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Eventos que marcaram 2019

06/12/2019 12h12

Paris, 6 dez 2019 (AFP) - Dos movimentos de protesto que varreram países ao redor do mundo, à guerra comercial entre Estados Unidos e China, passando pelo processo de impeachment contra Donald Trump, aqui estão os principais eventos que marcaram 2019:

- Protestos -Na Argélia, a decisão do presidente Abdelaziz Bouteflika de concorrer a um quinto mandato provocou uma onda maciça de manifestações pacíficas em 22 de fevereiro.

Bouteflika renunciou em 2 de abril sob pressão das ruas e do Exército, mas os manifestantes continuaram a exigir uma revisão de todo establishment político que existe desde a independência em 1962.

A oposição rejeitou as eleições sob o governo atual, convocadas para 12 de dezembro.

O líder do Sudão, Omar al-Bashir, foi o próximo a ser derrubado pelos militares em 11 de abril. Ele deixou o governo após 30 anos no poder e depois de quatro meses de manifestações contínuas provocadas pelo aumento do preço do pão, que ficou três vezes mais caro.

Após prolongadas negociações, foi estabelecido em agosto um conselho de governo composto por civis e por militares, encarregado de supervisionar a transição para o regime civil.

As manifestações em massa que eclodiram no Iraque em 1º de outubro contra o desemprego, a corrupção e os precários serviços públicos deflagraram uma grave crise política. Mais de 330 pessoas foram mortas, e quase 15.000 ficaram feridas, manifestantes em sua maioria.

No Líbano, o governo anunciou, em 17 de outubro, a cobrança de tarifa nas ligações feitas via aplicativos de mensagem, como o WhatsApp. A medida foi rapidamente descartada, mas isso não evitou que milhares de pessoas fossem às ruas.

Estes protestos sem precedentes levaram o primeiro-ministro Saad Hairi a renunciar. Agora, a população se volta contra a classe política em geral, considerada corrupta e incapaz de acabar com a crise econômica.

O Irã, que exerce considerável influência nesses dois países, também tem sido palco de conflitos desde 15 de novembro. Neste caso, as revoltas foram deflagradas pelo aumento do preço da gasolina.

- Escalada com o Irã -Em maio, o Irã começou a suspender compromissos assumidos no acordo nuclear de 2015 com potências mundiais. A medida surgiu em resposta à decisão dos EUA em 2018 de sair do pacto e restabelecer as sanções contra Teerã, sufocando sua economia.

Em paralelo, as tensões entre Washington e Teerã aumentaram, depois de atos de sabotagem e de ataques a navios no Golfo. Estes incidentes foram atribuídos ao Irã, que nega qualquer envolvimento.

Em junho, Washington e Teerã chegaram perto de um confronto militar, depois que a Guarda Revolucionária do Irã derrubou um drone dos EUA.

Em 14 de setembro, uma onda de ataques aéreos às principais instalações petrolíferas sauditas foi reivindicada pelos rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, no Iêmen. Teerã é acusada pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita de ser responsável.

- Abandono dos EUA -Em agosto, os Estados Unidos abandonaram oficialmente o Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês) do período da Guerra Fria, firmado entre Washington e Moscou. Sob sua política "America First" (América Primeiro), o presidente Donald Trump iniciou um processo de afastamento do cenário multilateral, entrando em conflitos comerciais com a China e com a União Europeia e se retirando oficialmente do Acordo de Paris sobre o Clima, de 2015.

- Impeachment -Controlada pelo Partido Democrata, a Câmara de Representantes lançou em 24 de setembro um processo de impeachment contra Trump por suspeita de pedir à Ucrânia que investigasse seu potencial rival nas eleições de 2020, o democrata Joe Biden.

As audiências públicas começaram em 13 de novembro, um ano antes da eleição presidencial, na qual Trump busca um segundo mandato.

- Síria: Ofensiva turca -Em 9 de outubro, a Turquia lançou uma ofensiva contra as forças curdas no norte da Síria. As milícias das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG) têm sido os principais aliados do Ocidente na luta contra os extremistas. Elas são consideradas "terroristas" por Ancara, devido às suas ligações com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

A Turquia se moveu dois dias após a retirada das tropas americanas por Trump no norte da Síria. Vários países manifestaram sua preocupação com os civis nas áreas de alvo, e os combates provocaram temores de que os extremistas detidos pelos curdos pudessem escapar.

Ancara quer estabelecer uma "zona de segurança" no lado sírio da fronteira, para onde a Turquia poderia enviar de volta alguns dos dois milhões de refugiados que abriga por conta da guerra civil da Síria. A ofensiva foi encerrada em 23 de outubro, após acordos negociados em separado com Estados Unidos e Rússia.

- Chefe do Estado Islâmico é morto -Em 27 de outubro, Trump anunciou que o líder do grupo Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, foi morto em um ataque das forças especiais dos EUA no noroeste da Síria.

Considerado culpado por inúmeros abusos e atrocidades durante um reinado de terror de cinco anos em grande parte do Iraque e na Síria, além de ataques sangrentos, Baghdadi se explodiu com um cinturão de explosivos na localidade onde estava escondido no norte da Síria.

O grupo jihadista foi derrotado no final de março por uma ofensiva liderada pelas forças curdas, apoiada pela coalizão internacional liderada pelos EUA. Conseguiu, então, retomar seu último reduto no leste da Síria, encerrando o autodeclarado "califado" do EI.

Desde então, os combatentes do Estado Islâmico atuam às escondidas e instalaram células adormecidas na Síria.

- Alerta climático -Em junho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que a disrupção climática está progredindo ainda mais rápido do que os melhores cientistas do mundo haviam previsto, e que "toda a semana traz novas devastações relacionadas ao clima: inundações, secas, ondas de calor, incêndios e grandes tempestades...".

Julho foi o mês mais quente já registrado para o planeta, com temperaturas recordes na Europa e no Polo Norte. Em agosto, a Islândia perdeu sua primeira geleira, Okjokull, devido às mudanças climáticas, e os cientistas alertaram que outras 400 na ilha correm o mesmo risco.

Em agosto e setembro, incêndios devastaram áreas da Amazônia, devido ao desmatamento, provocando protestos e críticas globais ao presidente Jair Bolsonaro. Em novembro, a Austrália enfrentou incêndios sem precedentes.

A jovem ativista sueca Greta Thunberg, que faz campanha contra a falta de ação política em relação às mudanças climáticas, reuniu milhões ao seu movimento "Fridays for Future" (Sextas-feiras pelo Futuro).

- Coletes Amarelos da França -O movimento sem precedentes "Coletes Amarelos" da França, que protesta desde novembro de 2018 contra as políticas sociais e fiscais do governo do presidente Emmanuel Macron, levou milhares de franceses às ruas.

Ocasionalmente, as manifestações geraram confrontos e tumultos, inclusive na Avenida Champs-Élysées, em Paris. Onze pessoas morreram e milhares ficaram feridas às margens do movimento, que perdeu força com o passar dos meses.

- Incêndio em Notre-Dame -Em 15 de abril, o telhado e a estrutura da catedral de Notre-Dame, em Paris, foram devastados por um incêndio. Os bombeiros conseguiram salvar o edifício de estilo gótico, e uma corrente humana resgatou a grande maioria de seus artefatos mais sagrados e itens valiosos.

O incêndio em um dos monumentos mais visitados da Europa gerou uma manifestação de emoção global. Foram arrecadados cerca de 922 milhões de euros em doações, em meio às promessas para sua reconstrução, que deve levar anos.

- Manifestações em Hong Kong -Desde junho, Hong Kong tem sido palco de manifestações quase diárias e cada vez mais violentas contra o que é visto como uma crescente interferência de Pequim, assim como para exigir reformas democráticas. A crise, a pior desde a transferência em 1997 da antiga colônia britânica para a China, explodiu em resposta a um projeto de lei local, segundo o qual as extradições seriam permitidas pela primeira vez na China.

A China também está envolvida em uma guerra comercial implacável com os Estados Unidos, o que freou fortemente seu crescimento.

- Protestos varrem América Latina -Na Venezuela, o líder da oposição, Juan Guaidó, declarou-se presidente interino em janeiro, em uma tentativa de destituir Nicolás Maduro. A reeleição do herdeiro de Hugo Chávez é contestada neste país à beira de uma crise econômica e migratória.

Mais de 50 países reconheceram Guaidó como presidente interino, incluindo os Estados Unidos. Apoiado pelo Exército, Maduro permanece no posto.

No Haiti, dezenas de pessoas foram mortas desde meados de setembro em manifestações pela renúncia do presidente Jovenel Moise. A falta de combustível funcionou como gatilho dos protestos.

Em outubro, o Equador ficou paralisado por quase duas semanas após o abandono dos subsídios aos combustíveis. O governo acabou recuando.

No Chile, em meados de novembro, o Parlamento decidiu organizar um referendo para revisar a Constituição herdada da ditadura de Pinochet. A decisão foi tomada após quase um mês de protestos violentos contra as desigualdades socioeconômicas que deixaram 22 mortos e mais de 2.000 feridos.

A Bolívia também viveu três semanas de protestos que deixaram vários mortos, após a disputada reeleição do presidente Evo Morales em 20 de outubro. Abandonado pela Polícia e pelo Exército, Morales renunciou e foi para o exílio no México. A senadora de direita Jeanine Áñez se proclamou presidente interina, sem que o quórum mínimo necessário tivesse sido alcançado. Morales denunciou um "golpe".

- Brexit adiado, eleições antecipadas -A saída do Reino Unido da União Europeia, decidida pelos britânicos em um referendo de 2016 e inicialmente prevista para 29 de março de 2019, foi adiada três vezes. O último prazo éo 31 de janeiro de 2020.

O Parlamento britânico não conseguiu chegar a um acordo sobre os termos do divórcio, rejeitando o texto firmado com o bloco pela então primeira-ministra Theresa May. Também foi recusado um segundo texto negociado por seu sucessor, Boris Johnson, que convocou eleições gerais antecipadas para 12 de dezembro.

- Boeing aterrada após dois acidentes - Em março, os aviões 737 MAX da gigante aeroespacial americana Boeing foram aterrados em todo mundo após os acidentes dos voos da Lion Air e da Ethiopian Airlines. Ambas as tragédias deixaram 346 mortos. Os mecanismos "anti-stall" das aeronaves foram responsabilizados.

A crise já custou à Boeing cerca de 10 bilhões de dólares e levou à abertura de inúmeras investigações por parte das autoridades americanas, assim como a ações judiciais pelas famílias das vítimas.

- Gigantes da Internet desafiados -Nos Estados Unidos e Europa, os gigantes da Internet Google, Apple, Facebook e Amazon, criticados pela proteção de dados e posições dominantes no mercado de publicidade, busca on-line e comércio eletrônico, são alvo de investigações, de ameaças de desmantelamento e de multas. O Facebook teve de pagar, sozinho, 5 bilhões de dólares nos Estados Unidos.

- Imagem do buraco negro -Em abril, uma equipe internacional de astrônomos divulgou a primeira fotografia de um buraco negro e sua auréola de fogo na galáxia M87, a cerca de 50 milhões de anos-luz da Terra.

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