Aiatolá Sistani se distancia de novo gabinete iraquiano
Bagdá, 6 dez 2019 (AFP) - O grande aiatolá Ali Sistani se recusou, nesta sexta-feira, a ser associado ao futuro primeiro-ministro do Iraque, onde os partidos negociam a nomeação sob influência iraniana no momento em que os manifestantes seguem mobilizados.
O aiatolá de 89 anos, o principal líder religioso xiita do Iraque, provocou a queda de todos os primeiros-ministros desde a derrubada do ditador Saddam Hussein após a invasão do país pelos Estados Unidos em 2003.
Na semana passada foi sua pregação que precipitou a queda do governo de Adel Abdel Mahdi, um ano depois de assumir o cargo.
Mas desta vez, alertou Sistani, não desempenhará "nenhum papel" e não fará parte das negociações, conduzidas por emissários de Teerã: o general iraniano Qassem Soleimani e o dignitário xiita encarregado do dossiê iraquiano no Hezbollah libanês, Mohammed Kaoutharani.
"A nomeação do primeiro-ministro deve acontecer longe de interferências estrangeiras", ressaltou seu representante em Kerbala. Como toda sexta-feira, ele leu o sermão do grande aiatolá que nunca aparece em público nesta cidade sagrada xiita ao sul de Bagdá.
Os manifestantes são categóricos a este respeito: não reconhecerão qualquer pessoa que seja nomeada para chefiar um governo que ainda não foi totalmente renovado. Querem uma nova Constituição e uma nova classe política, depois que a atual, no poder há 16 anos, roubou o equivalente a duas vezes o PIB do país.
- Disputa pelo espaço público -A Praça Tahrir, epicentro em Bagdá da contestação, voltará a ser o centro das atenções.
Na quinta-feira, foi invadida por milhares de apoiadores do Hachd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Irã e agora integrada ao Estado iraquiano.
Uma demonstração de força que não causou nenhum incidente entre dois campos completamente opostos: apoiadores de um Irã todo-poderoso e manifestantes que denunciam a interferência iraniana.
Os manifestantes questionam as intenções dos pró-Hachd, alguns temendo que eles voltem para "limpar" o local e "encerrar" o movimento.
Para os especialistas, eles buscam reduzir o espaço público para os manifestantes.
Desde o início da semana, dois manifestantes em Tahrir foram sequestrados, enquanto outros foram vítimas de intimidação, atos contra os quais o Estado garante não poder fazer nada.
Na quinta-feira, o pai de Zahra Ali, de 19 anos, disse à AFP que havia encontrado o corpo sem vida e torturado de sua filha, que distribuía refeições em Tahrir.
E nesta sexta-feira, parentes de Zeid al-Khafaji, um jovem fotógrafo de Tahrir, disseram que ele foi sequestrado em frente a sua casa ao amanhecer.
Dezenas de ativistas foram detidos por homens armados e uniformizados que o Estado afirma não conseguir identificar.
Apesar das ameaças, milhares de iraquianos voltaram às ruas nesta sexta-feira no sul do Iraque.
Desde 1º de outubro, quase 430 pessoas morreram, a maioria manifestantes, e cerca de 20.000 ficaram feridas, segundo um relatório compilado pela AFP de fontes médicas e policiais.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.