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Mórmons mexicanos, uma comunidade exposta aos narcotraficantes

A família Langford foi assassinada durante massacre em estrada retoma de Sonora - Reuters
A família Langford foi assassinada durante massacre em estrada retoma de Sonora Imagem: Reuters

Da AFP, no México

07/11/2019 16h52

Os mórmons do México, abalados pelo massacre de nove de seus membros, estão profundamente enraizados no norte do país desde o final do século XIX, mas mantêm uma coexistência tensa na região com grupos de narcotraficantes, cuja violência eles condenam sem ambiguidade.

Os pioneiros, filiados à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, estabeleceram-se nas montanhas de Sierra Madre, perto da fronteira com os Estados Unidos, em 1875.

Foi depois da Guerra Civil que as autoridades federais americanas começaram a perseguir os mórmons por sua poligamia, uma prática formalizada pela comunidade em 1852.

Perseguidos pela justiça americana, começaram a fugir do estado de Utah e de outras áreas onde moravam perto da fronteira sul dos Estados Unidos.

O México foi o primeiro país da América Latina onde os mórmons se estabeleceram. Quando a Igreja Mórmon Americana decidiu abolir formalmente a poligamia, muitas famílias continuaram sendo polígamas e surgiram seitas fundamentalistas que mantinham essa prática, mesmo no México, onde existem cerca de 40 delas.

Geralmente se baseiam nos ensinamentos de Joseph Smith, considerado profeta (falecido em 1844), que jurou por todos os santos que a poligamia era uma ordem divina.

A prática permanece comum nas várias comunidades mórmons no México.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias estima que existam 1,2 milhão de seus membros no México, a segunda maior comunidade mórmon depois dos Estados Unidos.

Mas a última pesquisa oficial, encomendada pelo governo mexicano em 2010, mostra um número muito diferente, 314.932 membros.

De acordo com o Conselho da Cidade do México, essa diferença considerável é explicada pelo fato de a maioria dos mórmons mexicanos se recusar a ingressar na Igreja "mãe".

O clã LeBarón, que perdeu seis membros durante o massacre da noite de segunda-feira, pertence à Igreja dos Primogênitos, uma seita dissidente da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias fundada em 1924 em Chihuahua, um estado na fronteira com os Estados Unidos. Esta seita tem cerca de 5.000 seguidores, de acordo com Julián LeBarón, que falou em muitos meios de comunicação locais.

Em 2 de maio de 2009, Erick LeBarón, de 17 anos, foi sequestrado na área de Chihuahua. Seus captores exigiram um resgate de um milhão de dólares, mas encontraram a rejeição obstinada de toda a comunidade. Assim, o jovem acabou sendo libertado uma semana depois.

Os mórmons mexicanos, que geralmente possuem a cidadania americana, são conhecidos nos últimos anos por suas campanhas contra a violência relacionada aos narcotraficantes. Segundo a imprensa mexicana, esse posicionamento causou a ira dos cartéis que operam na região.

Benjamín LeBarón, que fundou a organização Sociedade Organizada Segura (SOS Chihuahua), um dos promotores dessas campanhas, foi assassinado em julho de 2009, ao lado de seu cunhado, Luis Widmar, por 17 homens que invadiram sua casa.

Após este assassinato, em março de 2011, Julián LeBarón se converteu em um dos protagonistas da Caravana pela Paz com Justiça e Dignidade, um movimento de aproximadamente 600 pessoas, próximo a famílias de vítimas desaparecidas ou assassinadas, que percorreu o México para aumentar a conscientização sobre a questão da violência relacionada às drogas.

A família LeBarón rejeitou a hipótese divulgada na quarta-feira pelas autoridades mexicanas de que as vítimas estavam no fogo cruzado de uma batalha entre dois cartéis pelo controle de uma área entre os estados de Sonora e Chihuahua, e acredita que foi alvo direto dos traficantes após receber ameaças explícitas.