rumo e melhore sua situação humanitária, a exposição contínua de Assange a arbitrariedades e abusos poderá em breve lhe custar a vida", alertou.

Melzer explicou à AFP que sua preocupação está relacionada com "novas informações médicas transmitidas por várias fontes confiáveis, que afirmam que a saúde de Assange entrou em um ciclo vicioso de ansiedade, estresse e impotência, típico das pessoas expostas em um isolamento prolongado e a uma arbitrariedade constante".

"Embora seja difícil prever com certeza a evolução exata destes sintomas, eles podem se transformar rapidamente em uma situação que ponha em risco sua vida, como uma parada cardíaca ou uma crise nervosa", acrescentou.

Acompanhado por vários médicos, Melzer, professor de Direito Internacional, visitou o australiano, fundador do WikiLeaks, em sua prisão em Londres em maio. A visita aconteceu um mês depois de Assange ser preso na embaixada no Equador, onde ele estava refugiado há anos.

Após a visita, Melzer relatou que Assange sofria de "males físicos" e que apresentava "todos os sintomas típicos da exposição prolongada à tortura psicológica, além de ansiedade crônica e intenso trauma psicológico".

Desde então, o especialista não viu Assange novamente, mas tem informações sobre sua saúde.

"Assange continua detido em condições de opressão, isolamento e vigilância", afirmou Melzer.

Em 21 de outubro, o australiano, de 48 anos, pareceu desorientado em Londres em sua primeira aparição pública em seis meses, mostrando-se agitando e aparentemente tendo dificuldades para lembrar sua data de nascimento.

Ao final da audiência, Assange declarou não saber o que tinha acontecido e queixou-se das condições de sua prisão. Ele está no presídio de alta segurança de Belmarsh, em Londres.

Em 2012, Assange, então investigado na Suécia por um caso de estupro, refugiou-se na embaixada equatoriana em Londres para evitar extradição para este país, ou para os Estados Unidos, onde é acusado de espionar e vazar documentos secretos através de sua plataforma on-line WikiLeaks.

Depois de sete anos na sede diplomática, foi expulso pela Polícia britânica em 11 de abril, com o aval de Quito. Foi imediatamente preso e condenado a 50 semanas de prisão em 1º de maio por violar as condições de sua liberdade provisória.

Se Assange fosse extraditado para os Estados Unidos poderia ser condenado a até 175 anos de prisão.

Os Estados Unidos o acusa de espionagem após a publicação em 2010 por WikiLeaks de 250.000 despachos diplomáticos e 500.000 documentos confidenciais sobre suas atividades militares em Iraque e Afeganistão.

No final de maio, a justiça americana adicionou vários crimes à sua acusação, a maioria dos quais se refere a violações das leis contra espionagem, o que suscitou críticas dos defensores da liberdade de imprensa.

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