Pedro Sánchez e Pablo Iglesias, cinco anos de amor e ódio na esquerda espanhola
Madri, 12 Nov 2019 (AFP) - Os líderes dos dois partidos de esquerda espanhóis, Pedro Sánchez, do PSOE, e Pablo Iglesias, do Podemos, mantêm um período de cinco anos de tumultuado relacionamento que passou de insulto, zombaria e desconfiança a um pré-acordo de coalizão do governo.
A "casta" e o "populismo":Numa Espanha farta de crise e de corrupção, a esquerda radical do Podemos gerou furor ao nascer em 2014 com seu programa anti-austeridade e sua luta contra a "casta" na qual incluía o Partido Popular do então conservador chefe de governo Mariano Rajoy e o PSOE.
Com seu chamativo cabelo comprido preso num rabo de cavalo, Pablo Iglesias atacava os socialistas e seu então novo líder, Pedro Sánchez, classificando-o inclusive de "loser" (perdedor).
Por sua parte, Sánchez definia seu novo rival como "populista" e descartava acordos: "Nem antes nem depois o partido socialista vai pactuar com o populismo (...) O final do populismo é a Venezuela de Chávez".
"O sorriso do destino":Nas eleições legislativas de dezembro de 2015, o Podemos entrou como uma terceira força no Congresso, mas ficou bem próximo de superar o PSOE, que colheu os piores resultados de sua história (agravado posteriormente em 2016).
Iglesias ofereceu um governo de coalizão com ele como vice-presidente de Sánchez, avisando-o de que não estava em posição de estabelecer condições.
"A possibilidade histórica de ser presidente é um sorriso do destino pelo qual ele deve ser grato para sempre", afirmou, zombando.
O líder socialista fecha um acordo com o novo partido liberal Cidadãos. Podemos se opõe, precipitando o fracasso da chapa e novas eleições em junho de 2016, nas quais volta a ficar atrás do PSOE.
O idílio:"Errei ao taxar o Podemos de populistas": é outubro de 2016 e Pedro Sánchez ajusta seu discurso contra a esquerda radical numa entrevista na qual ele também reconheceu pressões para não concordar com elas.
O socialista acaba afastado da liderança de seu partido por conta de uma rebelião interna que queria, ao contrário de Sánchez, facilitar a posse de Rajoy e evitar uma terceira eleição.
Sánchez reconquistou o partido nas primárias e reforçou sua colaboração com o Podemos, com quem se aliou numa moção de censura em junho de 2018 para desbancar Rajoy.
O líder socialista abraçou no Congresso com Iglesias, que foi fundamental para obter apoio suficiente dos partidos de independência catalães.
No Congresso, o líder socialista se uniu a Iglesias, que foi fundamental para conquistar o apoio dos partidos separatistas catalães.
Em fevereiro, a imagem do entendimento seria reeditada com a assinatura dos orçamentos de 2019, que incluíam melhorias sociais significativas, mas foram derrubadas pelos separatistas, levando às eleições de abril.
A insônia:Sánchez vence as eleições e é feito um acordo com o Podemos, a quem o líder socialista havia colocado como "parceiro preferido".
Mas os contatos não fluem: o Podemos exige um governo de coalizão para fazer com que os socialistas cumpram suas promessas e Sanchez vete Iglesias dentro de seu governo.
Em julho, uma negociação precipitada com vazamentos constantes para a imprensa termina na fracassada posse de Sánchez.
"Somos uma formação jovem, mas não vamos nos deixar humilhar", disse Iglesias durante o debate.
Em setembro, já de olho nas novas eleições de novembro, Sánchez explicou numa entrevista por que não queria o ministro do Podemos em seu governo.
"Ele seria um presidente de governo que não iria dormir à noite junto com 95% dos cidadãos deste país que também não se sentiriam tranquilos", declarou.
A pré-coalizão:Sorrisos, apertos de mãos, agradecimentos e um abraço: as divergências pareciam superadas nesta terça-feira (12) quando os dois líderes anunciaram um pré-acordo de coalizão de governo, dois dias após as eleições de domingo marcadas pelo crescimento da extrema-direita.
"É hora de deixar para trás qualquer diferença", disse Iglesias. A ilusão pelo projeto "supera qualquer tipo de divergência que possamos ter nos últimos meses", acrescentou Sánchez.
Com a paz firmada, devem a posse que requer ainda o apoio de outras forças.
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