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ONU pede fim da 'repressão persistente' a opositores na Nicarágua

19/11/2019 21h19

Manágua, 20 Nov 2019 (AFP) - O escritório da Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU exigiu nesta terça-feira (19) ao governo da Nicarágua o fim da "persistente repressão" de opositores, depois que partidários do presidente Daniel Ortega cercaram dois templos onde pessoas em greve de fome exigem a libertação de 139 "presos políticos".

"O governo deve terminar com a persistente repressão da dissidência e as detenções arbitrárias e se abster de criminalizar e atacar os defensores dos direitos humanos, opositores políticos e qualquer outra voz dissidente", disse Ruperto Colville, porta-voz da Alta Comissária, Michelle Bachelet.

Nove pessoas iniciaram uma greve de fome na segunda-feira na Catedral de Manágua, quatro dias depois de outro grupo de 11 mulheres fazerem o mesmo em uma igreja de Masaya, ambos no âmbito de uma campanha pela libertação de uma centena de opositores detidos nas manifestações contra Ortega, que começaram no ano passado.

Mas partidários do governo invadiram violentamente a catedral nicaraguense, depois que forças policiais bloquearam seus arredores, denunciou a arquidiocese de Manágua.

"Grupos violentos afins ao governo entraram e tomaram o controle da Catedral de Manágua. Ao serem repreendidos pelo padre Rodolgo López e a soror Arelis Guzmán, essas pessoas responderam com violência" contra os religiosos, disse a arquidiocese, presidida pelo cardeal Leopoldo Brenes, em um comunicado.

Os nove grevistas que estavam na catedral desde a segunda-feira conseguiram se refugiar em instalações anexas ao prédio, onde passaram a noite com muita "angústia", informou.

Os partidários do governo também romperam os cadeados do campanário e outros locais da catedral, condenou a arquidiocese, que considerou o ocorrido uma "profanação" e pediu ao presidente Ortega que respeite os templos católicos.

José Merlo, porta-voz dos opositores em greve de fome, responsabilizou "o governo pelo que possa acontecer" com os grevistas da catedral, entre os quais estão sete mulheres.

A comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) concluiu nesta terça que o governo de Daniel Ortega tornou "inviável" a democracia na Nicarágua. A comissão foi criada para fazer gestões diplomáticas em busca de uma solução pacífica para a crise política e social no país centro-americano.

"A comissão entende que os mecanismos de controle e subordinação que o governo da Nicarágua vem desenvolvendo com os demais poderes do Estado, inclusive os poderes Legislativo, Judiciário e o Conselho Supremo Eleitoral, entre outros, tornam inviável o funcionamento democrático do país, transformando-o em um Estado cooptado e incompatível com o Estado de direito", conclui a Comissão de Alto Nível da OEA sobre a Nicarágua.

- Uma nova campanha de protestos -A igreja San Miguel de Masaya continua cercada pela polícia, que impede o acesso aonde estão os grevistas, e com os serviços de água e luz cortados.

Ali, duas mulheres apresentaram nesta terça-feira sinais de fraqueza após seis dias sem comer e a Cruz Vermelha Internacional tenta obter permissões com o governo para auxiliar os grevistas, disse Merlo.

Os incidentes ocorreram depois de a opositora Unidade Nacional Azul e Branco (UNAB), que reúne 92 grupos opositores, anunciar novas ações de pressão contra o governo no âmbito da campanha "Natal sem presos políticos".

A oposição prevê realizar protestos rápidos, manifestações, greves de fome simultâneas e uma paralisação nacional em coordenação com a empresa privada para pressionar pela libertação de 139 detidos por participar em protestos contra o governo de Daniel Ortega.

O governo atribuiu os protestos a uma tentativa frustrada de golpe de Estado e Ortega acusa os bispos católicos de "golpistas" por apoiar os manifestantes feridos durante as revoltas, que querem a saída do presidente, que governa desde 2007 sob acusações de corrupção e nepotismo.

A repressão estatal deixou pelo menos 325 mortos e cerca de 70.000 exilados, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que condenou a violência na Nicarágua.

Segundo a dissidência sandinista, pelo menos 16 igrejas foram cercadas pela polícia e as tropas de choque nos últimos dias para impedir que a população use seus espaços para protestar.

Na segunda-feira, um juiz decretou prisão preventiva e admitiu a acusação por crimes relacionados com posse de armas de fogo contra a líder estudantil de origem belga Amaya Coppens e outros 15 opositores, que tentaram ajudar com água as mulheres em jejum em Masaya.

A Polícia argumentou que os opositores levaram artefatos explosivos e armas e os acusou de pretender cometer "atos terroristas".

"Estamos muito preocupados que estas acusações, aparentemente inventadas e que constituem uma nova tentativa de sufocar a dissidência", declarou o escritório da Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU.

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