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Irã diz que avião ucraniano caiu ao voltar a aeroporto devido a um 'problema'

09/01/2020 10h57

Teerã, 9 Jan 2020 (AFP) - O Boeing 737 da companhia Ukraine International Airlines que caiu na quarta-feira (8) em Teerã, matando as 176 pessoas a bordo, fez meia-volta para retornar ao aeroporto devido a um "problema" - afirmou a Organização da Aviação Civil (CAO) iraniana nesta quinta-feira (9).

Na Ucrânia, o presidente Volodimir Zelensky decreteu dia de luto nacional e afirmou que "a prioridade é estabelecer as causas desta catástrofe".

O governo enviou 45 especialistas a Teerã para ajudar na investigação.

"O avião desapareceu dos radares no momento em que atingiu uma altitude de 2.400 metros. O piloto não transmitiu nenhuma mensagem de rádio sobre circunstâncias incomuns", informou a CAO no primeiro relatório da investigação preliminar do acidente.

"De acordo com testemunhas oculares, houve um incêndio no avião que se tornou mais intenso", acrescentou o relatório publicado no site da CAO.

As testemunhas oculares citadas seriam pessoas em terra que observavam o avião decolar e outras que estavam em um avião que voava a uma altitude mais alta do que o Boeing no momento da tragédia.

"O avião que se dirigia, a princípio, para o oeste para sair da zona do aeroporto virou à direita, devido a um problema, e estava voltando para o aeroporto quando caiu", relatou a CAO.

O voo PS752 da UIA decolou às 6h10 (23h40 de terça-feira no horário de Brasília) do aeroporto Imam Khomeiny, de Teerã, com destino ao aeroporto Boryspil, de Kiev.

A CAO informou que realizou nesta quinta uma primeira reunião entre especialistas iranianos e ucranianos.

Segundo Zelensky, os especialistas do seu país vão participar na decodificação das caixas-pretas e ficarão encarregados de identificar e repatriar as vítimas ucranianas.

As autoridades de Kiev anunciaram que trabalham com sete hipóteses, entre elas a de um disparo de míssil, atentado ou problema técnico.

Segundo a diplomacia ucraniana, havia 82 iranianos, 63 canadenses, dez suecos, quatro afegãos e três britânicos a bordo do Boeing. Outros 11 eram ucranianos, incluindo nove tripulantes.

A CAO indicou que 146 passageiros tinham passaporte iraniano; 10, passaporte afegão; cinco, passaporte canadense; quatro, sueco; e 11, ucraniano.

A diferença é explicada pela presença de inúmeras pessoas com dupla nacionalidade (entre elas, a priori, 140 iraniano-canadenses), que podem entrar e sair da República Islâmica apenas mediante a apresentação de seu passaporte iraniano.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, pediu uma "investigação completa" dessa catástrofe aérea, a mais mortal para os canadenses desde o ataque a um Boeing 747 da Air India em 1985. Neste episódio, 268 cidadãos morreram.

Como anfitrião de uma grande diáspora iraniana, o Canadá rompeu relações diplomáticas com o Irã em 2012 e censurou a República Islâmica por seu apoio ao governo de Bashar Al-Assad na Síria.

Nesta quinta, porém, o chanceler iraniano Mohamad Javad Zarif conversou por telefone com o seu colega canadense Philippe Champagne.

Já os Estados Unidos pediram "cooperação total com todas as investigações sobre as causas" (do acidente).

Teerã se recusa a entregar as caixas-pretas da aeronave à fabricante americana Boeing. A OAC anunciou, porém, que as mesmas, recuperadas já na quarta-feira, serão enviadas "para o exterior".

Apenas alguns países, incluindo Estados Unidos, Alemanha e França, têm capacidade técnica para analisar caixas-pretas.

A catástrofe do 737 da UIA ocorreu em meio a graves tensões entre Irã e Estados Unidos, e logo após o lançamento de mísseis por parte de Teerã contra bases usadas pelos militares americanos no Iraque, em resposta ao assassinato de um importante general iraniano em Bagdá.

Nada indica, contudo, que esses eventos estejam relacionados. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, alertou contra todas as "especulações" sobre a tragédia.

Este é o primeiro acidente fatal da UIA, uma empresa que pertence, em parte, ao oligarca Igor Kolomoiski, conhecido como próximo ao presidente Zelenski.

Afetada por um escândalo em torno de seu 737 MAX, a Boeing disse que está "disposta a ajudar por todos os meios necessários".

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