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Conservadores de Boris Johnson têm vitória esmagadora nas eleições britânicas

Boris Johnson escreveu que mulheres de burca lembram assaltantes de banco e caixas de correio - AFP
Boris Johnson escreveu que mulheres de burca lembram assaltantes de banco e caixas de correio Imagem: AFP

13/12/2019 01h18

O Partido Conservador, do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, obteve uma folgada maioria nas eleições legislativas de quinta-feira, segundo pesquisa de boca de urna publicada nos principais jornais do país, o que vai permitir que ele cumpra a promessa de tirar o Reino Unido da União Europeia no fim de janeiro.

"Obrigado a todos os que votaram em nosso grande país, participaram como voluntários, se apresentaram como candidatos. Vivemos na maior democracia do mundo", tuitou o premiê, eufórico.

O ex-prefeito de Londres comemorou "um novo mandato forte para realizar o Brexit (...), unir o país e levá-lo adiante".

Johnson foi reeleito deputado pela circunscrição de Uxbridge and South Ruislip, em Londres.

No poder desde julho, mas em minoria no Parlamento, o carismático e controverso Johnson apostou na convocação de eleições antecipadas em dezembro, um mês escuro e frio, pouco propício para levar os britânicos às urnas.

Foi uma aposta arriscada, que ele venceu.

De acordo com pesquisa de boca de urna do instituto Ipsos/MORI para BBC e Sky News, os conservadores obtiveram 368 cadeiras do total de 650 na Câmara dos Deputados, 50 a mais que em 2017.

Já a principal força da oposição, o Partido Trabalhista de Jeremy Corby, sofreu uma dura derrota, ficando limitado a 191 deputados, 71 a menos que em 2017. Os separatistas escoceses do SNP estariam em terceiro lugar, com 55 assentos (+20) e os centristas do Partido Liberal-democrata, muito atrás, com 13 deputados.

Corbyn se declarou "muito decepcionado" com o resultado e anunciou que não liderará os trabalhistas nas próximas eleições.

Após o anúncio de sua reeleição como deputado pela circunscrição de Islington Norte, em Londres, Corbyn declarou que seu partido empreenderá "uma reflexão sobre o resultado destas eleições".

Já a líder do Partido Liberal Democrata, a escocesa pró-UE Jo Swinson, perdeu sua cadeira para a candidata do separatista Partido Nacionalista Escocês (SNP).

Swinson baseou sua campanha na revogação do Brexit.

- Brexit em 31 de janeiro -Os especialistas coincidem em que, por mais que o resultado final seja divergente, a vitória dos conservadores está garantida.

"Isto significa que o Brexit será realizado em 31 de janeiro", destacou Tony Travers, especialistas em políticas públicas na London School of Economics.

Decidido por referendo em 2016, com 52% dos votos, o Brexit, era inicialmente previsto para março de 2019.

Mas o repúdio reiterado de um Parlamento fragmentado às sucessivas versões do acordo de divórcio negociado com Bruxelas obrigou adiá-lo três vezes, a última apesar de Johnson afirmar que preferia estar "morto em uma vala".

Há mais de três anos, o tema monopoliza a vida política britânica e divide profundamente a sociedade.

Agora, Johnson poderá apresentar na próxima semana seu acordo de Brexit ao novo Parlamento, sob a forma de um projeto de lei que o traduza para a legislação britânica, embora não deva ser aprovado até janeiro.

Para entrar em vigor, o texto também deve ser ratificado pelo Parlamento Europeu em nome dos outros 27 países-membros, cujos líderes, reunidos na quinta-feira em uma cúpula em Bruxelas, já respiram aliviados pela certeza de que esta maioria dá ao processo.

- Revés para os trabalhistas -A confirmação do resultado da consulta seria "extremamente decepcionante", admitiu o número dois do Partido Trabalhista, John McDonnell.

"Deve-se, em grande parte, à fadiga do Brexit. O povo quer acabar com isso", considerou.

Após manter por muito tempo uma ambiguidade sobre o Brexit, Corbyn tinha prometido que se chegasse ao poder negociaria um novo acordo com Bruxelas que mantivesse estreitas relações e o submeteria a referendo, junto com a possibilidade de permanecer dentro do bloco.

Uma estratégia que parece ter decepcionado muitas circunscrições do norte da Inglaterra, redutos trabalhistas tradicionais, conhecidos como "muro vermelho", mas que em 2016 votaram para pôr um fim a mais de 45 anos de pertencimento à UE.

"os conservadores arrebataram assentos que tradicionalmente eram dos trabalhistas, mas votaram no Brexit", destacou Travers.

"A pergunta agora não é se Jeremy Corbyn pode sobreviver como líder, mas quem o sucederá", acrescentou Sara Hobolt, especialista em instituições europeias na London School of Economics.

- As eleições "mais importantes" -Durante todo o dia, os britânicos suportaram a chuva e neve para participar destas que foram definidas como "as eleições mais importantes em uma geração".

E muitos o fizeram acompanhados de seus animais de estimação.

Com a hashtag "#DogsAtPollingStations" ("Cães nas seções eleitorais), dezenas de milhares publicaram nas redes sociais imagens de seções de votação com seus bichos, alguns vestidos com roupinhas natalinas para protegê-los do frio.

"A dúvida me acompanhou até o último momento. Por fim, votei no menos pior", disse à AFP Tippy Watson, 53 anos, mas sem dizer para quem deu seu voto.

O agente imobiliário Colin Anderson, de 41 anos, lamentou que temas importantes como "o meio ambiente e a economia tenham ficado de lado" nesta eleição dominada pelo Brexit.

- Reação -A França cumprimentou Boris Johnson por sua convincente vitória, que permitirá uma folgada maioria e o desbloqueio do processo do Brexit.

"Acredito que estas eleições, caso os resultados sejam confirmados, permitirão uma maioria clara, algo que faltava no Reino Unido há anos", disse a ministra francesa de Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin.