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China condena pastor protestante à prisão por "incitar a subversão"

30/12/2019 09h02

Pequim, 30 dez 2019 (AFP) - Um pastor protestante crítico do governo foi condenado nesta segunda-feira na China a nove anos de prisão por "incitar a subversão", uma pena que coincide com as ações de Pequim para reforçar seu controle sobre as religiões.

Esta é uma das sanções mais duras pronunciadas nos últimos anos pelo regime comunista contra um líder religioso por este motivo, frequentemente usado contra opositores políticos.

O pastor Wang Yi foi detido em dezembro de 2018 ao lado de vários fiéis da Igreja da Aliança da Chuva de Outono, uma congregação clandestina na cidade da Chengdu (sudoeste).

A justiça também o considerou culpado de "atividades comerciais clandestinas", anunciou o tribunal popular intermediário de Chengdu em um comunicado.

A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) afirmou que a congregação é uma das maiores igrejas clandestinas da China e que os membros frequentemente se reúnem em suas casas.

O pastor Wang era conhecido por suas críticas ao poder chinês.

"O partido pode prosperar durante um certo tempo, mas isto não pode durar eternamente", escreveu na página do Facebook de sua igreja em 8 de dezembro de 2018, antes de ser detido.

No texto, ele critica o controle político da religião e comenta sobre a "desobediência não violenta".

De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, mais de 100 fiéis foram detidos ao mesmo tempo que o pastor. A congregação teria quase 500 membros.

A condenação acontece pouco depois da mensagem divulgada no fim de novembro por uma autoridade chinesa a favor de "reinterpretar as doutrinas e as regras religiosas de acordo com o desenvolvimento social".

Pequim adotando há alguns anos uma política de "sinização" das religiões, considerada uma adaptação das mesmas aos objetivos do poder comunista.

Os textos sagrados como a Bíblia ou o Alcorão parecem estar no alvo das autoridades.

"Temos que fazer uma avaliação exaustiva das traduções existentes dos clássicos religiosos", declarou Wang Yang, antes de instar os líderes religiosos a "corrigir e traduzir o que é necessário".

O regime comunista com frequência condena os opositores políticos durante as festas de fim de ano, aproveitando que os países ocidentais estão menos atentos.

A China do presidente Xi Jinping intensificou nos últimos anos o controle de todas as religiões, o que provocou a destruição de igrejas e o fechamento de escolas religiosas.

Nas regiões de população muçulmana, os símbolos religiosos foram retirados das áreas públicas.

Em Xinjiang, noroeste do país, os uigures e outras minorias étnicas são castigados se usam barba ou burca, ou até mesmo caso possuam um exemplar do Alcorão, segundo organizações de defesa das liberdades.

A China tem religiões oficiais - fiéis ao Partido Comunista - e clandestinas.

No que diz respeito à Igreja Católica, o Vaticano iniciou no ano passado uma aproximação com Pequim, que levou o papa a reconhecer os bispos nomeados pelo governo chinês sem o seu aval.

Patrick Poon, da Anistia Internacional, afirma que a condenação do pastor Wang Yi é "um balde de água fria para as outras religiões clandestinas da China".

"A mensagem é muito clara: serão os próximos na lista se não respeitarem a linha do partido em termos de religião", declarou à AFP.

Outros pastores protestantes já foram condenados a penas muito pesadas, principalmente em 2016 em Zhejiang (leste), onde um casal foi condenado a 14 e 12 anos de prisão, embora tenham sido oficialmente processados por fraude e não por subversão.