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Irã retoma atividades nucleares que estavam congeladas

05/11/2019 22h18

Teerã, 6 Nov 2019 (AFP) - O Irã anunciou nesta terça-feira a retomada das atividades de enriquecimento de urânio e uma nova redução dos compromissos assumidos pelo país com a comunidade internacional a respeito de seu programa nuclear.

O país vai reiniciar o enriquecimento de urânio na central de Fordo (180 km ao sul de Teerã), inativa desde a entrada em vigor do acordo de Viena sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015, declarou o presidente Hassan Rohani no discurso de inauguração de uma incubadora de empresas na capital do país.

A medida foi anunciada um dia depois do fim do prazo concedido por Teerã a seus sócios no acordo para ajudar a República Islâmica a evitar as consequências da saída dos Estados Unidos do acordo em 2018.

Com base nos termos do pacto de 2015, o Irã armazena em Fordo 1.044 centrífugas de primeira geração IR-1 inativas.

"A partir de amanhã (quarta-feira, 6), começaremos a injetar gás (urânio em estado gasoso) em Fordo", declarou, em referência ao procedimento utilizado para produzir urânio enriquecido em isótopo 235 a partir destas máquinas.

Esta é a "quarta etapa" do plano de redução de compromissos na área nuclear iniciado em maio, em resposta à saída do governo dos Estados Unidos do a cordo de Viena em 2018, indicou o presidente iraniano.

A porta-voz do Departamento de Estado americano, Morgan Ortagus, denunciou "uma clara tentativa de chantagem nuclear" por Teerã "que apenas aprofundará seu isolamento político e econômico". Washington continuará a "exercer pressão máxima" sobre o regime para negociar um novo acordo, acrescentou.

O Kremlin, que "entende a preocupação de Teerã com as sanções", divulgou que estava muito consciente sobre o "desenvolvimento da situação".

A França, o Reino Unido e a União Europeia (UE) pediram o Irã para revogar a decisão que, segundo Paris, "é contrária ao acordo de Viena".

- "Etapa reversível" -Rohani afirmou que as atividades nucleares em Fordo continuarão sob controle da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), assim como as demais atividades nucleares iranianas.

Com o acordo de Vienna, Teerã aceitou reduzir drasticamente suas atividades nucleares - para garantir seu caráter exclusivamente civil - em troca de uma suspensão parcial das sanções internacionais que asfixiam sua economia.

A retirada dos Estados Unidos e a política de "pressão máxima" do governo do presidente Donald Trump contra Teerã - principalmente com um arsenal de sanções frequentemente prorrogadas - privam o Irã dos benefícios econômicos que esperava obter com o acordo.

A República Islâmica afirma que deseja a sobrevivência do acordo e está disposta a voltar a aplicar completamente seus compromissos, desde que as outras partes (China, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha) respeitem os próprios compromissos, adotando medidas concretas para responder a seus pedidos.

O Irã exige especialmente a possibilidade de exportar seu petróleo, pois as sanções americanas fizeram o país perder quase todos os clientes tradicionais.

As outras partes do acordo consideram que cada redução dos compromissos iranianos dificulta ainda mais a preservação do texto, inicialmente ameaçado pela retirada americana.

"Nosso apoio (ao acordo de Viena) depende de o Irã respeitar plenamente seus compromissos", declarou na segunda-feira a porta-voz de Federica Mogherini, chefe da diplomacia da União Europeia.

A União Europeia (UE) expressou imediatamente sua preocupação com as intenções do Irã.

"Estamos preocupados com o anúncio do presidente [Hasan] Rohani de reduzir os compromissos do Irã", disse a porta-voz da diplomacia europeia Maja Kocijancic em entrevista coletiva.

A Rússia igualmente mencionou a palavra preocupação. "Estamos seguindo o desenvolvimento da situação com preocupação", afirmou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"Apoiamos a preservação do pacto assinado em Viena em 2015 sobre o programa nuclear", completou.

"A quarta etapa, como as três primeiras, é reversível", garantiu Rohani.

- Resistência e diálogo -Teerã segue comprometido com "negociações nos bastidores que mantemos com alguns países para encontrar uma solução", declarou o presidente, em referência aos esforços diplomáticos iniciados pela França para tentar desbloquear a questão.

"Mas o mundo deve saber que a grande nação do Irã é resistente: resiste e negocia ao mesmo tempo", destacou.

"Mantemos aberta a via da negociação e nos próximos dois meses voltaremos a negociar", completou Rohani, que espera uma solução permanente para que o Irã "venda facilmente o petróleo" e tenha acesso ao sistema financeiro internacional.

"Neste caso, voltaremos completamente à situação anterior", resumiu.

Durante as três primeiras etapas de sua resposta à retirada americana, o Irã começou a produzir urânio enriquecido a um nível superior ao limite de 3,67% estabelecido pelo acordo, deixou de respeitar o limite de 300 quilos estabelecido pelo pacto ao armazenamento de urânio pouco enriquecido e ativou a produção de centrífugas avançadas.

Na segunda-feira, a República Islâmica anunciou que aumentou a velocidade de produção de urânio pouco enriquecido durante os últimos dois meses, com a obtenção de 5 kg por dia até agora.

Teerã se limita no momento a produzir urânio enriquecido a 4,5% no máximo, muito abaixo dos 90% necessários para o uso militar.

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