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Com assassinato de oficial, Washington coloca Arábia Saudita na mira do Irã

07/01/2020 12h34

Riade, 7 Jan 2020 (AFP) - Ao assassinar um oficial iraniano, os Estados Unidos expuseram seu aliado saudita a represálias de Teerã, no momento em que Riade tenta acalmar a crise regional após meses de alta tensão - avaliaram analistas ouvidos pela AFP.

Segundo autoridades americanas, a Arábia Saudita enfrenta um risco de ataques com drones e mísseis após o assassinato na sexta-feira em Bagdá do poderoso general iraniano Qassem Soleimani, arquiteto da estratégia da República Islâmica no Oriente Médio.

Ordenado pelo presidente americano, Donald Trump, o assassinato provocou temores de uma conflagração regional, com Teerã ameaçando vingar a morte de Soleimani, chefe da Força Al-Quds, unidade de elite encarregada das operações externas da Guarda Revolucionária (o exército ideológico do Irã).

Nesse contexto, Riade tentou se distanciar de Washington.

Uma autoridade saudita disse à AFP que seu país "não foi consultado" antes do ataque americano, enquanto seu ministro das Relações Exteriores, Fayçal bin Farhan, descreveu a situação como "muito perigosa".

Os jornais sauditas tentaram culpar Doha, alegando que o drone que abateu o general Soleimani decolou de uma base americana no Catar, ocultando o fato de que o próprio reino hospeda tropas americanas.

Uma delegação saudita liderada pelo príncipe Khaled bin Salman, vice-ministro da Defesa, chegou a Washington na segunda-feira para pedir uma desescalada, depois que o rei Salman solicitou medidas urgentes para "amenizar" as tensões.

"É bastante claro que os sauditas não estão felizes com essa crise, mesmo que devam estar felizes com o assassinato de Soleimani", disse à AFP Hussein Ibish, do Arab Gulf Institute, com sede em Washington.

"Eles sabem que ficarão no fogo cruzado se uma guerra começar", acrescentou.

- "Ataques assimétricos" -Nos últimos meses, a Arábia Saudita e seu inimigo jurado, o Irã, iniciaram contatos sob mediação do Iraque para amenizar as tensões que quase degeneraram em confronto.

O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, disse no domingo que se encontraria com o general Soleimani no dia de seu assassinato, explicando que o oficial iraniano levaria a resposta de Teerã a uma mensagem anterior da Arábia Saudita.

Analistas temiam que os líderes sauditas, frustrados com a política do ex-presidente Barack Obama considerada conciliatória com o Irã, fossem arrastados pelo governo Trump para outro conflito no Oriente Médio.

Riade parece ter mudado de atitude, porém, após os ataques contra suas instalações de petróleo, que foram atribuídos ao Irã.

A resposta morna de Washington aos atentados de 14 de setembro confirmou o medo do reino de não poder contar com seu aliado mais próximo em caso de conflito regional, segundo especialistas.

"O incidente demonstrou a incapacidade deste país de proteger sua infraestrutura contra ataques assimétricos", disse Kristian Ulrichsen, do Instituto Baker da Universidade Rice, nos Estados Unidos.

"Os sauditas e seus aliados dos Emirados Árabes Unidos, que preparam eventos internacionais - a cúpula do G20, em Riade, e a Exposição Mundial de 2020, em Dubai - procuram desesperadamente evitar qualquer escalada", completou.

Riade também tenta se livrar de outras crises regionais e anunciou um canal de diálogo com os rebeldes pró-iranianos huthis no Iêmen.

Também está em negociações com o Catar sobre maneiras de aliviar o bloqueio que impõe a este país, junto com seus aliados, desde junho de 2017.

"O assassinato de Soleimani (...) ameaça acabar com esse progresso", disse à AFP o vice-presidente do Arab Gulf States Institute, Stephen Seche.

Segundo ele, os líderes huthis mais próximos de Teerã ficariam tentados a "atacar profundamente a Arábia Saudita, o que faria fracassar a iniciativa de paz em curso".

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